Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo investiga se aumento dos casos da doença foi causado por vírus, bactéria ou parasita. Amostras foram coletadas na região e passam por análise. Estado e Secretarias Municipais se reúnem para discutir aumento dos casos de virose
O aumento nos casos de gastroenterocolite aguda que afetou a Baixada Santista, no litoral de São Paulo, ganhou repercussão nacional. Diversas cidades da região relataram pacientes com sintomas como diarreia, vômito, febre, entre outros. Em São Vicente (SP) e Guarujá (SP), houve internações.
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Desde o final de semana, diversos relatos de vazamento de esgoto têm sido registrados. A Prefeitura de Guarujá apontou, inclusive, o extravasamento de esgoto clandestino no mar da cidade como uma possível causa do suposto surto. Moradores de outros municípios da região, como Santos (SP) e Praia Grande (SP), também apresentaram sintomas.
Na segunda-feira (6), a Secretaria de Saúde do Estado se reuniu com os gestores da saúde nos municípios da região para oferecer suporte no enfrentamento dos casos. Segundo a pasta, a condição é atualmente definida como gastroenterocolite aguda, caracterizada pela inflamação tanto do estômago quanto dos intestinos.
Veja abaixo informações de cada município sobre o aumento nos casos de gastroenterocolite aguda:
Guarujá
Em nota, a Prefeitura de Guarujá informou que uma jovem de 20 anos deu entrada na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Rodoviária no último sábado com sintomas de virose e foi medicada. Ela foi encaminhada à rede particular, no Hospital Guarujá, onde está internada.
Santos
Turistas e moradores lotam praias no litoral de SP
Em Santos, de acordo com a prefeitura, não há registro de pessoas internadas nas unidades municipais. Os casos estão sendo atendidos nas três UPAs, que funcionam ininterruptamente.
Houve 1.339 casos atendidos entre 1º de janeiro e a última segunda-feira. Questionada se o “surto” já foi controlado, a administração municipal respondeu que “é cedo para qualquer previsão” sobre os casos de pessoas com sintomas.
Quanto ao pico de atendimento, houve variação entre as unidades devido à localização geográfica de cada uma.
São Vicente
A Prefeitura de São Vicente informou que uma pessoa está internada, de forma estável, por sintomas de gastroenterite. O g1 questionou sobre o paciente, mas a administração municipal disse ser proibida de fornecer detalhes por causa da ética médica.
Os atendimentos a pacientes com os sintomas estão acontecendo nos hospitais da cidade: Pronto-Socorro Central, Pronto-Socorro do Rio Branco, Pronto-Atendimento Parque das Bandeiras e o Hospital Municipal Dr. Olavo Horneaux de Moura, bem como nas Unidades Básicas de Saúde, que estejam com vagas livres de acolhimento.
Itanhaém
A Prefeitura disse ao g1 que não há pessoas internadas nas unidades da cidade com suspeitas da doença.
Em nota publicada no site oficial, a administração municipal informou ter registrado 1.145 casos nos cinco primeiros dias do ano, somando as Unidades de Pronto Atendimento (UPA) local e a Infantil. Assim como nas demais cidades, os principais sintomas são dores abdominais, náusea, vômito, diarreia e tontura.
Secretaria de Saúde de SP investiga se surto é causado por vírus, bactéria ou parasita
A prefeitura ressaltou que há grupos em situação de maior vulnerabilidade, como crianças, idosos e pessoas com doenças crônicas ou condições debilitantes. Assim, por apresentarem maiores riscos de complicações, são prioridade dos serviços da UPA e das Unidades de Saúde da Família (USF).
“Pessoas que não se enquadram nessas condições podem adotar medidas caseiras para aliviar sintomas leves e promover a recuperação”, explicou o texto.
Mongaguá
De acordo com a Secretaria de Saúde de Mongaguá, desde 23 de dezembro foram 1.783 casos, o que corresponde a quase 15% dos atendimentos realizados (12.270). Segundo a prefeitura, não houve nenhum caso de internação até o momento.
6.129 atendimentos na UPA de Agenor de Campos, com 783 casos de virose
3.411 atendimentos no Pronto Socorro Central, com 587 casos de virose
2730 atendimentos no Pronto Atendimento Infantil , com 413 casos de virose
A prefeitura informou que o aumento nos casos começou ainda no dia 30 de dezembro, mas vem caindo exponencialmente desde sábado (4).
Bertioga
O Instituto Nacional de Tecnologia e Saúde (INTS), responsável pela gestão do Hospital de Bertioga, disse que, no momento, não há pacientes internados com sintomas da doença.
Segundo a prefeitura, houve 220 casos atendidos em janeiro, entre os dias 1º e terça-feira (7). “Pacientes com sintomas de gastroenterite são atendidos no Hospital Municipal e em todas as Unidades Básicas de Saúde da Família (UBSFs) da cidade”, disse a prefeitura, em nota.
Cubatão
A Secretaria de Saúde de Cubatão informou que, de 1º de janeiro até segunda-feira (6), o Pronto-Socorro Central (PSC), o Pronto-Socorro Infantil (PSI) e a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) atenderam 915 casos de pessoas com sintomas de diarreia, náuseas e vômitos.
Nesse período, o PSC atendeu 303 casos de diarreia e gastroenterite ou pessoas com náuseas e vômitos. O PSI atendeu, no mesmo período, a 128 crianças com esses sintomas. Já a UPA, também no mesmo período, atendeu 484 casos. Não houve internações devido a agravos dos sintomas.
Segundo a pasta, a curva de atendimentos diários na UPA mostra que o maior movimento ocorreu no dia 3, com 102 atendimentos.
No sábado (4), o movimento caiu para 94 atendimentos e, no dia 5, para 59. Na última segunda-feira, o movimento voltou a crescer, chegando a 107 atendimentos. Não foi necessário ampliar o número de equipes nas unidades de urgência e emergência.
Em comparação, o total de atendimentos realizados nas três unidades de urgência e emergência em dezembro foi de 1.326, uma média de 42 atendimentos diários. Embora tenha havido um aumento no número de atendimentos na primeira semana de janeiro, as autoridades afirmam que a situação em Cubatão não caracteriza um surto.
Praia Grande
UPA Samambaia, em Praia Grande.
Divulgação/Prefeitura de Praia Grande (Imagem ilustrativa)
Sobre número de atendimentos, o município explicou que, de acordo com protocolo do Ministério da Saúde, não é necessário produzir a notificação da doença, somente em caso de surtos.
A Prefeitura de Praia Grande informou que, nos últimos dois dias, houve uma queda no número de atendimentos nas unidades de Urgência e Emergência, o que reflete também a redução de casos relacionados à doença.
Em relação aos atendimentos, o município esclareceu que, conforme o protocolo do Ministério da Saúde, a notificação da doença não é obrigatória, exceto em casos de surtos.
Peruíbe não respondeu aos questionamentos até a última atualização da reportagem.
Agente desconhecido
Regiane de Paula é coordenadora em saúde da coordenadoria de Controle de Doenças
SES-SP/Divulgação
Regiane de Paula, coordenadora em saúde da coordenadoria de Controle de Doenças (CCD/SES), destacou na reunião de segunda-feira que neste momento a pasta não fala em uma virose, mas sim um surto de gastroenterocolite aguda. Como o agente que causou a doença ainda é desconhecido, há várias hipóteses.
“A gente está falando de uma época do ano em que você teve dois feriados, em que você tem muito calor, você tem alimentação fora de casa, na praia, em outros locais”, disse ela.
Regiane reforçou que, diferente do recomendado na pandemia de Covid-19, não é necessário o uso de máscaras de proteção porque não se trata de uma questão respiratória.
Coletas
Estiveram presentes na reunião representantes dos Grupos de Vigilância Epidemiológica e Sanitária do Estado e dos municípios de Bertioga, Praia Grande, Guarujá, Santos, São Vicente, Cubatão, Peruíbe, Itanhaém e Mongaguá.
Em nota enviada pela Secretaria de Saúde, o grupo técnico da pasta reforçou a importância dos protocolos de coleta de amostras humanas e de água para a análise dos casos.
“Apresentamos o fluxo de informações, coleta de amostras e cuidados que devem ser tomados diante da situação para os secretários e equipes técnicas”, ressaltou Regiane, conforme a nota.
Praia das Astúrias, em Guarujá (SP)
Alexsander Ferraz/AT
Segundo a pasta, o laboratório Instituto Adolfo Lutz é o responsável pela análise das amostras coletadas pelos municípios para identificar o possível agente causador da doença. O g1 questionou mais detalhes sobre as amostras coletadas e aguarda retorno.
Até a última publicação da reportagem, não era possível confirmar a origem do surto porque os resultados eram aguardados. Na última segunda-feira, a Secretaria de Saúde havia informado que eles deveriam sair em até cinco dias.
Sintomas
As principais características das Doenças de Transmissão Alimentar são: diarreia (aquosa, com muco ou sangue), mal-estar geral, dor abdominal, náusea, vômito e febre.
Possíveis origens
Segundo a Secretaria de Saúde, os principais agentes causadores da doença diarreica aguda são os enterovírus, principalmente rotavírus e norovírus, e as bactérias como Bacillus cereus, Clostridium perfringens, Escherichia coli patogênica (vários tipos), Salmonella (vários tipos), e Shigella.
Veja os principais cuidados, segundo a pasta:
Não entre na água da praia se ela estiver classificada como imprópria pela Cetesb e evite banhos de mar 24 horas após as chuvas;
Evite alimentos mal cozidos;
Mantenha os alimentos bem refrigerados, com atenção especial às temperaturas dos refrigeradores e geladeiras dos supermercados onde os alimentos ficam acondicionados;
Leve seus próprios lanches em passeios, corretamente armazenados;
Observe bem a higiene de lanchonetes e quiosques;
Lave as mãos antes de se alimentar ou preparar alimentos;
Beba sempre água filtrada;
Em caso de diarreia, intensifique a hidratação e se necessário, busque atendimento médico.
A Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) afirmou não ter encontrado problemas na rede de esgoto em Guarujá e afirmou, em nota, que “o surto de virose não tem relação com a operação da empresa”.
Transmissão
Alessandra Lucchesi, diretora da Divisão de Transmissão de Doenças da Secretaria de Saúde do Estado
Reprodução/TV Tribuna
Em relação à transmissão, a diretora da Divisão de Transmissão de Doenças da Secretaria de Saúde, Alessandra Lucchesi, informou que pode ocorrer de forma direta, pelo contato com a fonte do problema (vírus, bactéria e parasita) ou de forma indireta, pegando de outras pessoas contaminadas.
“Para esses casos (de gastroenterite) em específico, (são) duas fontes de contaminação propriamente ditas: Consumo de alimentos contaminados, potencialmente contaminados, e principalmente também a via fecal-oral”, apontou Alessandra.
Podem ser várias doenças
Ao g1, o infectologista Leandro Curi explicou que vírus são transmitidos pelo ar, pela água ou alimentos contaminados. A água, por exemplo, é um local propício para esses agentes infecciosos por ser de fácil acesso ao ser humano. “Pode estar na água do rio, do mar, na água que a gente bebe”, disse ele.
Ele ressaltou que o termo “virose” é utilizado popularmente para designar várias doenças, mas define somente as causadas por vírus.
Segundo o especialista, é comum que doenças causadas por bactérias apareçam no esgoto. Um exemplo é a cólera, tipo de gastroenterite bacteriana. Assim como elas, os vírus também podem estar presentes nesse ambiente.
Praia de Santos (SP) na manhã deste sábado (4)
Matheus Muller/g1 Santos
Curi explicou que, no caso dos sintomas que têm sido observados na Baixada Santista, é menos provável que o vírus esteja contaminando pelo contato com a pele. “A gente acredita que seja mais da ingesta dessa água ou no uso dessa água para higienização de alimentos ou hidratação direta”, disse.
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