Agronegócio x logística: por que a modernização da infraestrutura é necessária?

Agronegócio x logística: por que a modernização da infraestrutura é necessária?

Agronegócio representa mais de 20% do PIB do Brasil, mas existem desafios, como a dependência do transporte rodoviário e as más condições das estradas – Foto: Divulgação

O agronegócio é um dos pilares da economia brasileira quando se fala em produção e exportação de alimentos. A logística, por sua vez, desempenha um papel crítico e é essencial para garantir que produtos cheguem ao mercado.

A interação entre a infraestrutura logística e o agronegócio é importante para aprimorar as oportunidades do cenário agrícola e a competitividade do Brasil no contexto global. Com extensas áreas rurais e uma variedade de produtos, o Brasil enfrenta desafios logísticos que podem causar prejuízos ao setor agro.

A falta de investimentos adequados em infraestrutura reduz a eficiência do transporte e, consequentemente, afeta a lucratividade dos produtores.

Importância do agronegócio para a economia brasileira

Levando em conta a situação atual e o desempenho geral da economia brasileira, o agronegócio deverá representar 21,8% do PIB total do Brasil em 2024, de acordo com o Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada).

Apesar de o desempenho ter sido menor que no ano anterior, essa contribuição se deve a uma alta produtividade e à adoção de tecnologias avançadas. As lavouras de soja e milho, por exemplo, são responsáveis por uma parte considerável desse rendimento.

O setor agrícola fornece alimentos, mas também gera empregos e renda, beneficiando diversos níveis da economia. O Brasil se destaca como o principal produtor de soja no mundo, com uma previsão de 169 milhões de toneladas para a safra de 2024/2025.

As commodities agrícolas têm um papel-chave nas exportações do Brasil, com destaque para soja e carnes. A exportação de açúcar também desempenha papel relevante. Entre janeiro e outubro de 2024, o Brasil enviou ao exterior mais de 30 milhões de toneladas de açúcar, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).

Essa dinâmica econômica se reflete na balança comercial e na captação de divisas, sendo fundamental para a estabilidade econômica nacional.

Desafios logísticos do agronegócio no Brasil

A logística do agronegócio brasileiro é fortemente dependente do modal rodoviário. Cerca de 75% dos produtos transportados no Brasil utilizam rodovias, segundo pesquisa realizada pela Fundação Dom Cabral. Essa dependência resulta em vulnerabilidades provenientes da deterioração das estradas e da falta de manutenção.

Diversificar os modais de transporte, incluindo ferrovias e hidrovias, pode oferecer soluções mais sustentáveis e econômicas.

Vale lembrar que os custos logísticos no Brasil são maiores que em muitos outros países. Segundo a Associação Brasileira de Operadores Logísticos, em 2023, os custos logísticos no Brasil corresponderam a 18,4% do Produto Interno Bruto (PIB). O transporte foi o principal fator, respondendo por 9,30% do PIB.

A isso se somam fatores como a insegurança nas estradas, que força as empresas a investirem em proteção e rastreamento. Os altos preços dos combustíveis e a ineficiência das rotas contribuem para o aumento desses custos.

O que é preciso para modernizar a infraestrutura das estradas

Algumas das soluções para tornar as estradas mais modernas e com melhor desempenho em termos de infraestrutura são os investimentos para as melhorias, o uso de tecnologias de monitoramento em tempo real para manutenção preditiva, o aprimoramento da sinalização, as tecnologias free flow e a conectividade das rodovias.

Aumento dos investimentos

Antes de tudo, para modernizar a infraestrutura das estradas no país é necessário investimento. A Pesquisa CNT de Rodovias 2024 estima a necessidade de um investimento de R$ 99,7 bilhões para restaurar e manter a malha viária no país.

O estudo avaliou 111.853 quilômetros de rodovias pavimentadas no Brasil, abrangendo trechos federais e estaduais, para analisar o estado geral das vias em aspectos como pavimento, sinalização e geometria.

Os resultados indicaram avanços modestos na qualidade das rodovias, destacando a necessidade de maior investimento em infraestrutura para garantir segurança e eficiência no transporte de pessoas e mercadorias.

A pesquisa também apontou que rodovias privadas apresentam melhores condições em comparação às públicas, além de uma redução de 7,6% nos pontos críticos em relação ao ano anterior.

Segundo o governo federal, em 2024, o Brasil destinará R$ 24 bilhões para a modernização da infraestrutura de transporte, representando um aumento de 200% em comparação aos R$ 8 bilhões investidos em 2022. Esse crescimento é um reflexo do Novo PAC. No primeiro ano do governo Lula, em 2023, foram aplicados R$ 14,44 bilhões na malha rodoviária federal.

Tecnologias de monitoramento em tempo real

O uso de tecnologias de monitoramento em tempo real para manutenção preditiva representa uma abordagem moderna na gestão da infraestrutura rodoviária. Por meio de sensores instalados nas estradas, é possível coletar dados sobre as condições da pavimentação, tráfego e desgaste dos materiais.

Esses sensores monitoram continuamente fatores como temperatura, umidade e vibrações, permitindo que as autoridades identifiquem problemas antes que se tornem críticos. A análise desses dados em tempo real possibilita uma resposta célere.

Além disso, a manutenção preditiva, apoiada por tecnologias como inteligência artificial, permite que as equipes de manutenção planejem intervenções de forma mais estratégica. Com a análise preditiva, é possível estimar quando e onde as manutenções serão necessárias.

Melhoria na sinalização

Estradas bem sinalizadas reduzem a probabilidade de acidentes. A sinalização adequada inclui placas informativas, faixas de pedestres, semáforos e iluminação, todos fundamentais para orientar e alertar os motoristas sobre condições da via, limites de velocidade e perigos potenciais.

Com a modernização da infraestrutura, é possível implementar tecnologias avançadas, como sinalização eletrônica e sistemas de alerta em tempo real, que adaptam as informações exibidas conforme as condições do tráfego e o clima.

Tecnologias free flow e conectividade das rodovias

Outro ponto importante é o uso de tecnologias como o free flow para cobrança eletrônica de pedágios, que elimina a necessidade de paradas, o que aumenta a eficiência logística e reduz congestionamentos.

Agronegócio representa mais de 20% do PIB do Brasil, mas existem desafios, como a dependência do transporte rodoviário e as más condições das estradas – Foto: Divulgação

A conectividade das rodovias é outra prioridade, com investimentos em infraestrutura digital para melhorar a comunicação entre gestores, usuários e sistemas de controle. Essas iniciativas podem promover uma integração mais eficaz entre órgãos como a ANTT e o DNIT, além de facilitar a prestação de serviços para os motoristas.

Diversificação da infraestrutura para a logística no agronegócio

O modal rodoviário tem sido tradicionalmente o mais utilizado para o transporte de grãos e produtos agrícolas no Brasil. No entanto, esse modelo enfrenta desafios, como a precariedade das estradas e o alto custo do diesel.

Alternativas como o transporte ferroviário e hidroviário estão ganhando espaço. De acordo com Sérgio Mendes, diretor-executivo da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), um estudo realizado pela EsalqLog/USP identificou mudanças importantes para o transporte de grãos no Brasil entre 2010 e 2023.

A pesquisa mostra que a participação do transporte rodoviário diminuiu no escoamento interno de soja e milho, enquanto a dependência de caminhões nas exportações aumentou. No caso do milho, o uso de caminhões caiu de 84% para 76%, enquanto o transporte ferroviário subiu de 15% para 17% e o hidroviário passou de 1% para 8%.

A malha ferroviária é especialmente eficaz para longas distâncias, pois reduz custos e aumenta a eficiência operacional. O transporte hidroviário aproveita os rios, oferecendo uma opção sustentável para escoar grandes volumes de carga.

Os portos também são importantes para o escoamento da produção agropecuária para exportação, mas a infraestrutura portuária brasileira, embora extensa, apresenta gargalos.

Impactos da logística no agronegócio

A logística ineficiente no país afeta o agronegócio brasileiro e pode gerar uma série de desafios que impactam negativamente a cadeia agropecuária, com prejuízos que podem chegar à casa dos bilhões.

A dependência excessiva do transporte rodoviário, aliada à falta de infraestrutura adequada, resulta em altos custos que também estão presentes em toda a estrutura de produção. As longas distâncias para escoar os produtos dificultam o acesso ao mercado, além de aumentarem o risco de desperdício.

A deterioração da qualidade de produtos perecíveis é também uma consequência de atrasos na entrega, o que pode afetar não apenas o preço de venda final, mas também gerar despesas adicionais com armazenamento. Assim, a uma má infraestrutura logística pode ter um efeito cascata, impactando a sustentabilidade dos negócios no setor agro.

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