Novo governo da Síria diz que investigará denúncias de massacres de civis em região ligada a Assad


Mais de 800 civis da minoria alauíta, à qual pertence Bashar al Assad, foram mortos pelas forças de segurança e grupos aliados do governo sírio desde a última quinta-feira (6), segundo oObservatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH). Pessoas protestam contra o assassinato de civis e forças de segurança ligadas aos novos governantes da Síria, em Damasco
REUTERS/Khalil Ashawi
O novo líder da Síria, Ahmad al Sharaa, afirmou neste domingo (9) que determinou que uma comissão independente investigue os massacres de civis que deixaram mais de 800 mortos no oeste do país, segundo a ONG Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH), numa área que é reduto do ex-ditador Bashar al Assad.
De acordo com o novo balanço do Observatório, que possui uma extensa rede de informantes na Síria, 830 civis da minoria alauíta, à qual pertence Bashar al Assad, foram mortos pelas “forças de segurança e grupos aliados” desde a última quinta-feira.
Pelo menos 481 membros das forças de segurança e combatentes pró-Assad morreram nos confrontos, segundo o OSDH. As autoridades sírias não informaram nenhum balanço.
“O que está acontecendo no país são desafios que eram previsíveis. Temos que preservar a unidade nacional, a paz civil, tanto quanto possível e, se Deus quiser, seremos capazes de viver juntos neste país”, disse Ahmed al Sharaa em um discurso em uma mesquita em Damasco, a capital.
Ele também anunciou a formação de uma “comissão de investigação independente” sobre as “violações contra os civis” para identificar os responsáveis e levá-los aos tribunais.
Já o chanceler sírio, Asad al Shaibani, disse que o governo é garantidor “de todo o povo sírio e de todas as crenças, e protegemos a todo mundo da mesma forma”.
A violência começou com um ataque, na quinta-feira, de apoiadores de Assad às forças de segurança na cidade de Jableh, na província de Latakia, no oeste.
Esta região é o berço da comunidade muçulmana alauíta, um ramo do islã xiita, da qual o clã Assad se origina.
Assad foi derrubado em dezembro de 2024 por uma aliança de rebeldes islamistas sunitas liderada pelo grupo radical Hayat Tahrir al Sham (HTS) de Sharaa. Em seguida, fugiu para Moscou com sua família.
Condenação internacional
Depois de mais de 13 anos de guerra civil, o restabelecimento da segurança é o principal desafio para o novo poder sírio.
O alto comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Türk, disse que as mortes de civis “devem cessar imediatamente”, enquanto o secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, condenou os “massacres” e pediu que os autores “sejam responsabilizados”.
A Alemanha pediu “veementemente a todas as partes que ponham fim à violência”, e o Reino Unido instou as autoridades sírias a “garantir a proteção de todos os sírios”.
Alauítas denunciam assassinatos
Neste domingo, o Ministério do Interior anunciou o envio de “reforços adicionais” para “restaurar a calma” em Qadmus, um povoado na província de Tartus, onde o governo estaria buscando “os últimos homens leais ao antigo regime”.
A agência de notícias oficial da Síria, a Sana, relatou “confrontos violentos” em Taanita, um vilarejo nas montanhas da mesma província, onde “vários criminosos de guerra afiliados ao regime deposto e grupos de homens leais a Assad que os protegem” se refugiaram, segundo a agência.
Um comboio de 12 veículos militares entrou no vilarejo de Bisnada, na província de Latakia, onde as forças de segurança estão revistando casas, observou um fotógrafo da agência France Presse.
“Mais de 50 pessoas, familiares e amigos foram assassinados”, disse um habitante alauíta de Jablé, que não quis se identificar.
As forças de segurança e milicianos aliados “recolheram os corpos com escavadoras e os enterraram em valas comuns, inclusive jogando corpos ao mar”, acrescentou.
O OSDH e vários ativistas publicaram vídeos que mostram dezenas de corpos e homens vestidos com uniformes militares disparando em três pessoas à queima-roupa. A AFP não conseguiu verificar essas imagens de forma independente.
Em Damasco, as forças de segurança dispersaram um protesto contra os massacres, depois que contra-manifestantes invadiram a área gritando “Estado sunita!” e várias palavras de ordem contra a comunidade alauíta.
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