A África deve anunciar uma emergência de saúde pública relacionada a esse vírus após o surgimento de uma nova variante mais agressiva. Os surtos de mpox na República Democrática do Congo afetaram tanto crianças como adultos
Reuters
Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) da África devem anunciar que a mpox se tornou uma emergência de saúde pública em todo o continente, por causa da rápida propagação da enfermidade por alguns países da região.
A mpox é um novo nome adotado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para a antiga varíola dos macacos (ou monkeypox, em inglês)
O atual surto de mpox é mais preocupante do que os anteriores porque envolve uma nova variante do vírus, que os especialistas dizem ser a versão mais perigosa que já se viu.
No Brasil, 709 casos e 16 mortes por mpox foram notificados em 2024 — e, com os temores de um novo problema de saúde pública, o Ministério da Saúde convocou uma reunião para discutir a questão.
Em nota, o ministério diz que pretende atualizar as recomendações e o plano de contingência para a mpox no país.
O texto ainda aponta que o governo “acompanha com atenção” a situação da mpox no mundo e monitora informações junto à OMS e outras instituições.
“A avaliação é que o evento apresenta risco baixo neste momento para o Brasil”, destacou ao ministério.
Confira a seguir o que se sabe sobre a doença — e as formas de prevenção, diagnóstico e tratamento.
A mpox é comum? Em quais países ela ocorre?
A mpox é uma doença causada pelo vírus monkeypox.
Esse agente infeccioso pertence ao mesmo grupo de vírus da varíola, embora costume ser muito menos prejudicial.
Esse vírus foi originalmente transmitido de animais para humanos, mas agora também circula entre pessoas.
Ele é mais comum em aldeias remotas nas florestas tropicais da África, especialmente em países como a República Democrática do Congo.
Nessas regiões, ocorrem milhares de casos e centenas de mortes por mpox todos os anos — as crianças com menos de 15 anos são as mais afetadas.
Duas cepas principais do vírus circulam pelo mundo.
A primeira, chamada de “clado 1” é endêmica na África Central.
Já a “clado 1b” abrange uma nova versão do patógeno, que é mais virulenta e está envolvida no surto atual.
O CDC africano afirma que foram detectadas mais de 14,5 mil infecções e mais de 450 mortes por mpox entre o início de 2024 e o final de julho.
Isso representa um aumento de 160% nos casos e um incremento de 19% nos óbitos em comparação com o mesmo período de 2023.
Embora 96% dos casos de mpox ocorram na República Democrática do Congo, a doença se propagou para muitos países vizinhos, como Burundi, Quênia, Ruanda e Uganda, onde normalmente não é endêmica.
Uma cepa mais branda de mpox, que pertence ao chamado “clado 2”, causou um surto global em 2022.
Ela se disseminou por quase 100 países, incluindo o Brasil e partes da Europa e da Ásia, que normalmente o vírus não circula.
O surto foi controlado por meio da vacinação de grupos vulneráveis.
O acesso às vacinas e aos tratamentos contra mpox é deficiente na República Democrática do Congo — e as autoridades de saúde seguem preocupadas com a propagação da doença.
Casos de mpox em países africanos entre 2022 e agosto de 2024. Fonte: Centros de Controle e Prevenção de Doenças da África, OMS
BBC
Quais são os sintomas de mpox?
Os sintomas iniciais incluem febre, dores de cabeça, inchaços, dores nas costas e dores musculares.
Assim que a febre diminui, podem ocorrer erupções na pele. Elas geralmente começam pelo rosto e depois se espalham para outras partes do corpo, mais comumente nas palmas das mãos e nas solas dos pés.
Esses machucados, que podem causar muita coceira e dor, passam por diferentes estágios antes de finalmente formarem uma crosta, que posteriormente cai.
Essas lesões ainda podem deixar cicatrizes.
A infecção geralmente desaparece sozinha e dura entre 14 e 21 dias.
Em casos graves, as lesões podem atacar todo o corpo, principalmente a boca, os olhos e os órgãos genitais.
Como a mpox é transmitida?
A mpox se espalha por meio do contato próximo com alguém infectado — inclusive por meio de sexo, contato pele a pele e até conversa ou respiração perto de outra pessoa.
O vírus pode entrar no corpo através de um ferimento na pele, do trato respiratório ou de olhos, nariz ou boca.
O patógeno também pode ser transmitido pelo toque em objetos contaminados pelo vírus, como roupas de cama, roupas e toalhas.
O contato próximo com animais infectados, como macacos, ratos e esquilos, é outro possível caminho de contaminação.
Durante o surto global de 2022, o vírus se espalhou principalmente por meio do contato sexual.
O atual surto na República Democrática do Congo parece estar relacionado ao contato sexual, mas a doença foi diagnosticada em públicos diversos.
Quem tem mais risco de se infectar com mpox?
A maioria dos diagnósticos envolve pessoas sexualmente ativas e homens que fazem sexo com homens.
Indivíduos que possuem vários parceiros ou novos parceiros sexuais podem estar em maior risco.
Mas qualquer pessoa que tenha contato próximo com alguém com sintomas pode contrair o vírus — incluindo profissionais de saúde e familiares.
O conselho é evitar o contato próximo com qualquer pessoa com mpox e lavar as mãos com água e sabão se o vírus for detectado na sua comunidade.
Aqueles que têm mpox devem ficar isolados até que todas as lesões desapareçam.
Os preservativos devem ser usados como precaução durante 12 semanas após a recuperação, segundo as diretrizes da OMS.
Como é o tratamento da mpox?
Uma terapia desenvolvida para tratar a varíola comum também pode ser útil no tratamento da mpox, mas há pesquisas limitadas sobre a eficácia do remédio.
Os surtos de mpox podem ser controlados por meio da prevenção de infecções — e a melhor maneira de fazer isso é com as vacinas.
Existem três imunizantes disponíveis, mas geralmente apenas as pessoas em risco ou que tiveram contato próximo com uma pessoa infectada podem tomá-los.
A OMS não recomenda atualmente a vacinação massiva, de populações inteiras.
São necessários mais estudos para saber o nível de proteção das vacinas atuais contra as novas versões do vírus.
A OMS pediu recentemente às farmacêuticas responsáveis por esses imunizantes para que elas fizessem testes mais amplos.
A ideia seria entender se esses produtos podem ser úteis numa situação de emergência, mesmo que ainda não tenham sido formalmente aprovados nos países onde podem ser necessários.