‘Espelho, espelho meu’: redes sociais aumentam risco de transtornos alimentares e de imagem

A utilização das redes sociais por jovens e adolescentes deixou de ser um passatempo e se tornou parte da rotina. Por trás dos feeds bem organizados com receitas e treinos, aparentemente inofensivos, existe a preocupação de especialistas de que o uso de plataformas como Instagram e Tik Tok, potencializem e até dificultem o quadro de pessoas com TA (Transtornos Alimentares) e de imagem.

Ilustração de mulher comendo donut enquanto uma mão pega no cérebro dela que está sem a parte de cima da cabeça, para ilustar matéria sobre transtornos alimentares

Condição afeta saúde física e mental de jovens e adolescentes – Foto: Freepik/Reprodução/ND

Transtornos alimentares e o uso das redes sociais

Não precisa rolar muito a linha do tempo para achar posts sobre dietas, dicas de receitas fitness e treinos ensinados por diferentes pessoas – a maioria delas sem formação técnica para isso. A rapidez com que os algoritmos das plataformas digitais se adaptam para indicar novas publicações de um mesmo assunto, ajuda a criar a sensação de que as postagens se multiplicam cada vez mais.

“Vários estudos já identificaram uma correlação entre o uso de redes sociais e o surgimento ou agravamento de transtornos alimentares. Esse efeito é mais evidente em plataformas visuais, como Instagram e TikTok, que promovem padrões de beleza irreais e dietas restritivas”, defende o médico psiquiatra Rafael Floriani Goulart, especialista em terapia cognitivo comportamental.

  • Os transtornos alimentares são condições psiquiátricas que consistem nas alterações comportamentais relacionadas a hábitos alimentares ou nas mudanças persistentes nas refeições, podendo impactar na saúde física e mental de uma pessoa.

A repetição dos conteúdos feita pelos algoritmos se baseia em publicações com as quais o usuário já interagiu. O risco, conforme o especialista, está na exposição contínua a essas postagens.

“Isso pode desencadear preocupações com a imagem corporal e estimular comportamentos alimentares não saudáveis. Os adolescentes são especialmente mais vulneráveis, devido à importância da aceitação social e da autoimagem nessa fase de vida”, explica o psiquiatra.

Tipos de transtornos alimentares:

Anorexia – restrição severa de alimentos pelo medo agudo do ganho de peso, associada à distorção da imagem corporal. Pessoas com o transtorno, mesmo abaixo do peso saudável, se enxergam acima do peso quando se olham no espelho.

Bulimia – caracterizada por episódios de compulsão alimentar, com sentimento de arrependimento e culpa, seguidos por comportamentos compensatórios (como vômitos autoinduzidos ou uso de laxantes para eliminar os alimentos ingeridos).

Compulsão alimentar – transtorno que consiste na ingestão de alimentos de forma compulsiva e em excesso, mas sem comportamentos compensatórios. Para o psiquiatra, o quadro de pessoas com a compulsão alimentar podem ser intensificados pelo uso inadequado das redes sociais.

A ‘trend das comparações’

Emilly Macedo, nutricionista especialista em comportamento alimentar pelo IPGS (Instituto de Pesquisas Ensino e Gestão em Saúde) e aprimorada em Transtornos Alimentares pelo Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP, atende no consultório pacientes adolescentes e adultos com problemas relacionados à alimentação.

“Muitos influenciadores hoje em dia falam sobre dieta, alimentação saudável e vida ativa. A ideia do ‘fitness’ veio com tudo. O problema é que a venda dessas publicidades, muito silenciosas, acaba passando a ideia de que qualquer pessoa consegue ter aquele corpo magro e a mesma vida tão saudável, basta apenas querer”, alerta.

“Seguir corpos irreais, que não sabemos como foram conquistados, às vezes até por meio de um transtorno alimentar, e desejar aquilo como um estilo de vida, é muito perigoso”. – Emilly Macedo, nutricionista especialista em transtornos alimentares.

A viralização das chamadas ‘trends’ também é outro fator analisado pelos profissionais, principalmente as que incentivam a comparação de corpos. Para além do aspecto físico, a comparação de hábitos alimentares, dividindo entre ‘saudáveis’ e ‘não saudáveis’ – sem levar em consideração os diferentes contextos, emoções, gostos e até o cenário social – são injustas.

“Recentemente, a trend da vez era a comparação do tamanho da cintura das mulheres e, normalmente, o foco desses conteúdos sobre corpos é sempre relacionado a elas. Nessa, o objetivo era compartilhar vídeos sobre o tamanho da própria cintura e ver se ela é pequena o suficiente. Pode parecer inofensivo, mas gera gatilhos significativos em pessoas com transtornos alimentares”, pontua Emilly Macedo.

Comparações com outros perfis nas redes sociais pode causar danos à saúde – Foto: Unsplash/Reprodução/ND

Dicas dos especialistas para manter um ambiente digital com menos comparações:

  • Siga perfis que incentivem a autoaceitação e hábitos equilibrados.
  • Limite o uso das redes sociais e fuja dos conteúdos que promovam comparações e trends depreciativas na internet.
  • Lembre-se que as redes sociais são apenas um recorte da realidade – e nem sempre representam ela de fato.
  • Busque apoio de profissionais capacitados e evite seguir dietas, receitas e treinos extremos compartilhados por influenciadores.

O atendimento a pacientes com quadros de TA precisa do acompanhamento multiespecializado, com ajuda de psicólogos, psiquiatras e de nutricionistas para atuar nos diferentes aspectos, tanto físicos quanto mentais.

“As realidades de vida que existem são completamente diferentes e não podem ser comparadas. Siga as pessoas com corpos reais, alimentações reais e tire desse tipo de conteúdo apenas aquilo que faz sentido para a sua rotina atual”, completa a nutricionista.

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