Cabo eleitoral às avessas, Trump ajuda os liberais de Trudeau a virar o jogo político no Canadá


Partido de premiê amargava o ostracismo político, mas recuperou prestígio após ameaças e provocações do presidente americano ao país. Donald Trump e o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, em 2019
REUTERS/Kevin Lamarque
De tanto provocar o Canadá, impondo tarifas comerciais e rebaixando o status do país como o 51º estado dos EUA, o presidente Donald Trump acabou por favorecer o Partido Liberal, do premiê Justin Trudeau, que amargava o ostracismo político, mais de 20 pontos atrás dos conservadores.
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Renovados pelo fervor nacionalista e o sentimento anti-Trump, os liberais estão agora praticamente empatados com seus opositores, graças à ajuda involuntária recebida do presidente americano. Os canadenses boicotam produtos americanos e viagens ao país vizinho e vaiam o hino dos EUA.
Trudeau naufragava na impopularidade e renunciou em janeiro ao cargo de líder do partido, que escolherá neste domingo seu novo comandante e sucessor do premiê. Mas o efeito Trump reverteu o jogo político e fez o premiê canadense subir à tona e emergir como defensor ferrenho do país.
“Nunca seremos o 51º estado.Quando se trata de defender nossa grande nação, não há preço que não estejamos dispostos a pagar”, afirma Trudeau, que é tratado como governador pelos simpatizantes do presidente americano.
O primeiro-ministro passou a ser o menor dos problemas dos canadenses. De agente provocador, Trump atuou também como cabo eleitoral às avessas, em favor dos liberais.
As eleições gerais estão previstas para outubro. Até janeiro, as pesquisas davam favoritismo, por ampla margem, ao Partido Conservador, liderado por Pierre Poilievre. Com o slogan “O Canadá está quebrado”, ele atribuía ao primeiro-ministro, de 53 anos e no cargo desde 2015, a culpa pelos males do país — o alto custo de vida como o principal deles.
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Mark Carney, ex-governador do Banco do Canadá e favorito para suceder o primeiro-ministro na liderança do partido.
REUTERS/Evan Buhler
O fator Trump mudou rapidamente este panorama e também o lema dos conservadores: diante da ofensiva do país vizinho, outrora aliado e agora desafeto, passou a ser “Canadá em primeiro lugar”, com foco nas ameaças do presidente americano.
Os eleitores não gostaram e identificaram a proximidade dos conservadores com o movimento MAGA (“Torne a América Grande Novamente), de Trump. Como resultado, o partido opositor despencou nas pesquisas.
Entre os liberais, o debate sobre o sucessor de Trudeau nas eleições de domingo gira em torno de quem está mais bem preparado para enfrentar as investidas de Trump contra o Canadá —- seja na retaliação às tarifas de 25% sobre os produtos canadenses ou nas ameaças fantasiosas de anexação do país.
Especialista em gerenciamento de crises, o nome de Mark Carney, ex-governador do Banco do Canadá, surge como o favorito para suceder o primeiro-ministro na liderança do partido.
A reestreia de Trump na Casa Branca definitivamente embaralhou as cartas no Canadá. Trudeau, que se preparava para encerrar a carreira no ocaso político, sai por cima, assim como seu partido, que em um mês recuperou a competitividade diante dos conservadores.
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