Segundo associação do segmento hoteleiro, três empresas foram impactadas na cidade pelas queimadas. Cancelamento de viagens tem afetado o turismo de observação de vida silvestre. Pousadas informaram fechamento temporário devido aos estragos causados pelo fogo
Estância Caiman
Após os incêndios ocorridos no Pantanal neste ano, uma pousada localizada em Miranda (MS), que atua há mais de 30 anos com ecoturismo, informou na quinta-feira (8) que a operação hoteleira estará fechada por dois meses, para concentrar esforços na recuperação dos danos causados pelo fogo.
A pousada, que teve 80% da área queimada, abriga projetos de conservação como o Onçafari, Instituto Arara Azul, Projeto Papagaio-Verdadeiro e Projeto Tapirapé. Para ajudar na conservação das espécies protegidas, a pousada começou a captar doações nas redes sociais.
Outro hotel que funciona no Rio Salobra, na área sul do Parque Nacional da Serra da Bodoquena, também interrompeu suas atividades por uma semana. Uma outra pousada na região também ficou fechada por uma semana, mas já reabriu.
Todas fazem parte da Visit Pantanal, uma associação que reúne 27 agentes do segmento de hospitalidade, gastronomia e de serviços turísticos das regiões de Miranda, Aquidauana, Corumbá e Serra da Bodoquena.
Iniciativas está localizadas no município de Miranda, no Mato Grosso do Sul
Associação Visit Pantanal
“Tivemos bastante focos, uma seca muito grande, mas nem tudo foi atingido. […] creio que o mais afetado foi o Pantanal de Miranda”, comenta Cristina Moreira, vice-presidente da associação.
A chuva e a alta umidade zeraram os focos de incêndios no Pantanal de Mato Grosso do Sul desde o final de semana. Segundo o Corpo de Bombeiros, entretanto, o fogo subterrâneo, chamado de turfa, ainda é uma preocupação entre os brigadistas, que seguem em atenção
Conforme os dados dos satélites do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), não há focos de incêndio em Mato Grosso do Sul. No Mato Grosso, três pontos de calor seguem ativos.
Preocupações sobre o futuro
Para o guia de turismo Rafael Andrade, a situação é complicada porque os incêndios geralmente começam na época de alta temporada, quando há mais procura pelos turistas. “Afeta diretamente todo mundo que trabalha com turismo, pousadas, guias, todo mundo”, diz.
“A gente tem passado aí já, mais ou menos, uns seis anos nesse período de seca mais intenso e, em consequência, as queimadas. Muita reserva sendo cancelada. Isso é o que tá acontecendo agora, mas a gente sabe que vão ter mais consequências”, afirma Rafael.
De acordo com o biólogo Gabriel Icterus, que atua com o turismo de observação no Pantanal, além da destruição momentânea, outra dificuldade de quem trabalha na área é mapear novamente os animais que costumavam ser observados pelos turistas.
Cervos-do-pantanal vistos na área de uma das pousadas que fechou temporariamente em Miranda (MS)
Associação Visit Pantanal
“Mesmo tendo vindo a chuva, todos os animais que a gente tinha mapeado, sabia onde ocorriam, como se comportavam, tudo muda. A gente precisa procurar eles novamente, ver como estão se comportando, porque alguns acabam ficando mais arredios, outros vão embora para outras áreas em busca de alimento, de abrigo”, explica o biólogo.
“Tivemos vários cancelamentos de viagem por conta disso e tivemos muito prejuízo nos roteiros que já estavam acontecendo quando o fogo chegou”, finaliza. Gabriel registrou as imagens de um cervo-do-pantanal bem próximo a uma área de mata que queimava às margens do Rio Miranda, na região do Passo do Lontra, em Corumbá (MS).
O primeiro semestre de 2024 foi o mais devastador para o Pantanal em toda a série histórica de registros do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Nos primeiros seis meses, 3.538 focos de incêndio consumiram 700 mil hectares no bioma, uma área quase seis vezes maior que a cidade do Rio de Janeiro.
Até então, 2020 tinha registrado o pior 1º semestre da série histórica, com 2.534 focos de incêndio. Já os números deste ano superam em quase 40% o acumulado nos seis meses do ano recorde de queimadas no bioma. O presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, disse ao g1 que algumas áreas do Pantanal podem ter tido perdas irreversíveis.
Turismo de observação
Apesar de todos os problemas e dificuldades, o turismo de observação de fauna pode ser uma forma de ajudar o Pantanal a se recuperar. Por ser uma importante fonte de renda da região, os esforços agora são para que os turistas continuem a programação de visitas.
“É importante que os turistas venham, que não tenham medo e venham ver realmente que o Pantanal continua lindo”, afirma Cristina.
Equipe flagra onça-pintada no Pantanal de MS
Instituto Homem Pantaneiro
“A pausa, para nós, é uma oportunidade de melhorar, relembrar o sonho que nos trouxe até aqui e reafirmar nosso compromisso com a conservação. Foi assim no incêndio de 2019, na pandemia e em outras ocasiões”, escreveu uma das pousadas em suas redes sociais no comunicado de fechamento.
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Uma campanha de doações feita em parceria com hotéis, pousadas e projetos de conservação foi lançada para captar recursos para reconstrução de recintos, compra de equipamentos, cuidados veterinários junto aos animais sobreviventes, entre outras ações de recuperação do bioma.
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