Piloto acusou VoePass de pressionar profissionais para trabalhar além das escalas

Piloto acusou VoePass de pressionar profissionais para trabalhar além das escalasESTADÃO CONTEÚDO

Durante audiência pública da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), realizada em junho deste ano, o piloto Luís Cláudio de Almeida acusou a Voepass de fazer pressão para que pilotos trabalhassem fora da escala de trabalho e em seus dias de folga, o que causaria fadiga e aumentaria o risco de acidentes. “Não queremos entrar nessa estatística”, disse o piloto.

A Voepass é a empresa responsável pelo avião que caiu na tarde de sexta-feira (9), em Vinhedo, no interior paulista, vitimando 62 pessoas. Procurada pelo jornal O Estado de S. Paulo, ela afirmou que “cumpre com todos os requisitos legais, considerando jornadas e folgas, de acordo com o regulamento brasileiro da Aviação Civil RBAC-117 que disciplina a jornada e gestão da fadiga dos tripulantes”. A publicação não conseguiu contato com o piloto.

Segundo Almeira, a companhia aérea chegava a ligar para ele durante seu período de descanso. “A empresa, às vezes, me liga para fazer um voo: ‘Vai, vai que dá’”. Almeida diz que recusava, porque na escala “diz que não é para ir”, mas a empresa insistia: “vai, vai, vai que dá”.

“Às vezes, quando você acorda, tem oito ligações da escala, quando você está de folga. Eu estava de folga e precisei desligar meu celular”, relatou Almeida.

Ele diz ainda que, além do excesso de trabalho, os pilotos muitos vezes não recebem alimentação adequada durante os voos e não têm condução para realizar o deslocamento até o aeroporto, o que aumenta o desgaste e o tempo dedicado ao trabalho. Para o piloto, esse tipo de atitude pode aumentar o risco de acidentes aéreos.

“Eu não quero que vocês liguem aí um jornal, um celular, ou vejam no YouTube, desastres aéreos. Não queremos entrar nessa estatística”, afirmou durante a audiência, que discutia mudanças no RBAC (Regulamento Brasileiro da Aviação Civil) 117. O processo busca alterar requisitos relativos ao gerenciamento do risco de fadiga de tripulantes. Ele entrou em consulta pública em 11 de junho e segue em discussão.

A principal hipótese para a queda do avião em Vinhedo, porém, não envolve diretamente a fadiga do piloto, e sim as condições climáticas. Segundo especialistas, a perda de sustentação da aeronave pode estar associada à formação de gelo nas asas do avião. No entanto, ainda é preciso aguardar a conclusão das investigações e a análise da caixa-preta para uma avaliação mais concreta.

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