Advogado de médicas vítimas de transfobia quer expulsão de professor do HC de Ribeirão Preto na Justiça


Everton Reis considerou vitoriosa decisão de afastamento, mas espera punições, inclusive, na esfera criminal. Jyrson Guilherme Klamt não quis se pronunciar sobre caso. Louise e Stella se conheceram na faculdade de medicina da USP em Ribeirão Preto, SP, e compartilharam processo de transição
Arquivo pessoal
Advogado das médicas Stella Branco e Louise Rodrigues e Silva, Everton Reis considerou vitoriosa a decisão do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto (SP) de afastar o professor Jyrson Guilherme Klamt, mas afirma que vai buscar na Justiça a expulsão dele do quadro de funcionários.
Klamt é investigado em um caso de transfobia contra as então alunas, que aconteceu em novembro do ano passado.
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Na ocasião, as duas, que são travestis, foram ofendidas e ameaçadas pelo professor no intervalo de uma aula na Faculdade de Medicina da USP. À época, a instituição tinha acabado de implementar o uso livre de banheiros no prédio, conforme identificação de gênero.
“Estamos buscando, no mínimo, ou uma suspensão ou uma pena expulsória. Se nós obtivermos uma pena expulsória, por conta da criticidade da situação, que é um ato ilícito e também um crime, estaríamos, talvez, muito próximos das expectativas que almejamos dentro desses procedimentos”.
A decisão pelo afastamento do professor foi publicada no Diário Oficial do Estado de São Paulo na segunda-feira (5) e é válida por 180 dias. Ele informou que não vai se pronunciar sobre o caso.
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Na quarta-feira (7), dois dias depois do afastamento, Stella se pronunciou dizendo que a ação foi necessária e que o caso não poderia ficar impune.
“Tem um peso muito grande, uma força muito grande, um recado muito grande de que a impunidade não tem mais espaço, de que as pessoas não podem simplesmente, a partir do cargo delas, falarem o que quiserem, invadirem o seu espaço, apontarem o dedo na sua cara, te ameaçarem, romperem com seu momento de celebração, simplesmente porque elas têm essa falsa crença de que estão impunes”.
A médica Stella Branco, que sofreu transfobia de um professor da USP Ribeirão Preto (SP)
Reprodução/EPTV
A publicação do Diário Oficial frisa que “em caso de eventual reincidência, estará o infrator sujeito a penalidade mais severa”.
Klamt continua no quadro docente da FMRP e exerce normalmente as atividades. A faculdade disse que o caso está em fase de apuração interna e que possíveis medidas só serão tomadas após o término das investigações.
Defesa espera punição na esfera criminal
Além de lutar pela expulsão ou suspensão do professor, o advogado das médicas disse que a defesa ainda espera outras punições, principalmente na esfera criminal.
Segundo ele, existe um inquérito policial em andamento e as duas aguardam para serem chamadas para depor.
“A Louise e a Stella permanecem aguardando que a polícia judiciária as busque e inicie as tratativas correspondentes para que ele, sim, responda por esse ato tão gravoso e que nós sabemos que tem um nome: transfobia”.
Stella e Louise se abraçam após conquista da graduação na medicina da USP em Ribeirão Preto, SP
Arquivo pessoal
Tratadas no masculino e ameaçadas
O ataque aconteceu em novembro de 2023. Louise Rodrigues e Silva e Stella Branco, as primeiras alunas travestis da história do curso de medicina, contaram que foram ofendidas e ameaçadas pelo professor.
O caso aconteceu um dia após a faculdade implementar o uso livre de banheiros no prédio, conforme identificação de gênero.
“Esse professor se aproximou já em tom de deboche e ironia sobre a questão do dia anterior [inauguração do banheiro livre] e começou a falar coisas de formas irônicas, pejorativas. Ele emendou e perguntou pra mim qual banheiro eu iria usar a partir de agora. Nesse momento eu devolvi perguntando qual banheiro ele achava que eu deveria utilizar. Ele não respondeu e voltou a falar o quão absurdo ele achava pessoas trans usarem o banheiro de acordo com o gênero que se identificam e que a faculdade já não era mais a mesma”, disse Louise.
Stella e Louíse participam da inauguração do banheiro livre na faculdade de medicina da USP em Ribeirão Preto, SP
Arquivo pessoal
As duas jovens ficaram sem reação ao escutar o professor e disseram que ele prosseguiu com ameaças e ofensas.
“Aí ele se manifesta dizendo que se a gente usasse o banheiro em que a filha dele estivesse presente, a gente sairia de lá morta. Sem contar que durante toda abordagem ele me tratou no masculino. Já era um professor que me conhecia, sabia meu nome, já tinha passado em uma aula com ele e ele já tinha passado por situações de desrespeito com meu pronome, mas nunca direcionado. Dessa vez ele veio diretamente a mim.”
Um boletim de ocorrência foi registrado como injúria racial. Procurado pela EPTV na época, o professor disse que não teve a intenção de constranger as alunas e que nunca fez nenhuma atitude transfóbica.
Assista à reportagem do EPTV2 na íntegra:
Médico do HC é afastado após ofensa a alunas travestis
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