O que é envelhecer sendo negro


Plataforma criada nos EUA enfatiza a importância da inclusão digital e da valorização dos mais velhos para diminuir a desigualdade. Raymond Jetson é de Baton Rouge, capital do estado norte-americano de Louisiana, onde foi eleito representante estadual da Câmara dos Deputados entre 1984 e 1992. A experiência como legislador e pastor o levou a criar a MetroMorphosis – que, como o nome sugere, propõe uma metamorfose das metrópoles e centros urbanos, com o objetivo de conectar cidadãos e organizações para melhorar a qualidade de vida da comunidade. A iniciativa lhe valeu, em 2022, um prêmio da AARP, a poderosa associação dos aposentados nos EUA, voltado para valorizar pessoas acima dos 50 empenhadas em solucionar desafios sociais. De lá para cá, só ampliou sua área de atuação. Acaba de lançar um livro, “Aging while black: a radical reimagining of age and race in America” (“Envelhecendo como negro: uma reinterpretação radical de idade e raça na América”), e quer pôr em discussão a velhice dos afrodescendentes.
Raymond Jetson, autor de “Aging while black: a radical reimagining of age and race in America” (“Envelhecendo como negro: uma reinterpretação radical de idade e raça na América”)
Divulgação
“Cerca de dez mil americanos fazem 65 anos diariamente. O bônus da longevidade permite que vivam mais, mas esse envelhecimento não é igual para todos. Há um ponto em que a idade faz interseção com a raça com indicadores muito claros. A renda de uma família negra acima dos 65 anos é menor do que as de outras etnias, assim como sua poupança. Minha história, marcada por 40 anos dedicados ao serviço público, está intimamente ligada à realidade dos idosos negros. Acompanhei de perto como desigualdades sistêmicas criam barreiras ao longo da existência e o livro é um manifesto e um chamamento para a ação, para mudarmos o modelo mental que ainda vigora. Temos que capitalizar a sabedoria dos velhos”, afirma.
Jetson também criou a plataforma “Aging while black”, para ajudar quem, a despeito dos obstáculos, chegou tão longe. “Não se trata apenas do enfrentamento das iniquidades. Queremos celebrar as tradições, que nos trazem alegria e inspiração”, explica. O trabalho se baseia em três pilares:
Recalibrar a cidade (Recalibrating the village): é fundamental que os centros urbanos se prepararem para o crescimento da população idosa, atendendo a suas demandas em todas as áreas, não se restringindo à saúde – inclusive aquelas para estimular seu potencial. Os sistemas têm que se conectar para o apoio ir além do ambiente familiar. Essa é uma ideia que remonta ao papel histórico de uma cidade: uma comunidade unida pela responsabilidade compartilhada.
Abraçar a inovação (Embracing innovation): a tecnologia e, mais recentemente, a inteligência artificial, são ferramentas de empoderamento e devem estar a serviço dos cidadãos. O fosso tecnológico é uma barreira que afeta desproporcionalmente os negros, por isso é tão importante a inclusão digital de todos.
Aprendendo com sankofa (Learning into sankofa): literalmente, a palavra, que pertence à língua akan, da África Ocidental, significa retornar e buscar. No entanto, sua abrangência é bem maior: representa uma volta ao passado para ressignificar o presente e construir o futuro. O símbolo reúne vários elementos: adquirir o conhecimento e a sabedoria dos antepassados; aprender com os erros para que não sejam cometidos novamente; resistir através da preservação da cultura ancestral. O terceiro pilar aponta para a necessidade da convivência entre as gerações, para que a experiência dos mais velhos se some à energia dos jovens. Numa palestra TEDx local, Jetson resumiu seu sonho: “envelhecer é também garantir que as próximas gerações tenham um lugar à sombra das árvores que plantamos enquanto estávamos aqui”.
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