Neste 20 de novembro, quando o Brasil vive o primeiro feriado nacional em referência ao Dia da Consciência Negra, Santa Catarina também exalta as figuras negras que influenciaram as identidades culturais, artísticas, literárias, além da comunicação e da política. Vários personagens negros se destacaram no estado, e alguns deles, suas histórias e contribuições, foram resgatados na série de reportagens “Vozes da Consciência – Afrofuturismo”, conduzida pela jornalista e apresentadora Amanda Santos, que está sendo exibida no Balanço Geral desta semana.
O objetivo da série é promover a conscientização sobre a importância da diversidade e de valorizar o legado histórico de personalidades, contribuindo para a construção de um futuro mais inclusivo. “Olhar para o passado e reverenciar personalidades negras que foram esquecidas pela história é mais do que uma retratação. É uma responsabilidade moral de todo o cidadão”, ressalta a apresentadora.
O primeiro maestro negro da banda
João Augusto Penedo foi o primeiro maestro negro civil contratado pela Polícia Militar para montar e liderar a Banda de Música da Polícia Militar – naquela época, Força Policial. O maestro Penedo já era conhecido no cenário musical da Capital tendo em vista seus trabalhos em bandas civis, com destaque na Banda Amor à Arte, autora do hino de Florianópolis.
Junto com 28 músicos, deu início à Banda de Música da PM numa manhã de sábado, véspera de Natal, em 1892, em frente ao Palácio do Governo, na praça XV de Novembro, no Centro da Capital. Apresentação parou a cidade e a banda conquistou o coração da população e ganhou o apelido carinhoso de “Piano Catarinense”. Morreu em 21 de agosto de 1923, aos 74 anos.
Representante da pintura naïf no Brasil
Artista de 70 anos, Tercília dos Santos é considerada uma das grandes representantes da pintura naïf no Brasil, e destaca a importância da arte popular e espontânea.
Nascida em 1953, no distrito do Uruguai, em Piratuba, no Extremo-Oeste, realizou sua primeira exposição individual em 1990, e no ano de 1992 participou da primeira mostra internacional. Autodidata, traduz para os quadros figuras totalmente coloridas, em acrílico sobre tela, registram o colorido rural do Estado.
Heráclito, o primeiro presidente negro do TJSC
O primeiro presidente negro do TJSC (Tribunal de Justiça de Santa Catarina), desembargador Heráclito Carneiro Ribeiro, assumiu o comando do Judiciário catarinense no dia 13 de maio de 1931, exatamente 43 anos após a abolição da escravidão no Brasil.
Baiano, nascido em Salvador em 1879, Heráclito cresceu em uma casa repleta de livros, frequentada por intelectuais e artistas. Foi o quinto e último filho de Maria Francisca Ribeiro e do renomado Ernesto Carneiro Ribeiro, médico, linguista e educador. Atuou como juiz em São Bento do Sul, Joinville e Florianópolis.
Em 1920, foi nomeado procurador geral do Estado, cargo no qual permaneceu até 1922. Nesse ano, chegou ao cargo de desembargador no então Superior Tribunal de Justiça do Estado, hoje Tribunal de Justiça. Na Corte, antes de ser presidente, foi corregedor geral da Justiça, vice-presidente e presidente.
Heráclito é um dos fundadores da Faculdade de Direito de Santa Catarina, hoje integrante da UFSC; do Instituto Politécnico de Florianópolis, o qual dirigiu de 1930 a 1932; e do Ginásio José Brasilício de Souza.
O primeiro vice-presidente da província
Nascido em Salvador (BA), Abdon Batista nasceu em 1852. Formou-se em medicina aos 22 anos. Seis anos depois, em 1880, mudou-se para São Francisco do Sul. Até hoje pouco se fala sobre a sua etnia, pois suas fotos foram embranquecidas ao longo do tempo, o que define o contexto histórico da época conservadora pós-abolição.
Biógrafos dizem que Abdon era filho de uma mulher negra e de um homem branco – o nome dele não constava na certidão. Casou-se três vezes. A vida social e política tomou novos rumos após o último casamento. Com o sogro, que atuava no ramo da erva-mate, passou a fazer parte da chamada “oligarquia do mate”.
Juntos também compraram o jornal “O Democrata”, em 1884. Na política, exerceu todas as funções que um político pode atuar: vereador, prefeito, governador, senador. Além disso, foi primeiro vice-presidente da província de Santa Catarina, nomeado por carta imperial de 22 de junho de 1889, tendo presidido a província interinamente de 26 de junho a 19 de julho de 1889.
Em Joinville, onde mais atuou, seu nome esteve veiculado à criação da Sociedade de Caridade e Asylo de Órfãos e Desvalidos existente até hoje como casa de acolhimento – hoje Lar Abdon Batista – e também foi o principal autor da reforma na educação.