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Atualmente, cerca de 50 mulheres integram a associação. Lá, elas realizam um trabalho ambiental, utilizando a casca do siri para fazer adubo, chamado de reflorescer. Além disso, as associadas coletam resíduos jogados na lagoa para fazer artesanato sustentável e estão investido no Turismo de Base Comunitária, que gera benefícios coletivos e coloca as comunidades como protagonista das ações.
Josineide Gomes, conhecida apenas como Neide, é pescadora e uma das responsáveis pelo surgimento da AMAJE. A ideia surgiu em 2019, após um convite da Reserva Extrativista (Resex) para participar de um encontro de mulheres em Tamandaré (PE).
“Foram três dias de encontro. Vi muitas mulheres muito empoderadas lá, mulheres pescadoras. Então, tudo que eu absorvi lá, trouxe aqui para Jequiá da Praia. Começou com umas 30 pessoas, as reuniões. E depois, de muito tempo, em 2022, a gente resolveu fazer esse grupo forte”, conta Neide.
A partir daí elas começaram um trabalho para conscientizar mais pessoas a fazerem parte do projeto, mas com pouco tempo o primeiro obstáculo apareceu: o machismo. Como não há um remuneração imediata, muitas das mulheres foram desestimuladas pelos maridos a continuarem.
“A gente sempre ficava ligando umas para as outras, mas muitos maridos proibiam das mulheres irem participar de cursos fora, porque não queriam deixar as mulheres ficarem dois, três ou quatro dias fora de casa”, relata a presidente da AMAJE, Eliane Farias, ao ressaltar que sempre teve apoio dentro de casa.
Eliane diz também que além da falta de apoio dentro de casa, as mulheres da associação tiveram que enfrentar o preconceito nas comunidades. Como o cheiro da casca do siri é muito forte, as pessoas xingavam as mulheres e passaram a chamá-las, de forma pejorativa, de “cheirosas”.
“As pessoas ficavam rindo de nós, xingando, falando ‘eu quero ser esposa de uma mulher dessa? mulher cheirosa’ ou ‘Ah, vai aí cheirosinha’. E daí tinham mulheres que se desanimavam muito com essas piadinhas, e muitas desistiam”, desabafa a presidente da associação.
Para completar as dificuldades, o grupo de mulheres não tinha sequer um barco para ir coletar os materiais na lagoa. Eliane afirma que o marido dela, foi incentivador fundamental no início do projeto. “Nesse tempo aí, o meu marido deixou até de pescar para ceder esse barco para a gente, o barco e o motor para a gente fazer a coleta”.
🦀Reconhecimento
Apesar da tristeza e da falta de estímulo, Eliana Farias afirma que tinha certeza que o “casco de siri cheiroso ia chegar muito longe”. E ela estava certa, a maré virou. Com o apoio da Secretaria Municipal de Agricultura e Pesca de Jequiá da Praia, as mulheres da AMAJE se inscreveram no edital para o Prêmio Mulheres Rurais – Espanha Reconhece, onde conquistaram o primeiro lugar.
“Nós pedimos apoio à Prefeitura de Jequiá da Praia, foi onde a gente teve o conhecimento que tinha um técnico rural, o Geté Barros, que passou a assessorar a gente tecnicamente. Nos inscrevemos nesse edital e, meses depois, recebemos a ligação informando que entre os 482 projetos inscritos em todo o Brasil, conseguimos o primeiro lugar”, conta Eliane.
A AMAJE passou a ter reconhecimento internacional e a mulherada ganhou mais força, tendo mais noção e fazendo as pessoas terem ideia da força que elas têm. Eliane conta que, apesar disso, o apoio dos parceiros e a inscrição em projetos e editais é essencial para o funcionamento da associação.
Com os recursos, elas conseguiram mais independência, comprando barco, motor, freezer, maquinário para confeccionar o adubo e até investir em placas solares para baratear os custos com energia elétrica.
♻️Processo produtivo
o g1 acompanhou de perto o processo de produção do adubo orgânico florescer (veja o passo a passo abaixo). Ele tem início na Lagoa de Jequiá da Praia, onde os siris são pescados. Depois disso as mulheres vão até a casa das marisqueiras e pescadores para recolherem as cascas do siri, nos povoados que ficam às margens da lagoa.
Após o recolhimento das cascas, o material é levado até o Rancho das Cheirosas, no Povoado Mutuca, onde elas são postas em esteiras para secar. Quando secas, as cascas são moídas e colocadas em sacolas, até serem transportadas de volta à sede da AMAJE, no Povoado França.
Lá, as cascas são moídas novamente em um triturador elétrico, postas em sacolas e embaladas para a venda.
Passo a passo para fazer o adubo
As mulheres da AMAJE pegam a casca do siri com as marisqueiras e pescadores da região, que já tiraram o filé do crustáceo;
O material recolhido é levado para o Rancho das Cheirosas, onde ficam em esteiras para secar;
Após o material secar, eles são amassados em um pilão e postos em sacolas;
As cascas moídas são transportadas até a sede da AMAJE, onde passam por um processo de trituração;
Depois, o material é misturado com a ‘cama de galinha’, um barro preto, para fazer o adubo;
O adubo é posto em sacolas, pesado e prensado. Agora ele está pronto para venda.
🪡Artesanato
Se na natureza, “nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”, as mulheres da AMAJE abusam da criatividade para reaproveitar todos os materiais que encontram ao longo do caminho. Tampas de garrafas pet, fibra de bananeira, palha de coqueiro, papel, tudo é posto com muito cuidado até tomar uma nova forma.
A artesã Eliana Reis é associada e faz um trabalho de capacitação das colegas. Ela explica que ensinando aos outros a dar cores às obras, passou a ter mais cor na vida.
“Eu sempre gostei de trabalhar, principalmente com as coisas da natureza. Quando eu conheci a associação eu estava afastada disso tudo. Para mim foi muito bom, porque eu voltei, encontrei outras pessoas que gostam de artesanato. Eu estava quase em um estado depressivo e hoje estou aqui, fazendo oficinas com elas”, conta a artesã.
As peças confeccionadas são expostas na sede da associação, onde são vendidas. Elas também são levadas para as feiras e feitas sob encomenda.
“Se eu pudesse eu morava na associação, porque é onde a gente se diverte, não esquece o ‘saber’ que a gente tem, além de conseguir passá-lo para os outros. Hoje eu faço as aulas de pintura, de fibra de bananeira, e cada um vai trabalhando e conseguindo a sua renda”.
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