Empreendedoras lideram 35% das empresas em SC; ‘O mercado é mais crítico com mulheres’, diz CEO

Mais de 10,3 milhões de mulheres, espalhadas pelos mais diversos cantos do Brasil, são donas do próprio negócio. Elas, em geral, têm maior grau de escolaridade, são mais jovens e ganham menos do que os homens, segundo dados divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Nesta terça-feira (19), é celebrado o Dia Mundial do Empreendedorismo Feminino, que busca colocar a mulher em evidência no setor e colocar luz sobre os desafios que ainda são encontrados por quem decide abrir uma empresa no Brasil.

Martha Rodrigues é CEO e fundadora da Guapeco, empresa que oferece planos de saúde corporativos para pets

Martha Rodrigues é CEO e fundadora da Guapeco, empresa que oferece planos de saúde corporativos para pets – Foto: Divulgação/ ND

Segundo dados do DataSebrae (Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), de 2023, as mulheres são responsáveis por 35% das empresas em atividade no estado de Santa Catarina. Entre janeiro e outubro de 2024, foram abertas 216.605 novas empresas no estado — 120.263, tendo mulheres como responsáveis.

Empreendedorismo feminino como solução de problemas

Conforme o levantamento, a maioria das empreendedoras do país (53%) atuam no setor de serviços, como é o caso da catarinense, Martha Rodrigues, que decidiu solucionar um problema após uma experiência pessoal, em 2020.

Martha Rodrigues e o gato Mutley, resgatado por ela em 2020 e que deu origem à Guapeco

Martha Rodrigues e o gato Mutley, resgatado por ela em 2020 e que deu origem à Guapeco – Foto: Divulgação/ ND

“Eu havia resgatado um gatinho, e um dos benefícios da empresa em que eu trabalhava eram ótimos para a família, mas não comportava a minha, que éramos eu e o gatinho”, conta à reportagem. Naquele ano, Martha fundou a Guapeco, empresa pioneira no Brasil, que oferta benefícios corporativos para pets.

Em quatro anos de atuação como CEO da empresa, a empreendedora, de 25 anos, percebeu desafios que vão além da rotina de quem decide abrir o próprio do negócio. “A sensação que eu tenho é de que o mercado é bem mais sensível aos erros de uma mulher jovem, à frente de um negócio, do que aos de um homem mais velho”, destaca.

Mais conhecimento, menos empatia

A administradora atua, desde a 2019, na área da tecnologia — meio, predominantemente, masculino e que vem se atualizando ao novo momento da sociedade. “A sensação que eu tinha era de que eu tinha que estudar mais, saber mais, saber o dobro que os demais”, diz Martha sobre o início da carreira.

O sentimento também é compartilhado pela presidente do Banco da Família, Isabel Baggio, maior instituição na área de microfinanças do Brasil. A empresária, formada em Administração, participou da fundação da instituição, em Lages, na Serra catarinense, em 1998. Na época, teve o próprio pai como referência.

Exemplo de empreendedorismo feminino, Isabel Baggio é uma das fundadoras do Banco da Família e atual presidente da instituição

Exemplo de empreendedorismo feminino, Isabel Baggio é uma das fundadoras do Banco da Família e atual presidente da instituição – Foto: Divulgação/ ND

“Naquela época, a representatividade feminina era bastante baixa e a pessoa que mais me inspirou a seguir essa carreira foi o meu pai, que foi empreendedor também”, conta. “O meu processo sempre foi rompendo barreiras”, relembra Isabel.

“Precisamos mostrar o nosso jeito”, diz empreendedora

De gerações diferentes, ambas precisaram se impor diante de um mercado que, em diferentes momentos, desacredita da capacidade das mulheres em liderar e estar à frente de grandes empresas. Para Isabel, estar sempre em busca de conhecimento é uma das principais maneiras de se posicionar e reforçar a própria capacidade.

“A gente precisa enfrentar as situações, querer estar nos postos de liderança, mostrar o nosso jeito de fazer. Dá pra dizer que quando a gente se prepara, tem personalidade forte para tomar decisões e enfrentar embates, a gente pode ser bem sucedido, independente de gênero”, afirma.

O Banco da Família foi fundado e direcionado para pessoas com renda de até três salários mínimos mensais, ofertando empréstimo de até R$ 6 mil. Segundo a empresária, boa parte das pessoas que buscam pela instituição também são mulheres.

“A maioria dos clientes são empreendedoras, ou mulheres que procuram empréstimos para negócios, moradias, saúde, educação e emergências. Saúde, moradia e educação são recursos, principalmente, contratados por mulheres, que se preocupam mais com o bem-estar da família ou são as responsáveis pelos lares”, detalha à reportagem.

Participação de mulheres cresceu 10,4% na abertura de novas empresas em 30 países, aponta relatório

Participação de mulheres cresceu 10,4% na abertura de novas empresas em 30 países, aponta relatório (imagem ilustrativa) – Foto: Freepik/ Reprodução/ ND

Perspectivas para o empreendedorismo feminino

Dados do Relatório de Empreendedorismo Feminino 2023/24, desenvolvido pela principal pesquisa sobre empreendedorismo no mundo, o GEM (Global Entrepreneurship Monitor), mostra que há uma tendência de crescimento na participação feminina no mundo dos negócios.

O levantamento, divulgado nesta terça-feira (19), mostra que houve um crescimento de 10,4% na participação de mulheres na abertura de novas empresas, em 30 países, no período de 2021 a 2023. Uma em cada 10 mulheres iniciou novos negócios em 2023.

As percepções do empreendedorismo feminino melhoraram, significativamente, nas últimas duas décadas, com um aumento de 79% nas oportunidades de negócios percebidas e um aumento de 27% nas habilidades de startup. O levantamento aponta que mulheres mais jovens tendem a empreender, quando comparadas aos homens.

Segundo o relatório, políticas públicas têm papel fundamental no fomento à participação de mulheres na abertura de negócios, rompendo barreiras estruturais e promovendo um ecossistema inclusivo. Ao mesmo tempo, políticas e intervenções devem ser adaptadas a contextos específicos, como facilitação de qualificação, recursos para dependentes e reconhecimento de conquistas para neutralizar estereótipos negativos.

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