Mais de 10,3 milhões de mulheres, espalhadas pelos mais diversos cantos do Brasil, são donas do próprio negócio. Elas, em geral, têm maior grau de escolaridade, são mais jovens e ganham menos do que os homens, segundo dados divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Nesta terça-feira (19), é celebrado o Dia Mundial do Empreendedorismo Feminino, que busca colocar a mulher em evidência no setor e colocar luz sobre os desafios que ainda são encontrados por quem decide abrir uma empresa no Brasil.
Segundo dados do DataSebrae (Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), de 2023, as mulheres são responsáveis por 35% das empresas em atividade no estado de Santa Catarina. Entre janeiro e outubro de 2024, foram abertas 216.605 novas empresas no estado — 120.263, tendo mulheres como responsáveis.
Empreendedorismo feminino como solução de problemas
Conforme o levantamento, a maioria das empreendedoras do país (53%) atuam no setor de serviços, como é o caso da catarinense, Martha Rodrigues, que decidiu solucionar um problema após uma experiência pessoal, em 2020.
“Eu havia resgatado um gatinho, e um dos benefícios da empresa em que eu trabalhava eram ótimos para a família, mas não comportava a minha, que éramos eu e o gatinho”, conta à reportagem. Naquele ano, Martha fundou a Guapeco, empresa pioneira no Brasil, que oferta benefícios corporativos para pets.
Em quatro anos de atuação como CEO da empresa, a empreendedora, de 25 anos, percebeu desafios que vão além da rotina de quem decide abrir o próprio do negócio. “A sensação que eu tenho é de que o mercado é bem mais sensível aos erros de uma mulher jovem, à frente de um negócio, do que aos de um homem mais velho”, destaca.
Mais conhecimento, menos empatia
A administradora atua, desde a 2019, na área da tecnologia — meio, predominantemente, masculino e que vem se atualizando ao novo momento da sociedade. “A sensação que eu tinha era de que eu tinha que estudar mais, saber mais, saber o dobro que os demais”, diz Martha sobre o início da carreira.
O sentimento também é compartilhado pela presidente do Banco da Família, Isabel Baggio, maior instituição na área de microfinanças do Brasil. A empresária, formada em Administração, participou da fundação da instituição, em Lages, na Serra catarinense, em 1998. Na época, teve o próprio pai como referência.
“Naquela época, a representatividade feminina era bastante baixa e a pessoa que mais me inspirou a seguir essa carreira foi o meu pai, que foi empreendedor também”, conta. “O meu processo sempre foi rompendo barreiras”, relembra Isabel.
“Precisamos mostrar o nosso jeito”, diz empreendedora
De gerações diferentes, ambas precisaram se impor diante de um mercado que, em diferentes momentos, desacredita da capacidade das mulheres em liderar e estar à frente de grandes empresas. Para Isabel, estar sempre em busca de conhecimento é uma das principais maneiras de se posicionar e reforçar a própria capacidade.
“A gente precisa enfrentar as situações, querer estar nos postos de liderança, mostrar o nosso jeito de fazer. Dá pra dizer que quando a gente se prepara, tem personalidade forte para tomar decisões e enfrentar embates, a gente pode ser bem sucedido, independente de gênero”, afirma.
O Banco da Família foi fundado e direcionado para pessoas com renda de até três salários mínimos mensais, ofertando empréstimo de até R$ 6 mil. Segundo a empresária, boa parte das pessoas que buscam pela instituição também são mulheres.
“A maioria dos clientes são empreendedoras, ou mulheres que procuram empréstimos para negócios, moradias, saúde, educação e emergências. Saúde, moradia e educação são recursos, principalmente, contratados por mulheres, que se preocupam mais com o bem-estar da família ou são as responsáveis pelos lares”, detalha à reportagem.
Perspectivas para o empreendedorismo feminino
Dados do Relatório de Empreendedorismo Feminino 2023/24, desenvolvido pela principal pesquisa sobre empreendedorismo no mundo, o GEM (Global Entrepreneurship Monitor), mostra que há uma tendência de crescimento na participação feminina no mundo dos negócios.
O levantamento, divulgado nesta terça-feira (19), mostra que houve um crescimento de 10,4% na participação de mulheres na abertura de novas empresas, em 30 países, no período de 2021 a 2023. Uma em cada 10 mulheres iniciou novos negócios em 2023.
As percepções do empreendedorismo feminino melhoraram, significativamente, nas últimas duas décadas, com um aumento de 79% nas oportunidades de negócios percebidas e um aumento de 27% nas habilidades de startup. O levantamento aponta que mulheres mais jovens tendem a empreender, quando comparadas aos homens.
Segundo o relatório, políticas públicas têm papel fundamental no fomento à participação de mulheres na abertura de negócios, rompendo barreiras estruturais e promovendo um ecossistema inclusivo. Ao mesmo tempo, políticas e intervenções devem ser adaptadas a contextos específicos, como facilitação de qualificação, recursos para dependentes e reconhecimento de conquistas para neutralizar estereótipos negativos.