Elegância e discrição: como é a escolha dos looks de Fernanda Torres para os eventos de ‘Ainda Estou Aqui’


Junto com o stylist Antônio Frajado, atriz optou por adotar a tendência method dressing, que é quando as estrelas usam seus looks para promover os trabalhos cinematográficos. Fernanda Torres adota tendência method dressing em premiações
Fernanda Torres conquistou um feito inédito e se tornou a primeira brasileira a levar prêmio de Melhor Atriz em filme de drama no Globo de Ouro por seu trabalho em “Ainda estou aqui”.
Para a premiação, Fernanda usou um vestido de alta costura do estilista belga Olivier Theyskens. A peça toda preta, que tinha um enorme decote nas costas, recebeu alguns ajustes pra Fernanda e, de quebra, colocou a atriz também na lista das estrelas mais bem vestidas do Globo de Ouro, segundo a revista americana de moda W Magazine.
O vestido elegantérrimo não foi escolhido à toa. O tom sóbrio seguia a escolha de Fernanda e de seu stylist, Antonio Frajado, de respeitar a história da Eunice Paiva, personagem que a atriz interpretou no filme. Eunice era casada com Rubens Paiva e viu o marido desaparecer durante a Ditadura Militar. Depois disso, ela iniciou uma busca por seu paradeiro e uma luta pela reparação.
Desde o festival de Veneza, quando “Ainda estou aqui” foi lançado e premiado, os dois concordaram que Eunice era a peça mais importante na hora de decidir os looks. Para eles, nenhuma opção de roupa poderia ser maior do que a história dela, do filme ou até mesmo do livro que deu origem ao longa e foi escrito por Marcelo Rubens Paiva.
“A roupa não pode de nenhuma forma ter excesso. Os excessos estão proibidos, eles não são necessários, não cabem. Porque é um filme que trata de uma tragédia ocorrida no país, uma tragédia que quase que caiu num esquecimento”, afirma Antonio em entrevista ao g1.
Fernanda Torres na 82ª edição do Globo de Ouro em Beverly Hills, na Califórnia (EUA)
Amy Sussman/Getty Images/AFP
“E temos a personagem de Eunice também, uma advogada, ativista indígena, uma mulher que sofreu um terror na vida dela de uma hora para outra. É uma história muito densa e a Eunice é uma entidade. Ela é um personagem com muitas camadas e que a Nanda sempre quis respeitar muito, então ela me deu esse direcional lá no início.”
Desde o começo da divulgação do longa, Antonio e Fernanda optaram por combinações sóbrias, quase todas em preto, mas sem perder a elegância.
“O que não pode faltar é a discrição, é a elegância, e essa elegância que a própria personagem traz também que é muito pareada com elegância da própria Fernanda”, afirma o stylist.
Pare ele, Eunice e a Fernanda tem muita coisa em comum.
“Elas têm essa elegância, esse minimalismo, acho que minimalismo quase também que muito da Eunice, esse minimalismo emocional. A Fernanda tem uma personalidade mais expansiva, mas de alguma forma, ela é muito reservada também. Então tem ali uma coisa que pareia junto com a Eunice que é muito próxima. Eu acho que elas são perfeitas uma para outra.”
O preto usado na maioria dos looks, inclusive, acaba sendo uma opção de Fernanda e Antonio, indo além das características de Eunice.
“Eu até brinco que somos almas coloridas, porque a gente sabe rir, a gente tem humor, mas somos almas coloridas que só usam preto.”
Method dressing
Fernanda Torres com Selton Mello e Walter Salles no Festival de Veneza
Vittorio Zunino Celotto/Getty Images via BBC
Essa escolha de fernanda Torres faz parte de uma tendencia em tapetes vermelhos de não pensar apenas nas roupas ou nas grifes, mas também nos personagens e enredos dos filmes que os artistas estão divulgando ou concorrendo em premiações.
Esse caminho foge do trilhado desde a década de 1990, quando a apresentadora e comediante Joan Rivers foi ganhando cada vez mais espaço por fazer suas críticas ácidas aos looks das estrelas nos tapetes vermelhos.
Super relevante, Rivers dizia frases como: “Estilo é como herpes. Você tem ou não”. Ela era conhecida como o terror das malvestidas e costumava, além de analisar o figurino, perguntar para as estrelas quem eram os estilistas responsáveis pela peça.
Com isso, as atrizes começaram a se preocupar ainda mais com o que iam vestir, pensando mais no que caia bem, e menos no projeto que estavam divulgando – que é o que tem acontecido atualmente.
Para Antonio, essa tendência de pensar no look do tapete vermelho pensando na história do personagem é mais difícil do que pensar apenas em um look de red carpet.
“Mas é mais divertido também, porque eu acho que qualquer bom profissional gosta de um desafio.”
“Como o profissional de moda, às vezes eu fico um pouco tentado a tentar vestir a Fernanda com uma super tendência, e ela me segura. E quando eu percebo que eu fui para um lugar não combinado, eu não crio muito a resistência porque eu sei o quanto é legal tentar se manter na narrativa. Gostei de viver essa experiência.”
Margot Robbie, Zendaya e Blake Lively
Margot Robbie, atriz indicada por ‘Barbie’, chega ao Globo de Ouro 2024
Jordan Strauss/Invision/AP
Além da Fernanda, outros casos marcantes recentes foram das atrizes Margot Robbie e Zendaya.
Os looks de Margot para a divulgação de “Barbie” eram um show à parte. A atriz recriou vários looks da boneca e não abandonou o rosa nem mesmo na premiação do Globo de Ouro de 2024.
Já Zendaya furou a bolha cinematográfica e ajudou a impulsionar a tendência tenniscore, que levou a estética das quadras de tênis paras ruas. Isso tudo durante a divulgação do filme “Rivais”, no qual a atriz interpreta uma jogadora de tênis, que é obrigada a abandonar as quadras, mas se torna treinadora do marido e vive um triângulo amoroso.
Diferentemente de Margot e Fernanda, Zendaya não levou essa estética para as premiações. No Globo de ouro, por exemplo, ela optou por um longo vestido laranja da Louis Vuitton com cauda plissada, que nada tinha a ver com as quadras.
Zendaya, indicada por ‘Rivais’, chega ao Globo de Ouro 2025
Jordan Strauss/Invision/AP
E a expectativa com essa conexão de criador e criatura tem sido tão forte que a atriz Blake Lively recebeu críticas por levar para os eventos o lado florista de sua personagem no filme “É assim que acaba” em vez de usar a moda para impulsionar o tema do longa, que aborda questões de violência doméstica.
Uma ressalva aqui é que a Blake tem vários haters, e as críticas acabaram sendo exageradas nesse caso. Afinal, ela não usou nenhuma peça absurda e, inclusive, também estava seguindo a tendência method dressing.
Blake Lively apareceu em todos os eventos com peças florais – já que sua personagem era dona de uma floricultura. Nesse caso, por exemplo, se ela fosse optar pela temática do filme, a atriz poderia ter usado peças mais sóbrias ou até mesmo aderido a algum broche de campanha sobre violência doméstica, repetindo o que foi feito no globo de ouro de 2018, por exemplo.
Naquele ano, várias estrelas incluíram na roupa pins da campanha Times’s Up, que fazia parte de uma iniciativa contra assédio sexual em Hollywood.
“Eu fico na dúvida se isso pode ser uma cobrança. Eu acho que se você de alguma forma, respeita na fala, nas entrevistas que você dá, você é respeitoso com as pessoas que sofreram violência doméstica, você é respeitoso com as pessoas que viveram o horror da ditadura militar, eu acho que isso deveria bastar”, analisa Antonio Frajado.
Blake Lively acusa ator e diretor Justin Baldoni de assédio sexual e afirma que foi vítima de campanha de difamação
Jornal Nacional/ Reprodução
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