
Arcebispo de Porto Velho (RO), destacou a importância do Papa que levou a periferia do mundo para o centro de Roma. Para ele, a floresta viva era símbolo de um modelo de vida em harmonia com a natureza. Papa Francisco e Dom Roque
Arquivo pessoal
Com a morte do Papa Francisco, o mundo se despede de um líder que fez história ao aproximar a Igreja Católica das periferias sociais, ambientais e geográficas do planeta. Um dos marcos mais simbólicos dessa missão foi o olhar profundo e comprometido que o pontífice argentino lançou sobre a Amazônia.
Em entrevista ao g1, Dom Roque Paloschi, arcebispo de Porto Velho (RO), destacou a importância do Papa que levou a periferia do mundo para o centro de Roma. O marco aconteceu durante o sínodo para a Amazônia, reunião dos membros da Igreja Católica, realizado em outubro de 2019, que, segundo Dom Roque, um divisor de águas na relação do Vaticano com os povos da floresta.
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Longe de ser apenas um evento simbólico. O sínodo foi, segundo o Dom Roque, a expressão concreta de uma Igreja que deseja “caminhar junto”, princípio da sinodalidade tão defendido por Francisco.
A mensagem daquele encontro era caminharmos juntos. O Papa deu esse invoque, ‘vamos caminhar juntos’, sozinho posso ir mais rápido, mas juntos nós vamos mais longe”, contou o arcebispo.
Entre os momentos mais marcantes foi quando o Papa reservou duas horas para ouvir indígenas — dentro e fora da sala sinodal. “Era para ser uma hora e ele ficou o dobro, ouvindo com atenção, pontuando coisas práticas”, contou o arcebispo.
A Amazônia como mensagem ao mundo
Para os fiéis, Francisco enxergava a Amazônia como mais do que uma floresta tropical. Para ele, era símbolo de um modelo de vida em harmonia com a natureza, ameaçado por um desenvolvimento que, segundo palavras de uma liderança indígena citada por Dom Roque, “concentra riquezas e destrói a terra, a água e o ar”.
“A Amazônia tem valor com a mata em pé. O Papa quis ouvir não só quem chegou há 15 anos, como eu, mas quem está aqui há mais de 12 mil anos.”
Papa Francisco durante sermão na missa de abertura do Sínodo da Amazônia, no Vaticano
Tiziana Fabi/AFP
Sementes que germinam
Dom Roque também destaca mudanças concretas inspiradas pelo Papa: plantio de árvores por grupos de mulheres, agroecologia comunitária, incentivo ao uso consciente de recursos e superação da cultura do descarte.
Durante a pandemia, Francisco também enviou ajuda financeira para todas as dioceses da Amazônia. “Ele não ficou alheio ao sofrimento. Foi um gesto de carinho muito concreto. Sempre nos dizia: ‘não tenham medo de caminhar”
Um convite à esperança
A mensagem que fica com o legado do Papa é, segundo o arcebispo, de esperança. Uma convocação à ação, à escuta e ao compromisso — sementes que seguem germinando no coração da floresta.
“O Papa nos convida a sermos pessoas que não se omitem, que cuidem desta casa comum para que ela seja lugar de vida e fraternidade.”
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