Ursos-polares estão abandonando suas tocas mais cedo no Ártico, mostra estudo


Pesquisa analisou imagens capturadas por quase uma década, algo possivelmente inédito. Período foi necessário por conta da dificuldade de se estudar as tocas, justamente porque as fêmeas da espécie as constroem em regiões de difícil acesso em meio à neve e gelo. Ursos polares são analisados pela primeira vez depois de sairem de suas tocas de forma detalhada.
Steven C Amstrup/Polar Bears International
Imagens raras registradas por pesquisadores de instituições dos EUA, Canadá e Noruega mostram que famílias de urso-polar estão deixando suas tocas mais cedo no Ártico do que o observado em estudos anteriores.
Publicada na revista científica Journal of Wildlife Management nesta quinta-feira (27), Dia Internacional do Urso-Polar, a pesquisa mostra que, em Svalbard, na Noruega, os ursos estão emergindo de suas tocas por volta de 9 de março, um período significativamente mais cedo do que o registrado anteriormente nesta população.
E segundo os autores da pesquisa, este abandono precoce das tocas é uma tendência preocupante que pode comprometer seriamente a sobrevivência dos filhotes dessa espécie de mamífero, uma vez que eles têm menos tempo para se desenvolver antes de se aventurarem no gelo marinho.
💡Entenda: A fase da toca (chamada de “denning” em inglês) é o período em que as mamães ursas polares ficam com os seus filhotes em cavernas após o nascimento das crias. Nos refúgios, que são construídos pelas fêmeas, os filhotes ficam protegidos de predadores e conseguem se adaptar ao frio extremo.
Esse é o período mais vulnerável na vida de um urso polar. A pesquisa estima que menos de 50% dos filhotes chegam à idade adulta. Por isso, a sobrevivência dos filhotes nessa fase sustenta a continuidade da espécie.
As imagens da pesquisa foram capturadas por quase uma década, algo possivelmente inédito. O período foi necessário por conta da dificuldade de se estudar as tocas, justamente porque as fêmeas as constroem em regiões de difícil acesso em meio à neve e gelo do Ártico.
🌡️Aquecimento global: O estudo não atribui diretamente o abandono precoce das tocas ao aquecimento global, mas aponta que as mães ursos-polares estão enfrentando dificuldades crescentes na reprodução devido a mudanças impulsionadas pelo clima.
Isso indica uma possível influência das alterações climáticas no comportamento reprodutivo da espécie, embora a pesquisa não faça essa relação de forma conclusiva. Para isso, os pesquisadores indicam que é necessário um monitoramento adicional para determinar se isso é uma tendência contínua.
Nas tocas (que são construídas pelas fêmeas), os filhotes de ursos polares ficam protegidos de predadores e conseguem se adaptar ao frio extremo.
Dmytro Cherkasov/Polar Bears International
Os registros foram feitos por meio de coleiras de rastreamento por satélite que registravam a localização, temperatura e atividades desses animais. (Veja mais fotos da pesquisa no final da reportagem)
A partir dos dados obtidos, os pesquisadores conseguiram localizar as tocas e, por isso, foram até as montanhas de Svalbard para implantar armadilhas fotográficas capazes de mostrar com exatidão o comportamento das ursas polares e de seus filhos.
Descobertas
Toca de ursos polares em Svalbard, na Noruega.
BJ Kirschhoffer/Polar Bears International
Além das imagens, o estudo constatou descobertas importantes sobre os ursos polares:
Os filhotes dependem de suas mães até os 2,5 anos, em Svalbard. Durante esse período, eles foram vistos sozinhos fora da toca em apenas 5% do tempo analisado.
Em média, as ursas-polares permanecem 12 dias perto de suas tocas após o nascimento dos filhotes. Mas isso oscilou entre as famílias, variando de 2 a 31 dias.
Algumas fêmeas foram vistas saindo de suas tocas originais para irem para uma nova, mas a pesquisa não tem dados suficientes para explicar o motivo desse comportamento, mas existem hipóteses como uma possível instabilidade da estrutura.
No estudo, os pesquisadores enfatizam que a proteção das áreas de toca é fundamental para garantir a sobrevivência das futuras gerações de ursos polares, especialmente considerando que menos de 50% dos filhotes chegam à idade adulta.
Em partes do Ártico, estações mais longas sem gelo e períodos de jejum mais longos levaram a um declínio em algumas populações de ursos polares. A pesquisa mostra que, sem ações para reduzir significativamente as emissões de carbono e estabilizar nosso clima, podemos perder todas as populações de ursos polares, exceto algumas, até o final do século.
Imagens raras
Veja abaixo mais fotos da pesquisa:
Filhotes fora da toca: imagens raras mostram ‘passeio’ de ursos polares
Dmytro Cherkasov/Polar Bears International
Filhotes fora da toca: imagens raras mostram ‘passeio’ de ursos polares
Dmytro Cherkasov/Polar Bears International
Filhotes fora da toca: imagens raras mostram ‘passeio’ de ursos polares
Dmytro Cherkasov/Polar Bears International
Filhotes fora da toca: imagens raras mostram ‘passeio’ de ursos polares
BJ Kirschhoffer/Polar Bears International
Estagiária sob supervisão de Ardilhes Moreira.
O que o aquecimento global tem a ver com o frio extremo?
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