No Paraná, Sebastião Salgado acompanhou início do maior conjunto de assentamentos do MST: ‘Era um camponês da fotografia’


Morte do fotógrafo foi anunciada nesta sexta-feira (23). Ele tinha um distúrbio sanguíneo causado por malária, contraída na Indonésia, e não conseguiu tratar apropriadamente. Início da ocupação na madeireira Giacomet Marodin, em 1996
Sebastião Salgado
O fotógrafo Sebastião Salgado registrou em suas fotografias o início do maior conjunto de assentamentos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no Brasil.
Na madrugada de 17 de abril de 1996, ele acompanhou mais de 10 mil homens, mulheres e crianças que marcharam em direção a um terreno da madeireira Giacomet Marodin, em Rio Bonito do Iguaçu, no sudoeste do Paraná.
A morte de Salgado, aos 81 anos, foi anunciada nesta sexta-feira (23) pelo Instituto Terra, organização não governamental fundada por ele. Ele tinha um distúrbio sanguíneo causado por malária, contraída na Indonésia, e não conseguiu tratar apropriadamente.
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A quebra das correntes da porteira da madeireira foi registrada pelo fotógrafo. Na imagem, é possível observar um camponês com a foice erguida e uma multidão de pessoas atrás dele.
Roberto Baggio, que acompanhou o fotógrafo ao longo da visita no Paraná, destaca que o trabalho de Salgado era movido por um projeto de denúncia e sensibilidade.
“As lentes que ele utilizava carregavam um projeto. No fundo, era um projeto de denúncia da violência do latifúndio, da concentração da propriedade, da questão agrária brasileira. Ao mesmo tempo, ele enxerga essa força camponesa, lutando para repartir a terra, para ter vida melhor. O trabalho dele, as lentes dele, a fotografia, carregavam esse projeto. Ficamos muito tristes com a notícia da morte, porque ele é um irmão nosso. Era um camponês da fotografia”, lamenta.
O marco do início da ocupação foi apenas uma parte da experiência do fotógrafo com o movimento no Paraná em 1996. Baggio lembra que Salgado passou três dias ao lado das famílias camponesas e visitou dois acampamentos do MST.
“Era um 17 de abril muito frio. Frio, gelado, tinha chovido dois dias seguidos. A noite gelada, cheia de neblina, cerração. Ele acompanhou tudo isso. Acompanhou, viveu, sentiu. Foi uma experiência muito rica e muito intensa”, relembra.
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Experiência interrompida por massacre
Os planos do fotógrafo envolviam passar mais alguns dias com o MST no Paraná. Porém, no mesmo dia da ocupação da madeireira Giacomet Marodin, o grupo recebeu a notícia de que 21 pessoas sem terra foram mortas por policiais militares em Eldorado dos Carajás, cidade no sudeste do Pará.
A notícia do massacre chegou no fim da tarde daquele dia e mudou os planos de Sebastião Salgado, que decidiu ir às pressas para o Pará fotografar o desenrolar do conflito e a comoção causada pelas mortes.
De Laranjeiras do Sul, Sebastião foi levado a Foz do Iguaçu, onde pegou um avião em direção ao Pará.
“No Paraná, ele conviveu com a gente e certamente foi algo de muito calor humano, muito de sentir de perto, de ver as pessoas… Lá no Pará, ele se depara com a violência institucional do Estado. As fotos dele se transformam em uma grande denúncia internacional da violência”, afirma Baggio.
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