A Polícia Federal (PF) divulgou áudios de conversas que apontam o envolvimento do general da reserva Mário Fernandes e de outros aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em um plano para manter o então chefe do Executivo no poder, mesmo após sua derrota nas eleições de 2022. A conspiração incluía um golpe de estado e o assassinato de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Geraldo Alckmin (PSB) e do ministro Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Os áudios são de uma conversa datada de 10 de novembro de 2022, um dia após Mário Fernandes ter sido registrado no Palácio da Alvorada, o general sugeriu ao então presidente a substituição do ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, pelo general Braga Netto.
“Ontem, falei com o presidente. P!@$, cara, eu tava pensando aqui, sugeri o presidente até, porra, ele pensar em mudar de novo o MD [Ministério da Defesa], porra. Bota de novo o General Braga Netto lá. General Braga Netto tá indignado, porra, ele vai ter um apoio mais efetivo”, afirmou Fernandes a Marcelo Câmara, assessor de Bolsonaro na época.
Braga Netto, ex-ministro da Defesa e ex-vice-presidente na chapa de Bolsonaro, é apontado por fontes da Polícia Federal como o principal arquiteto do plano golpista. Ele teria desempenhado papel crucial na tentativa de manter Bolsonaro no poder, sendo considerado pela PF como “a cabeça pensante” da operação.
Resistência nas Forças Armadas
Apesar das articulações, uma das razões do golpe não avançar foi devido à recusa dos comandantes do Exército, Freire Gomes, e da Aeronáutica, Baptista Júnior, em aderir a iniciativas antidemocráticas. Em depoimento à PF, Freire Gomes relatou ter sido consultado sobre uma minuta de decreto de golpe, mas afirmou que sempre deixou claro que o Exército não participaria. Ele também alertou Bolsonaro sobre possíveis consequências legais caso insistisse na proposta.
Em outra conversa, Fernandes demonstrou estar ciente dos riscos e afirmou estar disposto a enfrentá-los.
“Reestrutura [o MD] de novo, porra. Ah, não, porra, aí vão alegar que eu tô mudando isso pra dar um golpe. Porra, negão. Qualquer solução, Caveira, tu sabe que ela não vai acontecer sem quebrar ovos, né, sem quebrar cristais. Então, meu amigo, parte pra cima, apoio popular é o que não falta”, disse a Câmara em diálogo com Fernandes.
Segundo a investigação, Fernandes também era responsável por manter contato com os acampamentos de apoiadores golpistas junto às unidades militares. Em áudios obtidos pela PF, ele demonstrou frustração com o fracasso do plano:
“Ele [Bolsonaro] que tenha coragem moral, pelo menos até quinta-feira, falar que não quer mais, né? Pessoal, pelo menos, passar o Natal em casa”, disse a Vieira de Abreu, seu chefe de gabinete.
Indiciamentos e crimes apurados
A PF indiciou Bolsonaro, Braga Netto e outros envolvidos pelos crimes de golpe de estado, abolição violenta do estado de direito e organização criminosa. As investigações apontam o ex-presidente como o principal beneficiário e comandante da tentativa frustrada, enquanto Braga Netto é descrito como o líder operacional do plano.
As descobertas reforçam a complexidade e gravidade da conspiração, que, segundo os investigadores, só não foi adiante devido à resistência de setores institucionais e à falta de apoio interno nas Forças Armadas.