Três ex-policiais rodoviários federais acusados por homicídio e tortura vão a júri popular nesta terça-feira (26); julgamento deve levar sete dias, segundo a Justiça Federal. Mãe de Genivaldo Santos
Leonardo Barreto/g1/Arquivo
Às vésperas de acompanhar, nesta terça-feira (26), o julgamento dos ex-policiais rodoviários federais acusados de envolvimento na abordagem que resultou na morte do filho, Genivaldo de Jesus Santos, de 38 anos, a mãe dele, Maria Vicente de Jesus, disse que espera por Justiça.
‘Queria perguntar para eles porque foi que eles mataram ele [..].quero que seja feita a Justiça, que eles paguem pelo que fizeram”, disse.
Genivaldo morreu, no dia 25 de maio de 2022, após ter sido trancado no porta-malas de uma viatura da PRF e ser submetido à inalação de gás lacrimogêneo na BR-101, no município de Umbaúba (SE). Ele havia sido abordado por policiais rodoviários federais por estar pilotando uma motocicleta sem capacete.
Para a irmã de Genivaldo, Damarise de Jesus, que presenciou a abordagem policial, o julgamento é um desfecho muito aguardado. “Espero que a Justiça seja feita e que a morte do meu irmão não fique impune [..] o que fizeram com o meu irmão não se faz nem com um animal’.
O Júri Popular será iniciado nesta terça-feira (26), na cidade de Estância, a 70 km de Aracaju, e deve durar sete dias. Paulo Rodolpho Lima Nascimento, Kleber Nascimento Freitas e William de Barros Noia são acusados pelos crimes de tortura e homicídio triplamente qualificado.
A defesa de Paulo Rodolpho alega que ele é inocente e afirmou que ex-policial seguiu os protocolos da PRF. Já o advogado de Kleber Nascimento alega que a tipificação dos crimes é equivocada e que ele não teve participação em nenhuma. A defesa William de Barros não foi localizada. [Veja vídeo].
Os réus estão presos desde 14 de outubro de 2022, e foram demitidos da PRF após determinação do Ministro da Justiça.
Como foi a abordagem
Nas imagens da abordagem, gravadas por testemunhas, a perícia observou que o policial William de Barros Noia apareceu pedindo para que Genivaldo colocasse as mãos na cabeça. Genivaldo obedeceu, mas mesmo assim, recebeu um jato de spray de pimenta no rosto.
Segundo os peritos, o policial Kleber Nascimento Freitas jogou spray de pimenta pelo menos cinco vezes em Genivaldo, que alegou que não estava fazendo nada. A ação continuou no chão, quando policiais pressionaram o pescoço e o peito de Genivaldo com os joelhos.
Perícia afirma que gases tóxicos causaram colapso no pulmão de Genivaldo
Após Genivaldo ser colocado no porta-malas da viatura, o policial Paulo Rodolpho Lima Nascimento jogou uma granada de gás lacrimogêneo no compartimento. Paulo Rodolpho e William seguraram a porta, impedindo que a fumaça se dissipasse mais rapidamente.
A perícia feita pela Polícia Federal durante as investigações concluiu que a vítima passou 11 minutos e 27 segundos em meio a gases tóxicos, dentro de um lugar minúsculo e sem poder sair da viatura estacionada.
Com a detonação do gás lacrimogêneo, houve a liberação de gases tóxicos, como monóxido de carbono e ácido sulfídrico. Os peritos atestaram que a concentração de monóxido de carbono foi pequena, mas a de ácido sulfídrico foi bem maior, e pode ter causado convulsões e incapacidade de respirar.
Segundo a perícia, o esforço físico intenso e o estresse da abordagem aceleraram a respiração de Genivaldo, e isso pode ter potencializado ainda mais os efeitos tóxicos dos gases. A perícia constatou que os gases causaram um colapso nos pulmões dele.
Genivaldo de Jesus Santos, morto durante ação da PRF, em Umbaúba (SE)
Arquivo pessoal
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