Foto da íris: valor de moeda usada como pagamento cai pela metade em relação ao início do projeto no Brasil


Recompensa pela participação é feita em criptomoeda e parcelada. Variação da cotação influi no ganho em reais: Worldcoin valia R$ 13 em novembro e caiu para menos de R$ 6 em março. World, iniciativa que envolve registro de íris em troca de criptomoedas, atraiu centenas de milhares de brasileiros
Reprodução/TV Globo
O valor da criptomoeda usada pelo projeto World para recompensar quem tem a íris escaneada caiu pela metade desde a chegada da iniciativa ao Brasil.
Isso altera os ganhos em reais de quem tinha se cadastrado, já que uma parte do pagamento é feita pouco depois de a íris ser fotografada e o restante é parcelado ao longo de um ano.
Em 13 de novembro, quando os registros da íris começaram no Brasil, a Worldcoin equivalia a R$ 13, segundo o CoinMarketCap, plataforma que monitora o mercado de criptomoedas.
Em dezembro, a moeda chegou a quase R$ 24, mas, até a última última sexta-feira (7), o valor tinha baixado para a faixa dos R$ 5.
Para especialistas ouvidos pelo g1, a atual trajetória de queda, que acontece em todo o mundo, é explicada por diversos fatores, como reveses do ponto de vista jurídico do projeto, além de desconfianças com a economia americana (saiba mais abaixo).
➡️ O QUE É A WORLDCOIN E A WORLD: a criptomoeda Worldcoin foi criada em 2023 e é a forma de a World recompensar quem adere ao seu banco de dados mundial de “fotografias” dos olhos.
Segundo a startup, a íris funciona como uma impressão digital mais sofisticada. Isso ainda não tem muita aplicação no dia a dia das pessoas, mas, de acordo com a World, poderia ser uma forma eficaz de diferenciar humanos de robôs no futuro, evitando fraudes.
O sistema de remuneração pela foto da íris atraiu centenas de milhares de brasileiros até 11 de fevereiro, quando a World suspendeu os cadastros em São Paulo, única cidade brasileira participante.
Isso aconteceu após a Autoridade Nacional de Proteção de Dados vetar os pagamentos para novos usuários, alegando que a prática poderia influenciar na decisão das pessoas de participarem do projeto.
Como o g1 mostrou em janeiro, muitos dos postos que escaneavam a íris foram instalados na periferia da capital e junto a terminais de transporte público.
Worldcoin cai pela metade desde chegada ao Brasil
Quem teve a íris escaneada tinha o direito de receber 48 worldcoins, mas não de uma vez.
O pagamento funcionava assim:
20 moedas liberadas 24 horas após o escaneamento da íris;
28 moedas distribuídas mensalmente, ao longo de um ano (2 a 3 por mês).
Dentro do próprio aplicativo da World — onde é feito o agendamento para comparecer a um posto e ter o olho fotografado e onde fica guardado o “código” da íris escaneada — o usuário também tem uma carteira digital, com a Worldcoin.
A pessoa pode usar o aplicativo para um saque, que é basicamente converter as criptomoedas para reais e receber o valor em sua conta bancária, com o pagamento de taxas. Para isso, a World conta com um provedor parceiro, e tudo acontece lá mesmo, dentro do app.
World App, é usado para fazer transações com a criptomoeda da Worldcoin
Divulgação/Worldcoin
A Worldcoin pode ser negociada nas maiores corretoras de criptomoedas do mundo — para isso, é preciso transferir as moedas do app da World para uma carteira digital externa. As worldcoins que estão em corretoras podem ser compradas inclusive por quem não participou do projeto.
Pessoas que tiveram a íris escaneada no começo do projeto disseram ao g1 que viram ali a chance de ter uma renda extra no fim do ano. O número de participantes disparou entre novembro e dezembro.
No entanto, como se trata de uma criptomoeda, o valor da Worldcoin frente ao real pode mudar, assim como acontece com o bitcoin. E essa variação acontece mundialmente.
“Está caindo bastante. Eu nem saquei porque não compensa. Está muito baixo o valor da moeda. Quando eu fui escanear (a íris), estava em R$ 18, R$ 19. Agora, por R$ 6 nem compensa. Por isso, estou deixando lá parado”, disse Nicolas Marcelino, que se cadastrou em dezembro.
Rafael Bezerra, que também se cadastrou em dezembro, disse que recebeu cerca de R$ 300 no ato e que “já sabia que a moeda poderia dar uma desvalorizada”. A parcela recebida por ele em janeiro foi de R$ 19. Em fevereiro, foram R$ 17.
Brasileiros pagos para escanear a íris enfrentam dificuldades com aplicativo do projeto: ‘Perdi a conta e o dinheiro’
Por que a Worldcoin está caindo?
Para especialistas em criptomoedas, o veto da ANPD aos pagamentos, que aconteceu no fim de janeiro e esvaziou muitos postos de cadastro da íris, e a pausa nos novos registros no Brasil contribuem, mas não são as principais causas da desvalorização mundial da worldcoin.
Além do Brasil, nos últimos meses, o projeto foi alvo de autoridades de dados da União Europeia, da Coreia do Sul e de Buenos Aires, por exemplo. Eles questionaram o destino dos dados.
“Sem dúvidas, sofrer reveses do ponto de vista regulatório, legal e jurídico influencia na proposta de valor e no preço”, diz Caio Leta, chefe de conteúdo e pesquisa da plataforma de compra e venda de bitcoin Bipa.
“Nunca é um evento só, é a soma de vários fatores que faz uma tendência”, completa.
Também pesam fatores externos, como as dúvidas sobre a economia com o novo mandato de Donald Trump, nos Estados Unidos.
Ainda que o republicano sejam um entusiasta de criptomoedas, outras decisões na área econômica afastam os investidores desse setor, afirma Ricardo Dantas, CEO da corretora Foxbit.
Segundo ele, as criptomoedas tiveram um crescimento expressivo no período entre a eleição e a posse de Trump devido ao otimismo com os planos do republicano para o setor. Agora, o mercado está fazendo o movimento contrário.
“Recentemente, houve grandes quedas pelo risco de a inflação americana aumentar e pela guerra de tarifas. Sempre que há essas incertezas, os investidores saem dos ativos de risco, o que inclui as criptomoedas, e vão para ativos menos voláteis”, diz Dantas.
Câmera Orb, que captura a íris dos olhos.
Fábio Tito/g1
‘ALTCOINS’ – Distribuir criptomoedas para usuários, como faz a World, é uma forma torná-la relevante, em uma estratégia conhecida como “airdrop”, afirma Felipe Martins, diretor de blockchain da empresa de investimentos Bloxs.
“Quando esses usuários entram, a rede começa a ter mais movimentação, mais dados e mais valor. Com mais valor, o preço do ativo sobe”, diz Felipe. “O bitcoin tem o maior valor [entre criptomoedas] porque é o que mais movimenta o mercado atualmente.”
O valor de mercado do bitcoin, a criptomoeda mais famosa, chega a US$ 9,9 trilhões, mais de 1.600 vezes o valor da Worldcoin, segundo a plataforma CoinMarketCap.
“Dezembro [de 2024] foi um período muito bom das altcoins [criptomoedas alternativas, que não são tão conhecidas como o bitcoin], todas subiram nesse período, e a World também surfou isso”.
Mas grandes variações são comuns neste mercado, especialmente entre as criptomoedas menos conhecidas, explica Leta.
“Qualquer movimento que o bitcoin faz, as outras criptos geralmente fazem de uma maneira mais acentuada. Há um movimento de queda no bitcoin, então, é natural que tenha nas outras criptomoedas, que são muito menores”, afirma.
A queda no valor da Worldcoin pode ter sido uma surpresa porque muitas pessoas cadastradas no projeto tinham o objetivo de converter as criptomoedas em reais rapidamente e não tinham estudado sobre ela, diz Leta.
“As pessoas querem um lucro rápido e não têm um estímulo para usar a Worldcoin no longo prazo”, afirma. “Então, esse movimento [de queda] é comum quando não há uma tese de investimento por trás e não tem quem acredite no fundamento da criptomoeda”.
Brasileiros pagos para escanear a íris enfrentam dificuldades com aplicativo do projeto
Conheça as ‘memecoins’:
Javier Milei encontra Musk e Trump nos EUA para desviar foco de investigação criminal
Adicionar aos favoritos o Link permanente.

Os comentários estão desativados.