Por meio de mapas, o Museu de Florianópolis oferece aos moradores e turistas uma viagem que remete aos tempos das primeiras expedições europeias, no século 16, passando por períodos posteriores de idêntica relevância histórica, até chegar ao momento presente, com o desenho das ruas e avenidas, a localização de monumentos e prédios públicos e a distribuição dos bairros e balneários da Ilha de Santa Catarina.
É uma maneira bem didática de mostrar a configuração da região em diferentes momentos de sua história – da quase total ausência de habitantes à balbúrdia urbana dos dias de hoje.
Nestes dias marcados por feriados e a presença de muitos visitantes de fora, a exposição “Uma Jornada Cartográfica – Passado e Presente” tem atraído cerca de 400 pessoas por dia ao prédio do museu, na Praça 15 de Novembro. De caráter interativo, a mostra vai até setembro numa pequena sala à direita de quem entra no edifício, mas deverá ser ampliada e migrar para um espaço maior, permitindo que os mapas e instrumentos cartográficos exibidos sejam melhor explorados pelo público.
Com curadoria da geógrafa e museóloga Cristina Maria Dalla Nora, a exposição começa explicando o que é a cartografia, uma ciência que estuda e representa o conhecimento da superfície terrestre por meio de mapas, cartas, plantas, gráficos e tabelas de diversos tipos. A palavra “cartografia” foi usada pela primeira vez em 1839, numa correspondência que o pesquisador português Visconde de Santarém escreveu ao historiador brasileiro Adolfo Vernhagem.
Na antiguidade, esse tipo de informação era gravado em cavernas, nas chamadas pinturas rupestres, ou em madeira, couro de animais, pergaminhos, rochas ou placas de argila cozidas. Boa parte da história do mundo conhecida vem desses registros, encontrados em regiões tão díspares como a Mesopotâmia, a Itália e o Egito muitos séculos antes de Cristo.
A exposição do Museu de Florianópolis mostra como os moradores dessas partes do planeta deixavam suas impressões acerca dos territórios que conheciam, incluindo os romanos com seu vasto império que durou cinco séculos e mudou a cultura e a história do mundo para sempre.
Instrumentos deram nova feição à cartografia
Os visitantes da exposição “Uma Jornada Cartográfica – Passado e Presente” também podem ver instrumentos como uma antiga bússola francesa, um pantômetro de luneta alemão do século 19, uma câmara clara Zeiss de 1950 e teodolitos de 1890, 1905 e 1928. Esse material faz parte do acervo do Museu de Topografia e Geodésia Professor Ênio Miguel de Souza, vinculado ao curso de agrimensura do IFSC Florianópolis.
A parte que mais atrai os visitantes, em especial as crianças e jovens, é a dos totens onde se podem ver mapas de pouco depois do descobrimento do Brasil, deixados por viajantes a caminho do rio da Prata que paravam na Ilha de Santa Catarina ou no continente fronteiro para reabastecimento ou reforma das embarcações. Era comum também passarem por aqui expedições científicas que traziam cartógrafos e cronistas de bordo para registrar as características humanas, geográficas e naturais da região.
O mapa Terra Brasilis, de 1519, do cartógrafo português Lopo Homem, já mostrava todo o Litoral brasileiro, com deformações evidentes em vista dos poucos recursos tecnológicos da época. A primeira representação cartográfica do Brasil é um planisfério de Juan de la Cosa, que contempla mais as regiões Norte e Nordeste e destaca o território no mapa da América lusitana.
Fontes são os grandes museus e bibliotecas do mundo
Ao clicar nas imagens dos totens é possível ver, entre outras, uma planta hidrográfica do final do século 19 com indicações da ponta das Aranhas, Barra da Lagoa, Galheta e a vila de Santo Antônio de Lisboa. Também aparecem a barra da Lagoinha, o Ribeirão e o centro da cidade do Desterro, antigo nome de Florianópolis. Com extensão ao Continente, se destacam a foz do rio Massiambu, o rio Cubatão e algumas vilas do Litoral.
Desde muito cedo, poucas décadas após o descobrimento do Brasil, a Ilha de Santa Catarina aparece nos mapas europeus, inicialmente como ilha dos Patos e depois com o nome atual, dado pelo navegador Sebastião Caboto (1476-1557), supostamente em homenagem à sua mulher, Catarina Medrano.
A exposição avança no tempo e vem até a segunda metade do século 20, com a agregação de novos recursos como o GPS, os satélites e a cartografia digital. É quando aparecem plantas como as dos antigos cemitérios de Florianópolis, as ruas que balizaram a expansão urbana da cidade (avenidas Mauro Ramos e Rio Banco), as pedras de Itaguaçu e Coqueiros e o relevo acidentado do Morro da Cruz. E também parques, hospitais, trapiches, igrejas, instalações militares, teatros, museus e centros comerciais, além das ruas e avenidas, inclusive da parte continental da cidade.
“A Prefeitura de Florianópolis ajudou na elaboração dos conteúdos que apresentam a história da cartografia e acompanham os mapas”, diz a curadora Cristina Dalla Nora, que trabalhou com um designer para distribuir no espaço disponível o material da exposição. Também fizeram parte da equipe o historiador Ângelo Antônio de Aguiar e a geógrafa Solange Richartz Wilvert, ambos funcionários do município.
Entre as fontes, arquivos e acervos que serviram para montar a exposição estão museus e bibliotecas da Espanha, França, Itália e Portugal, a Biblioteca Nacional e a Mapoteca Histórica do Itamaraty, no Rio de Janeiro. Um dos mapas mais importantes pertence ao acervo da Biblioteca Britânica, em Londres.
Jogos remetem a figuras e locais icônicos da cidade
A exposição “Uma Jornada Cartográfica – Passado e Presente” utiliza material da Prefeitura de Florianópolis, e será complementada com mais cerca de 40 mapas dos séculos 16 a 18, segundo a curadora Cristina Maria Dalla Nora. Ela é funcionária do Sesc (Serviço Social do Comércio), que administra o Museu de Florianópolis, e trabalha no local. Também colabora com Instituto Collaço Paulo, onde é responsável pela documentação, catalogação, acondicionamento e higienização das obras do acervo.
Cristina diz que um dos pontos positivos desta exposição é mostrar que a Ilha está aqui desde muito tempo, ou seja, não é obra de poucos anos ou décadas, quando começou a receber muitas pessoas de fora e milhares de turistas todos os anos.
Em duas telas, os visitantes podem brincar com jogos onde se estimula a busca de figuras e locais icônicos de Florianópolis, como os compradores de ouro do calçadão da rua Felipe Schmidt, dançarinos do boi de mamão, as bruxas, pontos turísticos e outras referências culturais da Ilha. No fim, há uma pequena bancada com mapas desenhados em papel para as crianças colorirem.
Curiosidades
- Antes do surgimento da aviação já se faziam mapas com a ajuda de fotografias aéreas. Os registros eram captados de balões, pombos e pipas, desde o final do século 19, especialmente nos Estados Unidos, Canadá e Europa;
- O explorador e cientista alemão Alexander von Humboldt (1769-1859) revolucionou a cartografia e, em inúmeras viagens, mapeou boa parte da América Latina;
- Em 1539, o cartógrafo e historiador espanhol Alonso de Santa Cruz editou o “Islario general de todas las islas del mundo”, que já continha a Ilha de Santa Catarina e as inúmeras ilhas dos rios da Prata (delta do Paraná) e Uruguai.
Serviço
- O quê: exposição “Uma Jornada Cartográfica – Passado e Presente”
- Quando: de segunda a sexta-feira, das 10h às 20h; finais de semana das 10h às 16h; fechado às terças
- Onde: Praça 15 de Novembro, 214, Centro de Florianópolis
- Quanto: ingressos a R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia)
- Mais informações: (48) 3222-1333