Turista presencia serpente sendo morta em rodovia e tragédia vira inspiração para mestrado em MS


Viagem que seria apenas para comemorar aniversário fez a bióloga Amanda Messias, de 26 anos, embarcar em uma pesquisa sobre colisões veiculares em animais. Serpente que inspirou pesquisa em MS
Arquivo pessoal
Cerca 463 animais atropelados e 210 animais vivos foram vistos atravessando a rodovia de Bonito (MS) em menos de 40 dias, é o que mostra uma pesquisa de mestrado em Conservação da Biodiversidade e desenvolvimentismo sustentável , feita pela paulista Amanda Messias, de 26 anos.
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Formada em ciência biológica, a mestre encontrou em uma viagem para Bonito (MS) a inspiração para tese de mestrado sobre colisões veiculares em animais. Amanda estava viajando para comemorar o aniversário no município, quando presenciou o atropelamento de uma serpente na rodovia e resolveu pesquisar sobre a segurança no local.
Ao g1, a bióloga contou que conversou com outros turistas, e via que estavam todos se questionando ao se depararem com pessoas locais vendo tudo aquilo como uma situação “normal”. Para Amanda, que é filha de caminhoneiro, garantir a segurança nas rodovias é garantir a segurança de seu pai, assim como de outras pessoas e animais.
“Foi bem chocante ver a quantidade de animais atropelados, já que não é comum avistar isso em São Paulo”, disse.
O primeiro acontecimento presenciado por ela, foi o atropelamento de uma serpente. Ao avistar uma serpente atravessando a rodovia, Amanda disse desceu da van em que estava e tentou ajudar o animal, mas ao se aproximar a cobra foi atingida por um carreta que passava pelo local.
“Presenciei a serpente sendo atropelada. Lembro que o rapaz da van desceu e disse ‘ela já foi atropelada o que você vai fazer?’ Ai eu expliquei que um atropelamento acaba chamando outro, devido a cadeia alimentar”, foi então que a bióloga retirou o animal da pista.
“Me senti mal. A gente não espera presenciar o atropelamento e não conseguir fazer nada”, comentou.
Inconformada com a situação, a mestra resolveu iniciar a pesquisa, em Mato Grosso do Sul. Durante os dias em que esteve no estado, contou que tirou diversas carcaças de animais atropelados.
“Nenhuma dificuldade tirou da minha cabeça que eu ia fazer a diferença. Usei isso como combustível, pensei que não estava fazendo isso por mim, mas sim pela fauna e pela segurança de quem passava por ali”, relatou.
O mestrado de Amanda foi apresentado e aprovado em fevereiro. Segundo ela, esse é o primeiro passo para fazer a diferença, mas a bióloga afirma que ainda não cumpriu a missão.
“Eu sonho com as medidas sendo implantadas, quero estar presente quando forem. Tem muita coisa para acontecer e eu vou lutar para que essas coisas aconteçam”, finalizou.
Dados da pesquisa
Entre os dados apresentados pela mestre em Conservação da Biodiversidade e desenvolvimentismo sustentável pelo instituto de pesquisa ecológica, uma das principais causas dos acidentes nas rodovias são as passagens obstruídas.
“O estudo foi feito na MS 178, na MS 382 e MS 345, rodovias que levam até Bonito. Avistei 210 animais que utilizam aquela área, a mais vista é o macaco-prego ameaçada de extinção”, relatou.
Amanda conta que existem nesses trechos mais de 40 passagens, porém algumas estão cercadas por mato ou até mesmo cerca, devido a área ser privada.
“O cercamento faz com que o animal não consiga acessar e acabe indo para a rodovia, a pesquisa de modo geral traz o mapeamento dos atropelamentos e tem registro de morte que aconteceu a 11 metros de uma passagem”, finaliza.
Macaco-prego ameaçado de extinção em MS
Arquivo pessoal
Problema crônico
As rodovias do Mato Grosso do Sul possuem um problema crônico: as colisões veiculares com fauna.
Um monitoramento de sete anos realizado pela Iniciativa Nacional para a Conservação da Anta Brasileira (INCAB-IPÊ), demonstrou que 100 antas são atropeladas anualmente nas rodovias do estado. Além do impacto óbvio para a biodiversidade, esse número representa ao menos 100 vítimas humanas envolvidas em colisões veiculares com um animal de grande porte.
Uma anta pode chegar até 250-300 kg e uma colisão com esse animal é um acidente grave que pode ocasionar perdas humanas, materiais e financeiras. O levantamento da INCAB-IPÊ identificou que 50 pessoas já morreram nas rodovias do estado devido a colisões com antas, nos últimos 12 anos.
Vias seguras para a fauna e para os usuários é um direito previsto em lei e cabe aos gestores dos empreendimentos aplicarem medidas mitigatórias efetivas. Os estudos científicos e especialistas em ecologia de estradas comprovam que as passagens de fauna, associadas com cercamento adequado da via, podem diminuir o número de colisões veiculares com fauna em até 80%.
Enquanto a implementação de medidas mitigatórias efetivas não for feita, continuaremos perdendo biodiversidade e colocando em risco a vida dos usuários desses empreendimentos, além de ferir o direito de cada cidadão de ter acesso a vias seguras.
Amanda mostra como as passagens seguras estão obstruídas
Arquivo pessoal
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