Relação com a técnica foi aprendida desde a infância; pinturas buscam retratar a natureza. Artista usa pigmentos extraídos do solo em obras
Acervo Pessoal Analia Horacina Terra
Quantas cores e tons existem na natureza? Quando o assunto é o solo, fica fácil notar a diferença. Muito além do marrom, nuances de cinza, amarelo, trechos mais avermelhados, pretos ou até mesmo brancos aparecem. Variações essas que dependem da presença de minerais, por exemplo, e se tornam uma paleta natural para a obra de artistas plásticos.
Em Pindamonhangaba (SP), na Serra da Mantiqueira, uma artista naturalista dá vida às memórias de infância, transformando esses pigmentos extraídos do solo, em quadros, peças e até paredes.
Natural de Aimores (MG), Analia Horacina Terra, de 35 anos, mora na serra há 4 anos, mas cresceu na cidade de Ribeirinha de Nazaré (RO). Foi lá que estabeleceu essa relação diferente com a terra, que leva até no sobrenome: “Terra é meu sobrenome. Quando era pequena minha família me chamava de ‘Terrinha’ por ser muito parecida com meu pai, João Terra”, conta.
A artista possui uma conexão especial com a natureza desde a infância
Acervo Pessoal Analia Horacina Terra
Analia conta que quando caminha na natureza, aproveita o momento para recolher materiais pelo caminho; terras, folhas, galhos, flores, pequenas pedras, sementes e cascas de árvores que depois se transformam em bastões, lacas, aquarelas e tintas para desenhos, que sempre buscam retratar justamente a natureza.
Infância na natureza
A artista explica que produzir essas peças é uma forma de dar vida às memórias da infância. “Eu caminhava por muitas terras de chão com minha mãe para chegar até a escola, até a roça, até a igreja e também até os poços de argilas para coletar barros coloridos para pintarmos as paredes da nossa casa de pau a pique. Foi a partir disso meu projeto artístico começou a ser gestado”.
As aves ganham destaque no acerto de obras da artista
Acervo Pessoal Analia Horacina Terra
Na escola, ela levava todo o conhecimento com a terra aprendido com a mãe para a professora da 1ª série do Ensino Fundamental. Devido à falta de materiais artísticos convencionais, os pigmentos que a natureza oferecia foram a solução para realizar os trabalhos escolares.
Observação de aves
Entre os trabalhos, muitas representações de pássaros, já que Analia, desde a adolescência, também é observadora de aves.
Analia busca fazer um convite às pessoas: passar a olhar o mundo da perspectiva de um passarinho e treinar os sentidos para não esquecerem que também fazem parte da natureza. “É uma tolice achar que somos apenas espectadores”, reflete a artista.
A terra sempre me traz muito para um estado de presença, acho uma forma muito bonita de estar viajando e conhecendo os lugares através das terras e dos passarinhos daquele local
Segundo Analia, a coleta dos materiais para as obras é feita de maneira responsável
Acervo Pessoal Analia Horacina Terra
“A minha arte respira e tem cheiro de natureza. Todo o meu trabalho é permeado pela natureza”, completa.
Além de seu trabalho artístico, Analia atua como arteterapeuta e aromaterapeuta no departamento de saúde mental do SUS, em Pindamonhagaba. Mantém ainda um ateliê na zona rural onde reside. Sua vida e trabalho refletem a profunda conexão entre arte, natureza e saúde mental.
*Texto sob supervisão de Lizzy Martins
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