Por que pintura na Serra da Capivara é tida por pesquisadores brasileiros como a cena de beijo mais antiga do mundo


O g1 conversou com arqueólogos sobre a representação, que, estima-se, foi feita há 12 mil anos. Clima seco e características das rochas areníticas preservaram desenho. Desenho rupestre no Parque Nacional Serra da Capivara, no Piauí
Reprodução
A primeira representação de um beijo pode estar registrada em uma pintura rupestre no Parque Nacional da Serra da Capivara, no Piauí. Pesquisadores brasileiros estimam que o retrato foi feito há 12 mil anos, com pigmentos naturais, como óxidos de ferro e carvão. (veja imagem acima)
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Nesta quinta-feira (12), Dia dos Namorados, o g1 traz a análise dos arqueólogos especialistas em conservação de arte rupestre, Maria Conceição Lage e Igor Linhares, sobre o desenho.
“Há indícios de que seja, de fato, um beijo. A gente faz uma interpretação descritiva, são duas figuras iguais que estão se tocando pela face. Então, de fato, parece, sim, se tratar de um beijo. Se a gente traz para os nossos dias atuais, a gente caracteriza dessa forma”, explicou a doutora em arqueologia e conselheira científica da Fundação Museu do Homem Americano, Maria Conceição Lage.
“É muito pela posição em que os indivíduos foram colocados. Você tem um indivíduo numa posição superior ao outro, e ele num processo de inclinar-se em direção a esse outro. E isso geralmente caracteriza essa relação do afeto, do carinho”, completou o doutorando em arqueologia pela Universidade de Coimbra, Igor Linhares.
A pintura, feita com pigmentos naturais, dura tanto tempo devido ao clima seco e às características das rochas areníticas, segundo os pesquisadores.
“Com arte rupestre, a gente não faz datação absoluta, sempre é uma datação relativa. Por exemplo, a gente escava o sedimento, no pé da parede, buscando algum indício da arte rupestre, como vestígio da tinta, da pintura. A gente não pode dizer que está 100% certo, mas trabalhamos com a hipótese da idade ser essa, de 12 mil anos”, disse Maria Conceição Lage.
“Anterior a isso, a gente não tem nenhuma representação. Vamos ter algumas com nove mil anos na Índia, outras de 1.500 anos atrás, algumas representações escritas, por exemplo, em caverna. Mas a mais antiga de fato, do ponto de vista científico, de registro, de análise, é essa da Serra da Capivara. Então passa a ser essa a referência”, concluiu o arqueólogo Igor Linhares.
O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), que gere o parque, também considera a cena como “o primeiro registro artístico de beijo”.
Atualmente, o Parque Nacional da Serra da Capivara abriga a maior concentração de pinturas rupestres conhecidas das Américas. Os desenhos retratam aspectos cotidianos da época, como a caça e rituais, além de interações afetivas e sociais, como registros de atos sexuais, beijos e abraços.
Sobre o parque
A Pedra Furada é um dos pontos mais emblemáticos da paisagem da Serra da Capivara
Celso Tavares/G1
O Parque Nacional Serra da Capivara, localizado no Sul do Piauí, é reconhecido como Patrimônio Cultural da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) desde 1991.
Está em quatro municípios piauienses: Brejo do Piauí, João Costa, São Raimundo Nonato e Coronel José Dias. Com 130 mil hectares, abriga mais de 1.200 sítios arqueológicos.
Além das pinturas rupestres, o parque reúne cânions que chegam aos 200 metros de altura, cavernas e o monumento natural da Pedra Furada. A unidade é ainda um refúgio para espécies ameaçadas, como o tatu-bola e a onça-pintada.
Passeio virtual revela paisagens do Parque Nacional Serra da Capivara, no Piauí, em 360°
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