O manezinho Rafael Westrupp levou Florianópolis aos “holofotes” do mundo durante a Olimpíada de Paris. O presidente da CBT (Confederação Brasileira de Tênis) foi o escolhido para conceder as honrarias aos atletas que garantiram o pódio no torneio: Novak Djokovic (ouro), Carlos Alcaraz (prata) e Lorenzo Musetti (bronze).
Já de volta a Capital de Santa Catarina, o mandatário concedeu uma entrevista exclusiva à reportagem do Grupo ND na sede da CBT, em Florianópolis.
Entre os assuntos, Westrupp deu detalhes da conversa que teve com Djokovic durante a entrega da medalha nos Jogos de Paris, além disso, reforçou que o tênis brasileiro vive seu melhor momento desde a “era Guga”.
“O tênis nacional passa pelo seu melhor momento pós ‘era Guga’. Não é o Rafael que está falando isso, mas sim os números”, salientou.
Rafael Westrupp também é presidente da COSAT (Confederação Sul-Americana de Tênis) e vice-presidente da ITF (Federação Internacional de Tênis).
Confira a entrevista na íntegra:
ND: Conte mais sobre sua participação na cerimônia de premiação na Olimpíada, por favor.
Rafael Westrupp: É um momento que simboliza a representação de todo um movimento do tênis brasileiro, construído também com a participação de vários catarinenses nos últimos anos. Vivemos um marco temporal nos últimos 20 anos, onde existe um movimento de transformação. Se inicia lá atrás com o ex-presidente Jorge Lacerda, depois eu tive o privilégio de estar presidente neste período dos últimos sete anos. Tive o privilégio de estar junto com o Thomas Bach, presidente do Comitê Olímpico Internacional, neste momento que foi épico. Emoção tremenda, indescritível. Ficou aquela sensação de “será que é verdade”?
O que você falou ao Djokovic no momento da entrega da medalha?
Na hora da cerimônia falei ao Lorenzo sobre a importância de estar no pódio sendo tão jovem, ao Alcaraz falei que na próxima vai ser a dele, ainda é super jovem. E ao Djokovic, não poderia falar menos do que “você merece, lutou e buscou isso até o último minuto da sua carreira”.
Como você avalia a participação do Time Brasil em Paris?
Do tênis, especificamente, tivemos uma performance dentro do esperado. Chegamos a metrificar uma medalha, mesmo sabendo das dificuldades dos Jogos Olímpicos. O tênis não tem fase preliminar, perdeu está fora. Trazemos muitas coisas boas em termos de performance, embora o resultado da medalha não tenha vindo. No geral, tive a oportunidade de acompanhar outros esportes como o vôlei, ginástica, handebol feminino. O que se vê é uma preparação incrível de todos os esportes brasileiros, um ciclo olímpico bem feito e um trabalho estruturado das federações.
O Brasil futuramente tem condições de se tornar uma potência olímpica?
Vejo que é necessário o trabalho de construção de uma política pública do esporte. Isso não pode ficar atrelado exclusivamente as entidades que regem o auto rendimento, como Confederação e Comitê Olímpico. Vejo como uma política pública de país, temos que pensar o esporte como estrutura, não só uma ferramenta obrigatória curricular. O esporte é sim educação. E quando se tiver essa consciência, com uma mudança de cultura, aí sim acredito piamente que vamos subir de patamar.
O que se tira de lição dos Jogos de Paris e qual o momento do tênis nacional?
O tênis nacional passa pelo seu melhor momento pós “era Guga”. Não é o Rafael que está falando isso, mas sim os números. Ainda em 2024, fazendo um balanço do primeiro semestre, tivemos o recorde no número de tenistas na chave principal de Roland Garros. Desde 1988, quase 40 anos depois, tivemos esse número. Foram quatro homens na simples e duas mulheres na simples. Além da simples, tivemos os duplistas, chegando a 13 jogadores brasileiros na mesma chave. Tivemos o aparecimento do João Fonseca, que terminou ano passado como número 1 do mundo juvenil. Temos outros exemplos como a Victoria Barros, a Nauhany Silva, ou seja, temos a realidade dos números que mencionei e a renovação que está a caminho. A geração nascida entre 2006 e 2011 é uma geração que, com a estrutura que temos hoje e a qualidade do material humano, olhamos para o futuro com muita esperança. O melhor ainda está por vir.
Temos condições de produzir um novo Guga?
O Guga é um fenômeno. Ele não é fruto de uma estrutura. Ele é fruto de uma família que acreditou muito, um talento incrível, uma genialidade incomparável, junto com uma peça fundamental que era um treinador obstinado. Hoje os tenistas que vão aparecendo no Brasil são muitos já filhos dessa estrutura que está sendo criada. Pode ser que com toda essa estrutura que temos hoje a gente não tenha um número 1 do mundo de novo. Tomara que tenhamos. A nossa preocupação é que a gente tenha 10 no top 100 e aí dentro disso esses tenistas vão buscar o top 50, top 20 e passo a passo.
Existe a chance de o beach tennis virar esporte olímpico?
É assunto de pauta e reunião de conselho na Federação Internacional. Ela, por sua vez, já está em contato muito mais aproximado do Comitê Olímpico Internacional para que ao menos seja um esporte de exibição na Austrália em 2032. A gente entende que o esporte ainda é muito jovem, uma “criança que aprendeu a andar agora”. Para se tornar olímpico tem uma série de fatores como o número mínimo de países com uma quantidade mínima de praticantes, capacidade de boa qualidade de transmissão, por exemplo. Acho que mesmo como um esporte de exibição já é um grande passo, se isso se confirmar, para que todas as outras variáveis se ratifiquem. Ainda é um caminho longo a percorrer, mas vejo com bons olhos e potencial.