Kleiton & Kledir e Vitor Ramil interagem com filhos e sobrinhos em roteiro que transita entre a melancolia e a festa da dinastia nascida em Pelotas. O show ‘Casa Ramil’ reúne sete integrantes da família em cena adornada com projeção de vista do lar do clã em Pelotas (RS)
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♫ OPINIÃO SOBRE SHOW
Título: Casa Ramil
Artista: Gutcha Ramil, Ian Ramil, João Ramil, Kledir Ramil, Kleiton Ramil, Thiago Ramil e Vitor Ramil
Data e local: 26 de novembro de 2024 no teatro do Sesc Tijuca (Rio de Janeiro, RJ)
Cotação: ★ ★ ★ ★
♪ Show idealizado pela produtora Branca Ramil no rastro do sucesso da reunião de Caetano Veloso com os três filhos no espetáculo Ofertório (2017), Casa Ramil junta duas gerações da dinastia gaúcha popularizada no Brasil pela explosão da dupla Kleiton & Kledir na primeira metade da década de 1980.
Irmão caçula de canto mais cool, Vitor Ramil seguiu pelas margens do mercado com mais prestígio do que popularidade até que os caminhos de todos – incluindo aí filhos e sobrinhos que levam adiante a tradição musical da família de Pelotas (RS) – se encontram no palco neste show que chegou ao Rio de Janeiro (RJ) nesta semana, seis anos após a estreia no sul em março de 2018, em três apresentações em unidades do Sesc da cidade. A primeira aconteceu no teatro do Sesc Tijuca na terça-feira, 26 de novembro.
Em cena, irmanados pela evocação da presença da matriarca Dalva Alves Ramil (1926 – 2024), falecida em maio, os integrantes do clã transitam entre a melancolia e a festa, esta feita no clima gaúcho de Noite de São João (Kledir Ramil e Pery Souza, 1981) com a adesão do público.
Como já mostrara o álbum ao vivo lançado em 2023 (e ora editado no formato físico de CD), fica claro que a solidez dos alicerces da Casa Ramil está assentada na interação entre os integrantes do clã (são sete no palco e outros nos bastidores da produção). As mútuas gozações entre Kledir Ramil e Vitor Ramil descontraem o ambiente familiar sem prejuízo da seriedade musical.
Surte ótimo efeito a distribuição dos versos de Autorretrato (Kleiton Ramil e Kledir Ramil, 2009) entre os moradores da casa, o que valoriza a letra da música-título do álbum que marcou o retorno da dupla Kleiton & Kledir há 15 anos.
Esse recurso também funciona bem, no arremate do bis, com o canto de Deixando o pago (Vitor Ramil sobre poema de João da Cunha Vargas, 1997), música anticlimática que encerra o show com requinte, sem apelar para o clichê de fechar a casa ao som de um hit animado como Tô que tô (Kleiton Ramil e Kledir Ramil, 1982), música ausente do show, a propósito.
Com faringite no dia da estreia carioca de Casa Ramil, Vitor Ramil mais falou do que cantou, mas isso em nada tirou o brilho do show. Aliás, a música mais conhecida de Vitor, Estrela estrela (1981), se iluminou com o canto coletivo da família.
Filho de Kledir, o jovem João Ramil foi quem puxou os cantos de Vira virou (Kleiton Ramil, 1980) e Paixão (Kledir Ramil, 1981), sucessos da fase inicial da dupla Kleiton & Kledir.
Com presença mais discreta nas falas, Gutcha Ramil representa a mulher em reduto masculino e tem momento de protagonismo quando acentua a cadência do samba Até não mais (Kledir Ramil, 1975), apresentado há 49 anos no primeiro álbum do grupo Almôndegas, pioneiro na criação de um som gaúcho que se abriu para o mundo pop na década de 1970 sem camuflar as tradições dos Pampas.
Já Ian Ramil e Thiago Ramil se desviam dessa trilha pop, com certa dose de experimentação (no caso de Ian), buscando pavimentar os próprios caminhos e delinear as próprias identidades musicais sem clonar o som de Kleiton, Kledir e Vitor Ramil.
Seja na saudade embutida no ritmo envolvente de Deu pra ti (Kledir Ramil e Kleiton Ramil, 1981) e nem sempre percebida pelo ouvinte, como ressaltou Kleiton, seja na solidão que percorre Ramilonga (Vitor Ramil, 1997), os integrantes da família gaúcha se irmanam e se abrigam sob o afeto que sustenta Casa Ramil através de gerações musicais.
Sete integrantes da musical família gaúcha se irmanam no show ‘Casa Ramil’ em apresentação no teatro do Sesc Tijuca
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