Antônio Ramos Paiva Ferreira voltava da praia com a esposa e o filho pequeno quando foi morto pelo agente, em Praia Grande (SP). Caso ocorreu em 2019. Comerciante Antônio (à esq.) foi morto a tiros por guarda municipal Vagner (à dir.)
Reprodução/Redes sociais e Arquivo pessoal
Vagner Alves de Santana, o guarda civil municipal que virou réu pela morte do ciclista Antônio Ramos Paiva Ferreira, em Praia Grande, no litoral de São Paulo, enfrenta júri popular na manhã desta terça-feira (13). O crime ocorreu no dia 3 de fevereiro de 2019, quando Antônio voltava da praia com a esposa e o filho pequeno.
✅ Clique aqui para seguir o novo canal do g1 Santos no WhatsApp.
Na época, com 29 anos, Antônio foi atingido por três disparos feitos por Vagner na Avenida Ministro Marcos Freire, próximo ao Viaduto 5. Ele estava de bicicleta quando foi ‘fechado’ por um carro prata, que não parou. O réu e outro guarda apareceram em uma viatura e liberaram o condutor do carro. A partir disso, Vagner e Antônio discutiram e a vítima foi baleada no braço direito, tórax e glúteo.
Segundo o inquérito policial, obtido pelo g1, a Justiça pronunciou Vagner pelo crime de homicídio, mas concedeu a ele o direito de recorrer em liberdade. O advogado contratado pela esposa da vítima pediu a prisão preventiva, mas tanto o Ministério Público estadual quanto a Justiça indeferiram a solicitação. Assim, ele não foi preso durante o processo.
Versão do agente
Segundo a Polícia Civil, uma viatura da Guarda Civil Municipal (GCM) estava em patrulhamento pela área quando os guardas presenciaram uma discussão entre um ciclista e o motorista do carro.
O réu disse à corporação que Antônio continuou no local e passou a ofendê-lo. O agente teria entrado na viatura para ir embora quando o ciclista foi em direção ao motorista e tentou tirá-lo de dentro do carro.
No relato, o guarda informou, ainda, que usou o gás de pimenta para tentar conter o ciclista, que mesmo assim foi em sua direção e lhe deu dois socos. O ciclista teria tentado se apoderar da arma e, durante o embate, os dois foram ao chão. Nesse momento, o guarda disparou contra o homem. A ambulância foi acionada e constatou a morte no local.
De acordo com o delegado de Praia Grande Sergio Lemos Nassur, o homicídio envolveu legítima defesa do agente. Na época, a prefeitura informou ao g1 que “o guarda envolvido foi afastado para a apuração, conforme procedimento habitual da Guarda Civil Municipal em casos desse tipo”.
Versão da esposa do ciclista
A esposa de Antônio, no entanto, apresentou outra versão. Segundo ela, naquela tarde, ela estava com o marido e o filho do casal voltando da praia em duas bicicleta. A criança estava na cadeirinha no veículo dela e, Antônio, sozinho. Na confluência com a Avenida Ministro Marcos Freire, a família foi surpreendida pelo carro prata, que entrava no viaduto.
Segundo a jovem, o condutor fez uma curva muito fechada e atingiu a frente da bicicleta de Antônio, danificando-a. Naquele momento, mesmo sendo chamado pelo marido dela, o motorista do carro não parou.
Corpo de Antônio coberto por manta em Praia Grande (SP)
Polícia Científica/Inquérito policial
Na ocasião, Antônio viu a viatura se aproximando e deu sinal de parada. Os dois GCMs desembarcaram, sendo que um estava mais calmo e o outro, Vagner, nervoso e “alterado”. Após um breve contato, o guarda acenou para o motorista do carro prata dizendo que fosse embora.
Antônio questionou o agente sobre o motivo da liberação, momento em que o guarda teria dito: ‘cala boca, seu bosta’ e Antônio retrucou. O outro agente tentou intervir, mas Antônio e Vagner discutiram. Em dado momento, a dupla de agentes foi caminhando até a viatura, e a esposa de Antônio aproveitou para atravessar a avenida.
De acordo com o relato, o marido dela ficou para trás para pegar a bicicleta, que deixou encostada na defensa do viaduto. A mulher continuou pedalando, sentido Vila Mirim, momento em que ouviu dois tiros e, segundos depois, um terceiro.
Não foi afastado
O advogado José Sérgio Boscayno Teixeira, que defendeu Vagner durante o processo, mas não participa do júri popular nesta terça-feira, disse ao g1 que ele não foi preso em nenhum momento. O único afastamento, segundo ele, foi em decorrência de operações no joelho.
“Não foi afastado [da GCM] por conta do processo, ficou meses em licença médica porque operou o joelho, mas já retornou ao trabalho”, afirmou.
O g1 entrou em contato com Armando de Mattos Júnior, advogado que representa o agente no plenário nesta terça-feira, e com a Prefeitura de Praia Grande, mas ainda não obteve retorno até a última atualização da reportagem.
VÍDEOS: g1 em 1 Minuto Santos