Gustavo Mioto é certeiro e corajoso ao apontar a mesmice da música sertaneja


♫ OPINIÃO
♩ Todo mundo sabe que, nos últimos anos, a música sertaneja está sendo produzida em escala cada vez mais industrial, seguindo padrões rítmicos e melódicos que se afinam com o mercado. Sem falar nas letras repetitivas. Mas todo mundo mantém um silêncio providencial.
Por isso, é louvável a atitude do cantor, compositor e músico paulista Gustavo Mioto ao apontar a mesmice do gênero no podcast g1 ouviu. Em entrevista às jornalistas Dora Guerra e Marília Neves na tarde de hoje, 21 de janeiro, Mioto foi certeiro, corajoso e direto ao analisar o momento artisticamente ruim do gênero.
“Eu acho que o sertanejo não tem caminhado em questão de qualidade. Não estou generalizando, não é todo mundo do sertanejo que está andando igual curupira, mas a grande maioria tem copiado muito as coisas, tentado fazer mais do mesmo só pelo desespero de fazer dar certo”, disse o artista, em reflexão pertinente.
Até as capas dos discos dos artistas sertanejos parecem reproduzir a mesma estética, e esse molde já está desgastado. Tudo soa igual. E nem sempre foi assim.
Como gênero musical de massa, a música sertaneja sempre foi controlada pela indústria fonográfica. Mas havia diferenças, inclusive vocais. O canto anasalado de Chitãozinho & Xororó é singular. O estilo lacrimoso da dupla Leandro & Leonardo também era diferenciado. Havia identidade no repertório de Zezé Di Camargo & Luciano. E também no cancioneiro de Victor & Leo. Ou mesmo no canto mais pop de Luan Santana.
Na ala feminina, Roberta Miranda e Marília Mendonça (1995 – 2021) conseguiram impor um estilo próprio de canto e composição. Elas não se pareciam com ninguém como cantoras e compositoras.
Tais particularidades parecem diluídas no mercado sertanejo nos correntes anos 2020. Fica difícil diferenciar uma dupla da outra. As letras versam sobre um mesmo universo com poucas variações temáticas. Enfim, a sensação é de quase todos os artistas do gênero estão no piloto automático.
Como o próprio Gustavo Mioto ressalta no podcast g1 ouviu, é injusto generalizar. Claro que sempre um artista ou outro sobressai. Ana Castela, por exemplo, chegou chegando em 2022 ao conectar o sertanejo com ritmos como funk e dance music.
Mas é inegável que a qualidade da música sertaneja já foi bem mais alta dentro dos padrões populares do gênero. Tomara que a fala sincera de Gustavo Mioto dê uma sacudida nos cantores e duplas que disputam um mercado cada vez mais automatizado.
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