Jornais da época da construção divulgaram informações que, com o passar do tempo, se provaram falsas. Ao longo dos anos, muitos mitos e inverdades foram divulgados a respeito da usina de Itaipu. É natural que um empreendimento deste porte chame a atenção e provoque a disseminação de informações incorretas. Mas, ao longo dos anos, a usina se mostrou confiável e sustentável.
Um dos mitos divulgados nos anos 1980 era que o reservatório poderia estar completamente assoreado em apenas 35 anos. Isto é, pela “previsão”, o lago hoje já não existiria mais. No entanto, o tempo de vida útil do reservatório, estimado por estudos geológicos, é de no mínimo 200 anos – quase seis vezes mais do que previa a tese.
Em relação à possibilidade de assoreamento, tanto Itaipu como todas as grandes empresas do setor elétrico fazem estudos hidrossedimentários periódicos de seus reservatórios. No caso do Lago de Itaipu, ele perdeu apenas um por cento do volume total de 1979 até hoje, sem qualquer prejuízo ao volume de água utilizado para a produção de energia.
Ciclagens diferentes
Em 1977, os jornais brasileiros noticiaram que o Brasil, cedendo a pressões paraguaias, aceitou “alterar” o projeto da usina de Itaipu, para que suas turbinas passassem a operar em dois ciclos, de 60 Hz (utilizada no Brasil) e de 50 Hz, utilizada no Paraguai.
Na verdade, a operação nas duas ciclagens já fazia parte das negociações diplomáticas entre os dois países, com entendimentos nos mais variados níveis. A parceria se deu sem que o Brasil, como sócio com o maior mercado consumidor da energia a ser produzida, simplesmente impusesse suas condições. Para a necessária igualdade de direitos e obrigações, a questão da ciclagem teve papel fundamental, já que, para o Paraguai, era questão de soberania ter metade da usina de Itaipu operando em 50 Hz, e não em 60 Hz, como se a hidrelétrica fosse apenas brasileira.
Sala do Despacho de Carga da Itaipu. – Sara Cheida/Itaipu Binacional
Divulgação
“Obra faraônica”
Economistas não titubeavam em dizer que Itaipu era uma “obra faraônica”, que não teria consumidores para sua energia tanto no Brasil como no Paraguai. O tempo mostrou que, sem Itaipu, o Paraguai teria poucas chances de crescimento, e o Brasil não teria como sustentar os principais centros consumidores de eletricidade.
Mas, de início, esta previsão não estava tão errada. A economia do Brasil deixou de crescer aceleradamente, com a crise do petróleo, iniciada em 1979, e a crise da dívida externa, que eclodiu em 1982. Por consequência, sobreveio uma estagnação que se estenderia pela década de 1980, e o consumo de energia elétrica caiu.
Houve uma reviravolta a partir de 1991, quando a 18ª unidade geradora de Itaipu passou a operar e o Brasil ficou mais dependente da hidrelétrica binacional. A usina chegou a produzir mais de 30% da eletricidade utilizada no país. Erraram os críticos que diziam que Itaipu seria desnecessária, embora a curto prazo estivessem com alguma dose de razão. Mas a infraestrutura não deve ser pensada a curto prazo, apenas, e sim tendo em vista necessidades futuras.
Em 2006 e 2007, como o Brasil precisava cada vez mais de energia elétrica, Itaipu ganhou duas novas unidades geradoras, aumentando sua capacidade instalada de 12.500 megawatts para 14 mil MW. A partir dali, a usina quebrou sucessivos recordes de produção, até chegar à marca histórica de 103.098 megawatts-hora (MWh), em 2016.
A geração em 2022 ficou em 69,8 milhões de MWh, total baixo para os padrões da binacional, mas ainda assim superior à produção somada das duas maiores hidrelétricas totalmente brasileiras: enquanto Tucuruí registrou 32,7 milhões de MWh, Belo Monte produziu 37,1 milhões de MWh. E Itaipu continuou importante para o setor elétrico brasileiro, respondendo por 8,6% do consumo nacional. No Paraguai, atendeu 86,3% do consumo total de energia elétrica naquele ano.