Fabiola Yañez, denunciou o ex-presidente Alberto Fernández por violência doméstica. No período das agressões, durante o mandato de Fernández, a então primeira-dama estava grávida. Yáñez, de 43 anos, e Fernández, de 65, foram casados durante todo o mandato e tiveram um filho em 2022
Infobae/Reprodução
Foram divulgadas as primeiras fotos e os primeiros diálogos dos diversos episódios de violência que Fabiola Yañez atribui ao ex-presidente argentino. As surras teriam acontecido também quando a ex-primeira-dama estava grávida.
Dois dias depois de a ex-primeira dama, Fabiola Yañez, denunciar o ex-presidente Alberto Fernández (2019-2023) por violência, surgiram as primeiras fotos das conversas que o casal presidencial mantinha durante as agressões. Na época, Fernández governava o país.
✅ Clique aqui para seguir o canal de notícias internacionais do g1 no WhatsApp
Através das capturas de tela feitas em agosto de 2021 pela própria vítima, Fabiola Yañez pedia ao marido que parasse com as agressões físicas. Naquele período, a então primeira-dama já estava no segundo mês de gravidez.
“Sinto-me mal fisicamente”, dizia Alberto Fernández a sua esposa, embora a agredida fosse ela. Fabiola Yañez responde: “Isto não funciona assim. O tempo todo você me bate. É insólito. Não posso deixar que você me faça isso, quando eu não lhe fiz nada. Tudo o que eu procuro fazer com a mente concentrada é defendê-lo e você me bate fisicamente. Não há explicação. E você volta a me bater. Está louco”, reclama.
O ex-presidente retruca: “Sinto-me mal”, quando Fabiola exclama: “Você está me batendo há três dias seguidos”.
“Custa-me respirar. Por favor, para. Sinto-me muito mal”, alega Alberto Fernández.
Fabiola Yañez mostra duas fotos com as marcas da violência. Numa, tem o contorno do olho direito completamente preto de tantos golpes. Noutra, é possível ver hematomas no braço direito, próximo à axila. “Quando você me sacudiu pelos braços, deixou-me roxo. Isso é de quando você me sacudiu”, mostra.
Ao enviar a foto do olho machucado, ela escreve com ironia: “Isto é de quando você me bateu sem querer”.
Provas de traição
Essas são as primeiras de uma série de provas que Fabiola Yañez começou a entregar à Justiça argentina sobre as consequências físicas da violência que sofria silenciosamente na residência presidencial. As fotos e o diálogo fazem parte do processo que começa a ser construído.
Em paralelo às fotos e aos diálogos, um vídeo foi entregue pela própria Fabiola Yañez como prova do que ela afirma ser uma das inúmeras infidelidades de Alberto Fernández. O vídeo apareceu no celular que o próprio Fernández deu para o filho assistir desenhos animados.
Durante dois minutos, Alberto Fernández filma a radialista Tamara Pettinato num diálogo de sedução no qual ele insiste para que “ela diga algo lindo” até que ela diz que o ama e ele devolve o galanteio, enquanto a esposa está na residência presidencial. O breve vídeo foi filmado no gabinete presidencial da Casa Rosada durante um jantar a dois em 2020, quando ela tinha 36 anos e ele 61.
À época, o país estava numa estrita quarentena no contexto da pandemia de coronavírus e os argentinos estavam proibidos de saírem de casa.
Alberto Fernández e a ex-primeira-dama Fabíola Yañez, em imagem de 2021
Andrew Medichini/AP
Caso veio à tona sem querer
Na terça-feira (6), a ex-primeira dama deixou o país em comoção ao denunciar golpes físicos e “terrorismo psicológico” aplicados sistematicamente por Alberto Fernández durante o seu mandato.
As evidências surgiram em junho passado quando a Justiça investigava Alberto Fernández por corrupção através do celular da sua ex-secretária, María Cantero, esposa de um assessor de seguros com quem o ex-presidente teria montado um esquema para ficar com comissões a partir da venda obrigatória de seguros a ministérios, organismos e empresas públicas.
No celular, apareceram diálogos entre a secretária de Alberto Fernández e a primeira dama nos quais Fabiola Yañez descrevia os episódios de violência. Também apareceram diálogos entre a secretária e o marido com a ideia (concretizada) de comprarem um presente (uma joia) para que Alberto Fernández desse à primeira-dama como forma de acalmá-la.
Ao deparar-se com um delito paralelo, o juiz Julián Ercolini perguntou se Fabiola Yañez queria registrar uma queixa, recebendo uma resposta negativa. Na terça-feira, a ex-primeira dama mudou de ideia.
Após a denúncia, o juiz proibiu Alberto Fernández de sair do país, de aproximar-se da sua agora ex-mulher e mãe do seu filho nascido em abril de 2022.
Fabiola Yañez mudou-se com o filho para Madri, onde o casal viveria após o término do mandato em 10 de dezembro passado. No entanto, Alberto Fernández retornou à Argentina de onde, também denunciou Fabiola, dispara um assédio telefônico diário com chamadas e mensagens ameaçantes.
O juiz ordenou que “cessem os atos de perturbação ou de intimidação que, direta ou indiretamente, Alberto Fernández realize tanto no espaço analógico quanto no digital”.
Também por ordem do juiz, o governo argentino vai reforçar a segurança da ex-primeira dama com o envio de dois agentes e com o retorno do atual, de quem se suspeita ser informante de Fernández.
A Procuradoria especial para vítimas de violência de gênero do Departamento Geral de Acompanhamento, de Orientação e de Proteção às Vítimas entrou em contato com Fabiola Yañez para começar a montar a peça processual.
Apenas o começo
O ex-presidente diz que “é tudo falso” e que “vai levar provas e testemunhos à Justiça”. Embora tenha dito que não falará com a imprensa, nas últimas horas deu uma entrevista ao jornal espanhol El País que deve ser publicada, também em vídeo, ainda nesta sexta-feira (9).
Fabiola Yañez trocou de advogado nas últimas 24 horas porque o anterior tinha vínculo com Fernández. Antes de trocar, no entanto, contou que foi agredida com socos e chutes, ficando com “o rosto desfigurado” em algumas fotos.
“O que se sabe até agora é apenas uma gota do oceano. Se ela falar, muita gente vai sofrer dores de cabeça”, revelou o substituído advogado Juan Pablo Fioribello.