Dia do Evangélico: do tradicional ao inclusivo, pastores falam sobre aumento de seguidores e perfil dos fiéis


Data é comemorada neste sábado (30). Segundo Pesquisa Datafolha, divulgada em 2020, 31% da população brasileira é evangélica. Evangélicos celebram em culto de igreja em Brasília.
TV Globo/Reprodução
Cultos cheios, louvores fervorosos e pregações bíblicas fazem parte da vida dos evangélicos no Brasil, uma religião que conta cada vez com mais fiéis (veja abaixo). Neste sábado (30), é celebrado o Dia do Evangélico.
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Segundo Pesquisa Datafolha, divulgada em 2020, 31% da população brasileira é evangélica — as mulheres representam 58% desse total.
Aumento de evangélicos
Culto evangélico em igreja de Brasília.
TV Globo/Reprodução
📌 Os dados do Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2010 consolidam o crescimento da população evangélica: número passou de 15,4% em 2000 para 22,2% em 2010.
Dos que se declararam evangélicos, 60% eram de origem pentecostal, 18,5%, evangélicos de missão e 21,8 %, evangélicos não determinados. Os dados de religião do último Censo, de 2022, ainda não foram divulgados.
📌 No Distrito Federal, o último levantamento da Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios (PDAD), divulgado em 2015, apontava 840.271 evangélicos (tradicionais e pentecostais). O número equivale a 28% da população daquela época.
📌 De acordo com informações da Câmera Legislativa do Distrito Federal (CLDF), em 2023 uma pesquisa apurou que cerca de 33% da população de Brasília é evangélica, o que equivale a mais de um milhão de pessoas.
Apesar de não haver dados mais recentes, o crescimento da comunidade evangélica em Brasília é percebido pelo aumento no número de igrejas, participação em eventos, representação política e impacto social.
O g1 entrevistou os pastores Ricardo Espíndola, presidente da Batista Central e vice-presidente do Conselho de Pastores Evangélicos do DF (Copev-DF), e o pastor Chlisman Toniazzo, líder da Arena Apostólica Church.
Saiba quem são os pastores
Ricardo Espíndola presidente da Batista Central em Brasília.
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Ricardo Espíndola tem 55 anos e foi consagrado a pastor em 2000. Nascido em São Paulo, ele chegou à Brasília antes de completar um ano de idade. Ricardo é neto do pastor Vilarindo Lima, um dos mais reconhecidos líderes da religião evangélica no DF e fundador da Batista Central. A igreja tem mais de 5 mil membros ativos.
Pastor Chlisman Toniazzo da Arena Apostólica Church.
Reprodução
O pastor Chlisman Toniazzo, de 33 anos, cresceu em um lar evangélico e enfrentou a exclusão da comunidade religiosa que frequentava por ser homossexual. Depois de aprofundar os estudos da Bíblia com uma leitura contextualizada e uma abordagem histórico crítica dos textos, ele fundou a Arena Apostólica Church em 2015.
Veja abaixo a entrevista
g1 – O que você acredita que tem impulsionado o crescimento da comunidade evangélica no Distrito Federal nos últimos anos?
Pastor Ricardo Espíndola: O crescimento acompanha primeiramente o crescimento populacional do DF, e muito também pelo fato da facilidade de se implantar igrejas no seio das comunidades. As igrejas evangélicas estão muito perto das pessoas, nas suas ruas, comércios e bairros.
Pastor Chlisman Toniazzo: Acredito que o crescimento do público evangélico está ligado à necessidade humana de encontrar sentido e propósito na vida. A mensagem centrada em Cristo oferece alívio, paz e esperança, elementos fundamentais para enfrentar os desafios da existência. A fé evangélica é dinâmica e, em muitos aspectos, torna-se um suporte essencial para lidar com a realidade.
g1 – Na sua opinião, o que mudou de quando começou para agora?
Pastor Ricardo Espíndola: Nesses últimos 25 anos, observamos um crescimento vertiginoso de igrejas independentes, que não são ligadas a nenhuma convenção ou denominação específica. Essa é uma grande mudança. Outra mudança é o alcance da população jovem através de novas dinâmicas de igrejas modernas.
g1 – Porque a religião evangélica tem atraído tanta gente?
Pastor Ricardo Espíndola: A pregação de um evangelho mais acolhedor nas dores sociais. Pessoas em crises emocionais, problemas de vícios e questões de relacionamento além de crises financeiras, buscam socorro e proximidade de uma força que eles não tem que só pode vir de Deus. E nas igrejas com louvores que conversam com essas dores, e palavras que buscam trazer alívio através de um linguajar mais fluido e simples, atraem pessoas carentes de fé.
Pastor Chlisman Toniazzo: o papel social desempenhado pelas igrejas evangélicas é um fator significativo nesse crescimento. Em muitos casos, elas preenchem lacunas deixadas pelo estado, especialmente em áreas periféricas e negligenciadas pelo poder público. As igrejas cristãs, de forma geral, tornam-se espaços de cultura, socialização e cuidado, promovendo um mínimo de qualidade de vida que é tão necessário.
g1- Como a igreja aborda questões de inclusão e diversidade dentro da comunidade evangélica?
Pastor Ricardo Espíndola: A igreja cristã, seja de qual confissão seja, preza por princípios e valores. Biblicamente intocáveis. Dogmas e declarações são pétreas na igreja. Mas a prática da liturgia, e as formas de culto têm se adaptado a mudanças principalmente culturais. Com estilos musicais, performances teatrais e por assim vai. Nas questões de inclusão e diversidade, Jesus disse – vinde como estais. Não cabe a igreja criar um ambiente refratário e expulsar pessoas. O abraço do Cristo vale para todos, como as escrituras mostraram, tanto os pobres como os discípulos, quanto o rico como Zaqueu, e como a mulher adultera. A salvação é para todos mediante a graça e o amor de Deus.
Pastor Chlisman Toniazzo: A Arena Apostólica Church crê e proclama que o amor de Deus e a mensagem salvadora de Cristo são para todos que reconhecem Jesus como seu único e suficiente Salvador. Essa verdade independe da orientação sexual ou identidade de gênero das pessoas. Na Arena, a comunidade LGBTQIA+ não apenas é bem-vinda para participar dos cultos e atividades, mas também tem a oportunidade de assumir posições de liderança, como o pastorado e outros ministérios. Além disso, celebramos o matrimônio de forma plena e acolhemos todos para desfrutar da comunhão cristã à luz da Palavra de Deus.
g1 – Existe uma cooperação entre diferentes denominações evangélicas? Como isso influencia o crescimento geral da comunidade?
Pastor Ricardo Espíndola: A cooperação se dá pela comunhão entre ministérios e órgãos representativos como o Conselho de Pastores Evangélicos do DF (Copev-DF). E nessa comunhão há sinergia e por consequência crescimento. Hoje há muito poucas barreiras entre igrejas de confissão evangélica.
Pastor Chlisman Toniazzo: Acredito que, de modo geral, existe um alinhamento ideológico e político entre a grande maioria das denominações cristãs evangélicas do Distrito Federal. Embora nem todos esses alinhamentos sejam, necessariamente, positivos ou saudáveis, eles acabam servindo como um meio de fortalecimento institucional, permitindo que essas igrejas ampliem seu alcance e cresçam sobretudo em número.
g1 – Como a igreja lida com a crítica e a resistência de outros segmentos da sociedade em relação ao crescimento evangélico?
Pastor Ricardo Espíndola: Sempre haverá. Já fomos minoria. Perseguidos, criticados, e até mesmo condenados ao fogo do inferno. Porém, a maior resposta que damos, não é justificando erros que por ventura cometemos como todos, mas mostrando o bem que fazemos à sociedade. Uma igreja na rua sempre será melhor que um bar. O que dizer das nossas instituições de ensino, nossas casas de acolhimento a órfãos e idosos, e centros de recuperação de dependentes químicos. O bem que fazemos fala por nós.
Pastor Chlisman Toniazzo: Nossa comunidade de fé, em geral, enfrenta resistência por parte de denominações evangélicas mais tradicionais. No entanto, acredito que a melhor maneira de lidar com as críticas é praticar a autoanálise constante e manter o compromisso de ser a igreja que o mundo necessita: uma igreja fundamentada no amor e alinhada aos princípios do Evangelho.
g1 – Quais são os principais desafios que a sua igreja enfrenta ao ser mais inclusiva?
Pastor Chlisman Toniazzo: Os desafios que enfrentamos são muitos. Entre eles, destacam-se as constantes perseguições e ameaças, especialmente nas redes sociais, simplesmente por pregarmos o amor incondicional de Deus e acolhermos a comunidade LGBTQIA+. Outro grande desafio é desconstruir a ideia equivocada de que a Bíblia condena a homossexualidade, algo que tem levado muitas pessoas LGBTQIA+ a sofrerem profunda angústia mental devido ao discurso religioso conservador.
VEJA VÍDEO: Jovem evangélica do DF fala sobre escolha da religião
Jovem evangélica do DF fala sobre escolha da religião
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