Rio Preto registra queda de 9% no número de doadores de medula óssea; veja como funciona o procedimento


Cadastro de novos doadores diminuiu no 1º semestre de 2024, em comparação ao mesmo período de 2023, na região de São José do Rio Preto (SP); médico diz que ainda há desinformação sobre o transplante de medula. Engenheiro José Oliveira, de MG, com a equipe do Hospital de Base de Rio Preto, onde recebeu transplante de medula óssea para tratar leucemia, em 2021
Arquivo pessoal
O número de doadores de medula óssea caiu no primeiro semestre deste ano na região de São José do Rio Preto (SP), em comparação com o mesmo período de 2023. O transplante é utilizado para a cura da leucemia e de outros tipos de câncer de sangue.
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Neste mês, a família de uma menina de quatro anos, diagnosticada com leucemia linfoide aguda (LLA), iniciou uma campanha para conscientizar a população.
De acordo com os dados do Registro Nacional de Voluntários Doadores de Medula Óssea (Redome), neste ano, entre janeiro e junho, 1.788 pessoas se cadastraram como doadoras no hemocentro de Rio Preto e no hemonúcleo de Catanduva, que estão vinculados à Fundação Faculdade de Medicina de Rio Preto (Funfarme).
A estatística representa uma redução de 9,5% em relação aos 1.977 doadores cadastrados durante o mesmo período de 2023.
A falta de informação é o principal entrave para a doação de medula óssea. O médico João Victor Piccolo Feliciano, líder do Setor de Transplante de Medula Óssea da Funfarme, explica que ainda há muita desinformação.
“As pessoas confundem medula óssea com medula espinhal. Uma não tem ligação com a outra. Quem vai doar medula não precisa se preocupar porque não vai ter sequela neurológica, não vai sair aleijado, nada disso”, explica o médico.
Mobilização
Recentemente, a família de Vitória Cartache Martins Quelins, de Potirendaba (SP), iniciou uma campanha para conscientizar e conseguir doadores, depois que a menina, de quatro anos, foi diagnosticada, no início de novembro, com leucemia linfoide aguda (LLA).
Por enquanto, ela faz tratamento com quimioterapia até verificar a necessidade de receber uma medula óssea. Mas, segundo a família, independente de uma indicação de transplante para Vitória, o objetivo da campanha é garantir mais doadores e ajudar outros pacientes que sofrem com câncer e outras doenças.
Vitória Quelins, 4 anos, com a mãe Carolina: menina, que mora em Potirendaba, começou tratamento de quimioterapia no HCM de Rio Preto depois de descobrir uma leucemia
Arquivo pessoal
O drama de Vitória começou em agosto, quando surgiu a suspeita de anemia, ao passar por consulta pediátrica em Potirendaba. Os primeiros sintomas que a menina apresentou foram dores de cabeça e fraqueza. Em seguida, apareceram duas manchas vermelhas grandes nas laterais das nádegas.
No momento, a paciente faz tratamento no Hospital da Criança de Maternidade (HCM) de São José do Rio Preto.
Tutano do osso
A medula óssea é um tecido líquido que ocupa o interior dos ossos, sendo conhecida popularmente por “tutano”. Na medula óssea são produzidos os componentes do sangue. Por isso, ela é considerada a “fábrica sanguínea”.
Quando surge um problema, como a leucemia, um câncer maligno que se inicia nas células-tronco da medula, essa produção fica comprometida. A pessoa começa a sentir cansaço, perda de peso, infecções frequentes, sangramento fácil e hematomas.
De acordo com o médico João Feliciano, o transplante de medula é fundamental para a cura da leucemia, do linfoma e de outros tipos de cânceres que são mais resistentes à quimioterapia.
Médico José Piccolo Feliciano, líder do Setor de Transplante de Medula da Funfarme/Rio Preto: pessoas confundem com medula espinhal
Funfarme/Divulgação
Para o transplante, geralmente é extraída a medula do osso da bacia (quadril) do doador. A coleta é feita de duas maneiras: pela punção direta, processo que leva em média 90 minutos, com anestesia local; ou pela administração de um remédio que, após quatro dias, provoca a expulsão da medula óssea para a circulação sanguínea, de onde é coletada, como na extração de sangue.
Em seguida, a medula doente do paciente é substituída por uma saudável, por meio de um cateter, diretamente na veia. O prazo para a medula “pegar” no receptor e começar a produzir um novo sangue é de, geralmente, 28 dias. “É um período muito perigoso para pegar infecções porque a imunidade está baixa”, explica.
Como o paciente não consegue produzir sangue nesse período, é necessário receber seguidas doações. “Tem que repor as hemácias e as plaquetas. Então, a gente conta também com os doadores de sangue para ajudar nesse processo”, reforça Piccolo.
A população pode ajudar por meio das doações de sangue e do cadastramento como doador de medula óssea, no hemocentro mais próximo.
“Muitos doentes não encontram doadores na família. Então, o cadastro de doadores precisa sempre ser atualizado para que haja uma possibilidade maior de cura das pessoas”, afirma Piccolo.
Outra dúvida comum entre voluntários é que eles procuram o hemocentro imaginando que a doação da medula óssea será imediata. No entanto, não há um tempo preestabelecido.
Gesto de amor
Na contramão dos índices está a história do químico industrial Lennon Pereira Caires, de 32 anos, morador de São José do Rio Preto, que, no ano passado, levou um susto ao receber a ligação de um hemocentro do Rio de Janeiro (RJ), 13 anos depois de ter preenchido o cadastro em Rio Preto.
Lennon Caires, de Rio Preto, que doou medula óssea para o tratamento de um bebê de dois anos do RJ
Arquivo pessoal
Ele nem se lembrava que era doador de medula, mas concordou na hora em ajudar no transplante, principalmente ao saber que o paciente era um bebê de aproximadamente dois anos. “Tinha acabado de me tornar pai. Fiquei imaginando o desespero da família desse bebê”, conta Lennon.
Verificada a compatibilidade, o doador escolheu coletar a medula em Rio Preto, por meio da técnica de punção. Para isso, foi internado um dia antes e passou por alguns exames. Após a doação, ficou mais um dia hospitalizado para acompanhamento.
“Foi um processo bem tranquilo. A região lombar ficou um pouco dolorida durante uma semana, mas depois passou”, conta.
Uma nova chance
José Augusto em três momentos do tratamento contra leucemia: na quimioterapia (esq.); a infusão da nova medula (centro); e ao saber que a medula ‘pegou’ (direita)
Arquivo pessoal
O transplante de medula óssea é a única chance de sobrevivência para dezenas de pacientes. Era o caso do engenheiro de produção José Augusto de Oliveira, de 30 anos, que, por questões de logística e melhores condições de atendimento, teve que se deslocar de Poços de Caldas (MG) para Rio Preto, em 2021.
Ele foi submetido ao procedimento para tratar uma Leucemia Linfoide Aguda (LLA), diagnosticada aos 26 anos.
Depois de não obter sucesso ao tentar compatibilidade com a irmã dele, foi acionado o Redome. A medula de que José Augusto precisava estava em um doador de Florianópolis (SC). Além do transplante, ele enfrentou a quimioterapia e recebeu 100 transfusões de sangue e de plaquetas durante o tratamento.
“Foram dois anos de muita luta, medos, dores, angústias, transfusões de sangue e transplante de medula óssea, mas a vitória chegou”, conta José Augusto.
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