Anac informa que avaliou programas de treinamento das empresas que operam esse tipo de aeronave e apontou melhorias para três delas; o programa da Voepass, que operava a aeronave que caiu em Vinhedo, ‘já se encontrava adequado’. Avião ATR-72 da Voepass, antiga Passaredo Linhas Aéreas, em Ribeirão Preto, SP
Divulgação
O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) identificou em 2013 a necessidade de reforçar o treinamento de pilotos de aviões ATR quanto ao risco de perder o controle da aeronave sob condição de gelo severo.
Na sexta-feira (9), uma aeronave do mesmo tipo caiu em Vinhedo, no interior de São Paulo. Segundo especialistas, a perda de controle sob gelo severo é uma das hipóteses para a queda.
A recomendação do Cenipa veio após um incidente grave com um voo da Trip Linhas Aéreas, em 2013, em um ATR-72, modelo exatamente igual ao da tragédia da última semana.
Segundo o Cenipa, no caso de 2013, a tripulação perdeu o controle da aeronave na altura de Esplanada (BA) no momento em que passava numa região que apresentava condições de acúmulo de gelo.
À época, a Anac avaliou os Programas de Treinamento Operacional (PTO) de todas as empresas que operavam a aeronave ATR e concluiu que três delas poderiam implantar melhorias em relação ao treinamento em condições de gelo. “O PTO da Voepass já se encontrava adequado”, destacou o órgão.
Em nota, a agência informou que trabalhou no desenvolvimento de estudos para incorporação da filosofia UPRT, sigla de Treinamento de Prevenção e Recuperação de Atitudes Anormais.
“Esta norma define os procedimentos para que cada empresa desenvolva seu programa de treinamento para a prevenção e recuperação da perda de controle da aeronave, que deve ser aprovado pela Anac. As companhias encontram-se no período de transição, em fase de implantação”.
O g1 procurou a Azul, empresa que adquiriu a Trip Linhas Aéreas, para comentar o incidente de 2013, mas não recebeu retorno até esta publicação.
No caso do acidente em Vinhedo, as causas estão sendo investigadas. O acúmulo de gelo foi uma das hipóteses levantadas por especialistas.
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Uma reportagem do g1 revelou também que o manual do ATR aponta risco de perda de sustentação e giro sob condição de gelo severo.
O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) já extraiu todo o conteúdo das duas caixas-pretas da aeronave e prevê divulgar em 30 dias relatório preliminar sobre as causas da queda.
Os trabalhos no local da queda do avião da Voepass estão previstos para serem encerrados nesta segunda (12).
Perda de altitude
O incidente de 2013 aconteceu quando o ATR-72 da Trip estava a 16 mil pés (4.876 metros) de altitude. À época, o piloto declarou emergência e conseguiu reestabelecer o controle após a aeronave cair para 11 mil pés (3.352 metros).
“De acordo com dados obtidos na leitura do DFDR (Gravador Digital de Dados de Voo, em português), foi possível verificar que a aeronave voava no FL160 (16 mil pés) quando teve uma rápida variação de velocidade seguida de uma perda de 5.000 pés (1.524 metros) de altitude”, diz trecho do relatório do Cenipa.
Veja momento das aberturas das duas caixas-pretas do avião que caiu em Vinhedo; VÍDEO
Fatores do incidente
A aeronave não teve danos, as 62 pessoas a bordo saíram ilesas e o pouso foi feito em segurança no Aeroporto de Salvador (BA), mas uma investigação foi feita pelo Cenipa para apurar os motivos que levaram à perda de controle da aeronave pela tripulação.
No relatório final, o Cenipa apontou como fatores que contribuíram para o incidente:
Erro na aplicação de comandos da aeronave pelos pilotos;
Condições meteorológicas adversas;
Confusão na comunicação entre piloto e co-piloto;
Inadequada avaliação, por parte da tripulação, dos parâmetros relacionados à operação do sistemas antigelo da aeronave;
Percepção imprecisa do impacto das condições de iceaccretion (acúmulo de gelo) na operação aérea;
Erro no processo decisório dos pilotos.
“Houve uma avaliação inadequada acerca dos fatores que impactaram no desempenho da aeronave, o que prejudicou o reconhecimento da condição de severe icing(gelo severo) e resultou na adoção de medidas equivocadas para o gerenciamento daquela situação adversa”, aponta relatório do Cenipa.
Como consequência da investigação, o Cenipa expediu duas recomendações à Anac:
Atuar junto aos operadores de aeronaves ATR, a fim de que estes garantam que os treinamentos teóricos, simulados e práticos sejam suficientes para que as tripulações adquiram o conhecimento e desenvolvam as habilidades necessárias para reconhecer e realizar as ações adequadas em um voo sob condições de formação de gelo.
Atuar junto aos operadores de aeronaves ATR, a fim de que estes implementem a filosofia UPRT (Treinamento de Prevenção e Recuperação de Atitudes Anormais) no manual de operação da companhia aérea e no treinamento associado.
Em nota, a Anac informou que adicionalmente, como fruto das recomendações, inseriu uma avaliação específica da tripulação nos critérios levantados dentro do escopo do acompanhamento contínuo que a Agência realiza nas empresas aéreas.
“Esse acompanhamento é realizado a partir de dados coletados e de uma gestão de risco, que determina as ações a serem realizadas conforme a exposição do operador aéreo e os eventuais impactos a pessoas e bens. Denominamos essas atividades como ‘vigilância continuada’, que, conjuntamente com a regulamentação e a certificação, contribui de forma determinante para os baixos índices de acidente na aviação civil”, ressalta.
Desenho da aeronave
Um infográfico que sobrepõe imagem do local da tragédia aérea revela como o impacto deixou “um desenho da aeronave” no quintal de uma residência.
É possível observar como a aeronave, que “caiu chapada”, ficou com a área da cabine mais preservada, enquanto da metade para a cauda a destruição, por conta do incêndio, foi maior.
A aeronave caiu sem controle e girando no ar, mostram vídeos gravados do momento do acidente, num aparente estol.
A análise das caixas-pretas, que incluem o gravador de voz da voz e o gravador de dados, é fundamental para ajudar esclarecer o que ocorreu no voo 2283.
O que se sabe e o que falta saber sobre a maior tragédia aérea desde 2007
Tudo o que você precisa saber sobre a queda da aeronave em Vinhedo
Cronologia da tragédia
Ainda não se sabe o que causou o acidente, mas a queda em espiral sugere a ocorrência de um estol — que acontece quando a aeronave perde a sustentação que lhe permite voar —, segundo especialistas.
Veja, abaixo, da decolagem à queda, a cronologia do acidente da Voepass, o maior do país em número de vítimas desde 2007, quando um avião atingiu edifício em São Paulo ao tentar pousar.
Inicialmente, a Voepass noticiou que 61 pessoas tinham morrido após a queda do avião. Na manhã de sábado (10), o número de mortes subiu para 62.
A aeronave decolou às 11h56 e o voo seguiu tranquilo até 13h20.
O avião subiu até atingir 5 mil metros de altitude às 12h23, e seguiu nessa altura até as 13h21, quando começou a perder altitude, segundo a plataforma Flightradar.
Nesse momento, a aeronave fez uma curva brusca.
De acordo com a Força Aérea Brasileira (FAB), a partir das 13h21 a aeronave não respondeu às chamadas do Controle de Aproximação de São Paulo, bem como não declarou emergência ou reportou estar sob condições meteorológicas adversas.
Às 13h22 – um minuto depois do horário do último registro – a altitude estava em 1.250 metros, uma queda de aproximadamente 4 mil metros.
A velocidade dessa queda foi de 440 km/h.
O Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA) informou que o ‘Salvaero’ foi acionado às 13h26 e encontrou a aeronave acidentada dentro de um condomínio.
Como era o avião que caiu em Vinhedo
Arte g1
Segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), o modelo que caiu em Vinhedo, ATR-72-500 da Voepass, é turboélice com 74 assentos. A aeronave é fabricada pela ATR, com sede na França, que é uma das maiores fabricantes de aviação do mundo. Ela estava com a documentação em dia e todos os tripulantes tinham habilitação válida.
De acordo com a fabricante, o ATR-72-500 pode voar com velocidade máxima de 511 km/h. O modelo tem 27 metros de comprimento e de envergadura, além de uma autonomia de voo de 1.324 quilômetros. O peso máximo que o avião pode carregar em serviço é de 7 mil quilos.
O avião tinha 14 anos de fabricação e era de um modelo conhecido no mundo da aviação por sua capacidade de operar em aeroportos de pista curta e de difícil acesso no Brasil e em outras partes do mundo, especialmente na Ásia, onde houve outros acidentes.
Ficha técnica do ATR-72-500 (segundo a fabricante):
Número de assentos: 74
Velocidade de cruzeiro: 511 km/h
Comprimento: 27 metros
Envergadura: 27 metros
Altura: 7,65 metros
Autonomia de voo: 1.324 km
Como estava o tempo no momento da queda?
Meteorologistas apontaram “áreas de instabilidade” e 35% de formação de gelo nas proximidades do local onde o avião caiu.
De acordo com o Climatempo, no momento exato em que a aeronave estava fazendo a aproximação havia um “forte vento” de cauda – o que aumenta a velocidade do avião em relação ao solo.
“Estimativas de modelos meteorológicos indicam temperaturas entre -9° a -11° C na altura correspondente a 500hPa na região de Vinhedo por volta das 13h local”, disse o órgão.
O que diz a Voepass?
O CEO da Voepass Linhas Aéreas, Eduardo Busch, concedeu entrevista coletiva na noite de sexta e afirmou que os pilotos eram experientes e que os sistemas operacionais da aeronave estavam todos em funcionamento no momento da decolagem.
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Mais cedo, a companhia aérea comunicou em nota que prioriza prestar irrestrita assistência às famílias das vítimas e colabora efetivamente com as autoridades para apuração das causas do acidente.
“A VOEPASS Linhas Aéreas informa que a aeronave PS-VPB, ATR-72, do voo 2283, decolou de CAC sem nenhuma restrição de voo, com todos os seus sistemas aptos para a realização da operação”.
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