Dez anos da morte de Gaia Molinari: jovem preso por engano foi solto após contratar perícia particular


Verdadeiro assassino de Gaia Molinari nunca foi identificado, 10 anos após o crime. Perito particular explica como provou inocência do cliente. Prisão de Douglas foi motivada por vídeo dele caminhando com mulher parecida com Gaia
O jovem preso por engano por suspeita de envolvimento na morte da turista italiana Gaia Molinari, que teve o corpo localizado em 25 de dezembro de 2014, em Jericoacoara, no Ceará, só conseguiu provar a inocência após uma perícia particular contratada pela defesa dele. O crime completou 10 anos sem a prisão do verdadeiro autor.
Francisco Douglas Sousa, à época com 23 anos, era recepcionista de um hotel em Jeri e foi preso em março de 2016, devido a um vídeo em que ele aparecia caminhando na Vila de Jericoacora ao lado de uma mulher semelhante à Gaia. As imagens são do dia 24 de dezembro de 2014, um dia antes do corpo da turista italiana ser encontrado.
Câmera registrou Gaia caminhando pela Vila de Jericoacoara dois dias antes de ser morta
Antes disso, a polícia tinha obtido uma imagem de Gaia caminhando na mesma região no dia 23 de dezembro, vestindo uma camisa da mesma cor da mulher que aparece com Douglas.
“No caso do Douglas, a polícia tinha imagens da Gaia andando pelas ruas de Jeri usando uma camisa azul piscina e outra imagem captada pelas câmeras de segurança a qual Douglas andava ao lado de uma mulher que usava uma blusa de mesma cor. Para a polícia, essa imagem foi crucial para determinar que aquela mulher era Gaia Molinari”, falou a advogada Adriana do Vale, que foi responsável pela defesa de Douglas.
A italiana Gaia Bárbara Molinari, de 29 anos, foi encontrada sem vida no dia 25 de dezembro de 2014, em Jericoacoara, um dos principais destinos turísticos do Ceará.
Facebook/ Reprodução
Para provar a inocência de Douglas, Adriana contratou o perito forense em Documentoscopia e Grafotecnia, Fernando Vasconcellos, de São Paulo, que analisou tanto o vídeo de Gaia, como o vídeo de Douglas.
Uma das incosistências encontrada pelo perito foi a altura de Gaia e da mulher que aparecia nas imagens com Douglas, que parecia ser menor.
Durante as análises, Fernando usou a técnica de fotogametria, capaz de extrair informações referentes a formas, feições, dimensões e posições de objetos no espaço, através de imagens digitais, com proporções fiéis à realidade.
Perito forense comparou altura das mulheres com as de veículos para ajudar a constatar que não se tratava da mesma pessoa nos dois vídeos.
Arquivo pessoal
Então, ele comparou a altura da italiana com a de um carro que passou ao lado dela, além disso, constatou que no passaporte dela constava que ela tinha 1,68 metros de altura. O mesmo foi feito com a mulher que foi vista com Douglas, que teve a altura comparada com a de um quadriciclo que passou próximo.
“O Douglas tinha uma estatura X, a Gaia uma estatura Y, e quem estava do lado do Douglas no vídeo era mais baixo que o Douglas. Entretanto, a Gaia era mais alta que o Douglas. […] Nesse momento, eu consegui entender que as estaturas eram realmente bem diferentes. Então, eu precisaria comprovar”, explicou Fernando Vasconcellos.
Para fazer essa comprovação, o perito conseguiu localizar a sueca Desiree Elizabet Michaela Wagner, amiga de Doulglas, que mora nos Estado Unidos, e no dia da filmagem estava a passeio em Jeri.
“A Michaela entrou em contato comigo, pedi a habilitação dela, e lá constava cerca de 1,56 de altura. Ela também enviou fotos que mostram ela em Jeri usando a camisa parecida com a de Gaia”, disse o perito forense.
Perícia particular contratada pela defesa de jovem que foi preso por morte de italiana conseguiu provar que quem aparece com ele em um vídeo não é Gaia, mas sim outra turista que usava uma camisa da mesma cor da vista com a vítima.
Reprodução
“Então, ficou comprovado, através das medições que eu consegui fazer, nas fichas técnicas dos veículos, que eu pude observar nas câmeras de segurança, comprovaram, através dos documentos pessoais, todas as estaturas que eu peguei, através das pesquisas, eram exatamente aquelas que estavam estampadas nos documentos pessoais de cada uma. Desse modo, conseguimos entender que o Douglas estava nas imagens, obviamente, mas quem estava com ele não era a Gaia Molinari, e sim a Micaela. Se colocasse a Gaia e a Micaela lado a lado, a Micaela bateria no ombro da Gaia. Desse modo, conseguimos entender que o Douglas estava nas imagens, obviamente, mas quem estava com ele não era a Gaia Molinari, e sim a Michaela. Se colocasse a Gaia e a Michaela lado a lado, a Michaela bateria no ombro da Gaia.”, concluiu o perito.
Ouça a íntegra da entrevista com o perito Fernando Vasconcellos:
Perito forense Fernando Vasconcellos explica como provou que jovem não matou Gaia Molinari
Soltura
Douglas Sousa foi solto após ficar 44 dias preso por um crime que não cometeu.
TV Verdes Mares/ Reprodução
Após essa constatação, a advogada Adriana do Vale entrou com um pedido de revogação da prisão temporária de Douglas com base na perícia realizada, que também foi anexada ao inquérito policial. Depois de passar 44 dias preso, o jovem foi solto.
“A defesa técnica se utilizou do Instituto da Investigação Defensiva, o que foi essencial para garantir o princípio da ampla defesa, assegurando que o Douglas tivesse a oportunidade de contestar as acusações contra ele. De imediato acionamos Dr. Fernando de Vasconcelos, perito forense do Estado de São Paulo, para analisar as imagens de segurança o que foi fundamental para descartar Douglas definitivamente como suspeito”, disse Adriana do Vale.
Ao sair da prisão, o jovem disse em entrevista à TV Verdes Mares, afiliada da Globo, que “se sentiu humilhado”. Após o ocorrido, Douglas deixou o Ceará e foi morar na Alemanha. Ele só retorna ao Estado em alguns períodos do ano, para visitar a família em Sobral.
“Esse trabalho foi de fundamental importância , porque o Douglas não tinha outra opção, ele não tinha outra oportunidade de buscar a inocência dele. Para todos, devido à câmera de segurança, ele era culpado”, avaliou Fernando sobre a importância da perícia.
Investigação
Em nota, a Polícia Civil informou continua investigando o homicídio da turista italiana, ocorrido em dezembro de 2014, no município de Jijoca de Jericoacoara. O caso está a cargo da 10ª Delegacia do Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP).
” Logo após o crime, a Polícia Civil empregou uma grande força-tarefa que contou com apoio de delegacias da região, do DHPP, da Delegacia de Proteção ao Turista (Deprotur) e da Polícia Militar do Ceará (PMCE). Foram realizadas diligências ininterruptas por vários dias na região. Durante os trabalhos policiais, 26 pessoas foram ouvidas pela PCCE. À época, uma mulher e um homem foram presos temporariamente durante o período das diligências, e posteriormente, foram soltos pelo Poder Judiciário. A PCCE concluiu que ambos não estavam na companhia da vítima”, disse a Polícia Civil.
Ainda segundo a corporação, à época, uma falha em um circuito de câmeras de segurança instaladas no caminho que leva ao Serrote, local onde a vítima foi encontrada, comprometeu os trabalhos policiais.
“Um pico de energia na área comprometeu as câmeras, que ficaram sem funcionamento no percurso por onde a vítima passou”.
Durante esses 10 anos de investigação, conforme a polícia, dezenas de laudos técnicos foram solicitados para chegar à autoria do crime.
A Perícia Forense do Estado do Ceará (Pefoce), por meio da Coordenadoria de Perícia Criminal (Copec), produziu e entregou cinco laudos, sendo três de informática, um de local de crime e um de documentoscopia.
A Coordenadoria de Análises Laboratoriais Forenses (Calf) produziu 39 laudos no total, sendo 35 do Núcleo de DNA Forense (dez laudos com vestígios coletados de local de crime e 25 laudos de investigação de crime sexual) e dois laudos do Núcleo de Bioquímica e Biologia Forense (pesquisa de sêmen), que concluíram que não houve estupro;
Dois laudos do Núcleo de Toxicologia Forense (pesquisa de álcool e drogas em sangue). A Coordenadoria de Medicina Legal (Comel) da Pefoce produziu o laudo cadavérico da vítima.
Além disso, a Coordenadoria de Medicina Legal (Comel) da Pefoce produziu o laudo cadavérico da vítima.
“Por fim, a Polícia Civil informa que mesmo com todos os esforços empregados para elucidação do caso, as diligências e perícias realizadas até o momento, ainda não foi possível identificar o autor do crime. Os trabalhos policiais seguem em andamento pela 10ª Delegacia do DHPP, com o intuito de descobrir novos fatos que possam contribuir para a elucidação e motivação do crime”, afirmou a polícia.
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