Observador estava em busca da sanã-de-cara-ruiva, ave ameaçada que pôde ser fotografada 30 minutos depois. Sanã-vermelha fotografada em propriedade rural de São Carlos (SP)
Flávio Mesquita
A expectativa de reencontrar a sanã-de-cara-ruiva (Laterallus xenopterus) levou o psicólogo aposentado Flávio Mesquita a uma surpresa em dose dupla. Enquanto procurava a espécie em uma área de Cerrado na região de São Carlos (SP), o observador deu de cara com uma sanã-vermelha (Laterallus leucopyrrhus) e acabou conseguindo um lifer para a cidade.
Acompanhado pelo guia Cal Martins, Flávio registrou a ave no dia 23 de outubro. Mal sabia ele que, aproximadamente 30 minutos depois, a desejada sanã-de-cara-ruiva cruzaria seu caminho e ele poderia voltar para casa completamente satisfeito.
“A gente já sabia da ocorrência da sanã-de-cara ruiva nessa área. É um bicho muito arisco, difícil de ser captado. Mas já existe registro de ocorrência dela lá. A gente já tinha tentado umas três vezes e na terceira vez eu consegui um registro fotográfico, mas muito ruim, sabe?”, conta o psicólogo de 58 anos.
“Ela passou muito rápido por um túnelzinho do capim. A luz estava bem ruim. Mas foi possível captar e ver que era a sanã-de-cara-ruiva de fato. O lifer dela já estava feito, mas eu queria muito melhorar a foto”, completa ele.
Sanã-de-cara-ruiva foi registrada no mesmo local, cerca de 30 minutos depois
Flávio Mesquita
Dias depois da visita da dupla, a área onde a ave tinha sido fotografada pela primeira vez pegou fogo e eles precisaram procurar o animal em um local próximo. Ela é considerada Em Perigo (EN) pelo Sistema de Avaliação do Risco de Extinção da Biodiversidade do ICMBio, enquanto a sanã-vermelha não se encontra ameaçada.
“A gente ouviu ela vocalizando, mas ela não aparecia. Não aparecia. A gente insistiu um pouco. E aí a grande surpresa foi que, ao invés de aparecer a sanã-de-cara-ruiva, apareceu a sanã-vermelha”, relembra.
Apesar da preocupação que a presença de uma sanã-vermelha pudesse inibir a sanã-de-cara-ruiva, esta acabou aparecendo 30 minutos depois para a alegria da dupla. “Ficamos com medo porque uma sanã-vermelha é muito maior, ela poderia estar brigando e espantando a de cara-ruiva. Mas não, no final das contas, a gente conseguiu registrar as duas”, diz.
Um ano de observação
Ao Terra da Gente, Flávio Mesquita conta que começou a fotografar aves há um ano e considera a prática muito gratificante e benéfica. O interesse surgiu após ele e a esposa acompanharem a reprodução de um casal de fim-fim (Euphonia chlorotica) da janela de casa.
“Você tá sempre querendo melhorar, querendo ter um resultado melhor na foto e sempre respeitando o animal, né? O comportamento dele, não exagerando em playback. Ela promove um contato muito próximo com a natureza, que pra mim é uma das coisas mais importantes da minha vida”, comenta o observador.
O observador Flávio Mesquita (esquerda) e o guia Cal Martins (direita)
Arquivo pessoal
Um dos feitos comemorados pelo aposentado é ter conseguido registrada 623 espécies de aves em um ano, superando o desafio pessoal de 500 espécies que havia estipulado. Segundo ele, os rapinantes são o grupo mais que lhe encanta.
“Então essa prática tem sido muito gratificante nesse sentido de trazer desafios, trazer muita atividade física, porque você caminha um monte, acorda cedo, tem todo um preparo. Eu pretendo, enquanto conseguir, continuar investindo nessa caminhada”, finaliza.
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