Saiba quem eram os pacientes que morreram à espera de UTI em Goiânia


Severino Santos, Katiane Silva e Janaína de Jesus morreram enquanto aguardavam atendimento em Goiânia. Famílias lutaram na Justiça em busca de vagas. Três pacientes morrem à espera de leitos de UTI em Goiás
Severino Santos, Katiane Silva e Janaína de Jesus morreram na última semana enquanto aguardavam vagas para Unidade de Terapia Intensiva (UTI) em Goiânia. As famílias relataram que lutaram na Justiça para conseguir atendimento adequado, mas o serviço de saúde pública não forneceu a tempo.
“A gente se sente abandonado. A gente lutou tanto. Todo dia a gente estava lá visitando ele, levando as coisas que precisava, que eles pediam. E para nada. A gente tentou, a gente não parou. E, no fim, aconteceu isso”, desabafou a prima de Severino Santos, Lúcia Cleide Leão.
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No caso de Severino Santos, a Justiça determinou, um dia antes de sua morte, que o serviço público estadual ou municipal o transferisse para um leito de UTI em até quatro horas. Caso não houvesse vaga disponível na rede pública, a decisão judicial estabelecia que o paciente fosse transferido para um hospital privado, com os custos cobertos pelo SUS. A Justiça fixou uma multa de R$ 5 mil por hora de descumprimento, limitada a R$ 50 mil. No entanto, a decisão não foi cumprida.
Severino Santos
Severino Ramos Vasconcelos Santos, de 63 anos, morreu em Goiânia aguardando vaga de UTI
Reprodução/TV Anhanguera
Severino Ramos Vasconcelos Santos, de 63 anos, era aposentado. Ele morreu no sábado (23) na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Jardim Itaipu.
De acordo com a prima do idoso, Lúcia Cleide Leão, Severino deu entrada na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Jardim Itaipu após sofrer uma queda que resultou na fratura do fêmur. Durante a internação, a família relatou que o quadro clínico dele se agravou, evoluindo para anemia profunda, broncopneumonia, embolia pulmonar e insuficiência respiratória. Ele permaneceu internado na UPA por cinco dias.
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Lúcia afirmou que a família recorreu ao Ministério Público para tentar agilizar a transferência para uma UTI. “A gente fez a denúncia no Ministério Público. Foi tudo uma burocracia. Aí, ontem saiu. Tinha até quatro horas para liberar a vaga. Passaram as quatro horas, não liberaram. Entramos de novo, não liberaram. Ele acabou falecendo hoje, às 7h15 da manhã”, disse a familiar.
A Secretaria de Estado da Saúde (SES-GO) informou que o paciente apresentava um quadro relacionado à fratura ortopédica e estava sob os cuidados da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Goiânia, que realizava buscas por vagas na rede SUS, incluindo hospitais estaduais – leia nota na íntegra ao final do texto.
O g1 entrou em contato com a Prefeitura de Goiânia por e-mail, às 15h37 de sábado (23), para solicitar um posicionamento sobre o caso do idoso. No entanto, não houve resposta até a última atualização da reportagem.
Katiane Silva
A autônoma Katiane Araújo, em Goiás
Arquivo pessoal/Marina Araújo
Katiane de Araújo Silva, de 36 anos, era vendedora autônoma. Ela morreu na madrugada de sexta-feira (22) no Cais Cândida de Morais.
Segundo a sobrinha de Katiane, Marina Araújo, a mulher começou a passar mal no dia 15 de novembro. Na terça-feira (19), a vendedora foi ao Cais Cândida de Morais, onde foi internada. Na unidade de saúde, ela fez um exame de sangue que indicou uma queda nas plaquetas.
“Solicitaram a UTI três vezes, mas não conseguiram. Disseram que não havia ambulância para buscá-la porque ela já estava entubada, e precisava de uma ambulância especial,” contou.
Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde alegou que Katiane Silva morreu de dengue hemorrágica e que não houve falta de assistência – leia a nota na íntegra ao final do texto.
Janaína de Jesus
Janaína de Jesus, de 29 anos, morreu após ficar três dias na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Jardim Itaipu, em Goiânia, Goiás
Reprodução/Redes Sociais
Janaína de Jesus, de 29 anos, morreu após ficar três dias na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Jardim Itaipu.
A família também procurou ajuda no Ministério Público, mas ela morreu enquanto os parentes eram atendidos no órgão.
“Eu me senti impotente, porque eu não podia fazer nada. Quando ela faleceu, eu estava no MP tentando uma vaga de qualquer jeito. Não deu tempo. É doido saber que tinha vaga no particular”, disse Yasmin de Jesus, irmã de Janaína, à TV Anhanguera.
Severino Santos, Katiane Silva e Janaína de Jesus morreram em Goiânia
Reprodução/TV Anhanguera e Reprodução/Redes sociais
Caso do Severino Santos – Nota da Secretaria de Estado da Saúde (SES-GO) na íntegra:
A Secretaria de Estado da Saúde informa que o paciente Severino Ramos possuía uma necessidade relativa à fratura ortopédica fechada, estava em unidade de saúde da capital, e a principal busca ocorre pela SMS Goiânia nas unidades de sua rede SUS, com perfil para o caso e especialidade, como o Hospital das Clínicas. Ao mesmo tempo em que busca em sua rede, a central de Goiânia inseriu o pedido para a SES como ampliação dessa busca, também para as unidades sob gestão do Estado.
Os dados mostrados no pedido definem um momento pontual do mapa de leitos estadual.
O HGG é uma unidade de atendimento prioritariamente eletivo para procedimentos ortopédicos (eletivos são os casos menos urgentes em que paciente pode passar por consulta, exames e programar cirurgia). O HDT é uma unidade com pronto-socorro e perfil para doenças infectocontagiosas. Sobre o HUGOL, habitualmente a regulação não envia diretamente para o leito de UTI, considerando que sempre há no próprio pronto-socorro da unidade pacientes em atendimento com quadros graves e gravíssimos e que aguardam internamente a vaga do leito para serem internados.
A SES ressalta que é importante avaliar todo o contexto envolvido no processo demanda/oferta e não apenas um momento isolado no mapa de leitos. A secretaria prioriza todos os pacientes graves e o sistema de saúde possui uma capacidade assistencial e operacional onde todos os entes (federal, estadual e municipal) devem atuar em conjunto na oferta de serviços em saúde da melhor forma na gestão e integração de esforços para prover as necessidades dos pacientes.
O mapa de leitos é um instrumento da rede assistencial SUS da SES-GO, que proporciona a toda população a transparência de informações sobre onde há unidades de saúde estaduais, quantos leitos possui e como está sua ocupação no momento da consulta ao site.
Quanto à ocupação dos leitos, o sistema base de dados de gestão hospitalar reflete no site automaticamente quando há movimentação dos leitos por alta, ocupação, bloqueio (em casos de assepsia ou isolamento) e reserva (quando a vaga é cedida e o leito é preparado para receber o paciente que tem até 24 horas pra chegar, conforme condições de transporte e distância). Assim, o mapa de leitos reflete sempre a situação naquele momento das vagas, o que é dinâmico e sofre alterações constantemente.
Caso da Katiane Silva – Nota da Secretaria Municipal de Saúde na íntegra:
A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) esclarece que a paciente Katiane de Araújo da Silva faleceu em decorrência de complicações de dengue grave, conhecida anteriormente como dengue hemorrágica. Não houve falta de assistência, os protocolos para tratamento de dengue, seja simples ou grave, são os mesmos adotados em um Cais ou em um hospital.
Na sala vermelha, onde a paciente foi mantida, ela recebeu todos os recursos que necessitava e que teria em uma UTI. A secretaria se solidariza com os familiares e se coloca à disposição para quaisquer esclarecimentos.
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