Caro (a) leitor (a),
Me perguntam, com certa frequência, de onde vem minha inspiração. Confesso que não há uma resposta definitiva, mas gosto de pensar na inspiração como um triângulo equilátero, apoiado em três pilares: o hábito da leitura, o encantamento pela vida e pelas pessoas, e a paixão pela escrita.
Essa paixão pela escrita nasceu despretensiosamente, como nascem as grandes paixões. No meu caso, começou na infância, ao ler livros, jornais e revistas. O amor pela leitura me ajudou a desenvolver a escrita. Uso palavras como “paixão” e “amor” porque acredito que tudo o que fazemos, quando fundamentado em sentimentos intensos e verdadeiros, nos torna mais assertivos e realizados em nossas escolhas.
Sempre fui uma leitora ávida, especialmente de biografias. Fascina-me aprender lições valiosas a partir do comportamento e dos exemplos de outras pessoas. Sou encantada pela complexidade do ser humano e acredito que experiências reais são um vasto repertório para lidar com as decisões e consequências do dia a dia. É como se essas pessoas fossem mentores à distância, oferecendo conselhos indiretos que cabe a nós decidir aceitar ou não. Conhecimento e aprendizado que, hoje, mais do que nunca, estão literalmente na palma de nossas mãos.
Escrevo sobre acontecimentos da minha vida, histórias de pessoas que chegam até mim, conhecidas ou desconhecidas, mas que provocam reflexão. Pode ser um tema recomendado, uma indicação ou até um momento casual, mas sempre guiado por muita observação. Toda reflexão é uma inesgotável fonte de inspiração.
E aí está a chave: a inspiração vem do presente, mesmo quando narro histórias do passado. Pode surgir de uma conversa sincera e madura, de trocas de experiências, do alinhamento de expectativas, de uma gargalhada gostosa ou de momentos de entrega e lealdade — sempre atrelados a um processo criativo.
Refletindo sobre isso, percebi que o que mais me inspira são as “conversas maduras”. Mas o que seriam, afinal, essas conversas? Vivemos em um mundo onde nos comunicamos o tempo todo, mas há um abismo entre simplesmente se comunicar e de fato conseguir conversar. Já pensou nisso? A diferença é como a distância entre lançar palavras ao vento e construir uma ponte.
Comunicar-se é básico, um ato mecânico de transmitir uma mensagem. Saber conversar, no entanto, é uma arte — é ouvir, entender, trocar e criar conexões reais. Comunicação pode ser unilateral; você fala, informa, mas não necessariamente estabelece um diálogo genuíno. Conversar, por outro lado, exige envolvimento. Vai além das palavras: é escutar de verdade, atento não apenas ao que é dito, mas também ao que está nas entrelinhas — no tom de voz, na linguagem corporal e até nos silêncios.
Conversas maduras são transformadoras. Evitam mal-entendidos, fortalecem relações e criam espaços para soluções e crescimento. Diferem de discussões impulsivas, onde o objetivo é “vencer”. Uma conversa madura busca compreender e ser compreendido.
Na música Conversando no Bar, de Milton Nascimento e Toninho Horta, um trecho diz:”Nas conversas do bar, alguém falou que o tempo é um rigoroso professor / Que exige sempre um pouco mais da gente e nos ensina a ser feliz.”
A canção celebra o poder das conversas simples e genuínas, como aquelas que acontecem em um bar, num ambiente informal, mas repleto de profundidade e troca verdadeira. Mostra como o diálogo pode ser um ponto de encontro entre pessoas, ideias e sentimentos, gerando aprendizado e partilha.
Agora, pense em uma conversa difícil em qualquer área da vida. Se você apenas “se comunicar”, pode acabar gerando tensão, soltando críticas ou ordens que provocam defensividade. Mas, se souber “conversar”, abrirá espaço para discutir soluções, mostrando respeito à perspectiva do outro. O resultado será sempre mais leve.
Saber conversar transforma contatos em conexões humanas profundas e significativas. É o que nos faz crescer juntos, mesmo nos momentos desafiadores. Afinal, o que seria do mundo sem boas conversas?