Estar conectado com o aqui e agora da vida no Cerrado do Planalto Central do Brasil é sinônimo de felicidade para Carlos Lin. O artista que trabalha com múltiplas linguagens acredita que a relação direta com os materiais que utiliza, seja numa perspectiva ecológica ou poética, cria um embate amoroso com a matéria do mundo. É assim que ele tem definido o processo criativo de seu trabalho.
Ao longo de uma carreira, Lin tem se destacado por sua capacidade de transitar entre diferentes linguagens das artes visuais. Desenho, fotografia, escultura, vídeo e instalação são apenas algumas das ferramentas que ele utiliza para dar forma ao seu pensamento.
Através de suas obras, o artista oferece ao público um pedaço de seu universo, que, ao ser compartilhado, nunca deixa de provocar múltiplas leituras. E isso pôde ser visto na sua última exposição Pra Você (O mistério enunciado pela palavra/texto perdido na ponta da língua), exibida na galeria Referência, em Brasília. O trabalho é um exemplo claro dessa dinâmica entre criador e espectador, explorando não apenas formas e materiais, mas também o poder da linguagem e do enunciar.
“A exposição é um recorte de minha trajetória e do modo como lido com as linguagens. Não se trata de um compilado de trabalhos antigos, mas de um novo olhar sobre essas produções ao longo de uma década“, conta.
Segundo o artista, a ideia inicial foi pensar a ocupação do ambiente de maneira que as obras dialogassem entre si, mantendo a coesão. Em parceria com a curadora Renata Azambuja, foi feita uma seleção de trabalhos produzidos entre 2015 e 2024, que ilustram a constante experimentação do artista com diferentes meios e suportes.
“Para mim, a exposição representa um ponto de afeto positivo na minha vida e para minha carreira, significa uma conquista a mais, na medida em que a exposição entra num outro âmbito de inscrição no sistema das artes visuais contemporâneas da capital do país. É uma satisfação muito grande poder fazer parte desse circuito e a exposição sedimenta mais ainda meu vínculo com o circuito produtivo da arte contemporânea na capital, que se estende desde os anos de 1980”, revela.
Múltiplas linguagens
O uso de várias linguagens é uma característica central da obra de Carlos, que vê a prática não como uma escolha, mas como uma necessidade intrínseca à sua pesquisa. “Desde os anos 1980, sempre busquei construir minhas obras com diferentes formas de expressão, como o desenho, a fotografia, o vídeo, entre outros. Isso não é uma novidade para mim, mas sim uma constante na minha busca por significados e formas de comunicar“, destaca o artista.
Essa abordagem permite que o público se conecte com as obras de diferentes maneiras, dependendo de sua experiência e interpretação, oferecendo uma pluralidade de sentidos, sempre em aberto, e convidando o espectador a uma nova leitura.
O título escolhido para a exposição — Pra Você (O mistério enunciado pela palavra/texto perdido na ponta da língua) — sintetiza a proposta de Carlos Lin ao explorar o mistério da enunciação, da comunicação e da interpretação. “Remete a uma entrega, a um oferecimento de algo que fica, ao mesmo tempo, disponível para o público em geral, mas que tem um caráter íntimo e específico. Muitas das minhas obras são dedicadas a pessoas importantes em minha vida, mas ao mesmo tempo, a obra se abre para todos aqueles que a veem e interpretam de forma única“, explica.
Essa ambiguidade do enunciar, o “mistério perdido na ponta da língua”, é um dos pilares da pesquisa do artista. Para ele, a obra nunca está totalmente concluída, pois a interpretação do público sempre a transforma, o que reforça a ideia de que a comunicação está sempre envolta em mistérios e múltiplas possibilidades.
Reflexo da vida
Natural de Barretos, interior de São Paulo, Carlos Lin cresceu em um ambiente rural, onde sua primeira aproximação com as artes ocorreu de forma autodidata. “Comecei com o desenho, depois a pintura, a escultura e, aos poucos, fui incorporando outras linguagens, como a fotografia”, lembra.
Sua obra, marcada por uma forte conexão com o universo rural, também reflete uma sensibilidade cosmopolita, resultado de sua formação em História pela Universidade de Brasília (UnB) e de sua vivência na capital, local escolhido para estudar e onde se firmou pessoal e profissionalmente.
Além de artista, Carlos é historiador da arte, curador, crítico e educador. Sua atuação no campo da arte-educação, especialmente com a psicologia e a psicanálise, é um aspecto fundamental de sua prática. Foi educador na Clínica Ananke, onde coordenou um atelier de arte-terapia durante mais de uma década, e sua pesquisa sempre foi permeada pelo diálogo entre esses campos, buscando entender as relações entre o indivíduo, sua subjetividade e a arte.
Nos últimos anos, o artista tem se dedicado ao estudo de materiais naturais, como barro, madeira, capim, e até a fibra da palmeira azul, que utiliza em suas obras de cestaria contemporânea, e fortalecer ainda mais seu vínculo com o circuito da arte contemporânea de Brasília.
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