Sepultamento do clitóris: o que você precisa saber sobre essa doença autoimune


Sem tratamento, a progressão do líquen escleroso pode causar alterações anatômicas na vulva. Apesar da expressão “sepultamento do clitóris” não ser uma forma científica de descrever uma das complicações do líquen escleroso, não se trata de um sentido figurado de linguagem. O clitóris – que, com suas oito mil terminações nervosas, é o principal órgão responsável pelo orgasmo feminino – pode ser enterrado pelo capuz que o recobre. Para entender como a doença se manifesta, conversei com a médica Neila Maria de Góis Speck, professora adjunta do departamento de ginecologia da Universidade Federal de São Paulo, vice-presidente da Comissão Nacional Especializada do Trato Genital Inferior da Febrasgo e membro da diretoria da Associação Brasileira de Patologia do Trato Genital Inferior e Colposcopia, que ensina:
Líquen escleroso: progressão da doença pode causar alterações anatômicas na vulva
Focus Fusion para Pixabay
“O líquen escleroso é uma doença crônica caracterizada pela inflamação da pele da vulva, que é a genitália externa da mulher e inclui a abertura da vagina, os grandes lábios, os pequenos lábios e o clitóris. O principal sintoma é um prurido (coceira) intenso. Entre 10% e 30% das mulheres não têm prurido, mas o quadro também apresenta manchas brancas, que surgem na região genital e anal. A pele fica mais sensível e sofre fissuras, com risco de rompimento no ato sexual. Há uma perda da anatomia da vulva, com atrofia e desaparecimento dos pequenos lábios; e estreitamento (estenose) do canal vaginal. O sepultamento do clitóris é resultado da progressão da doença: seu capuz acaba estrangulando o órgão, que fica encarcerado”.
Não há uma causa para o surgimento da enfermidade, ou seja, é de etiologia desconhecida. Embora haja estudos que apontam sua relação com a queda de produção de estrogênio, que ocorre depois da menopausa, a literatura médica o considera uma doença autoimune – aquela provocada pelo próprio organismo. É bom lembrar que as mulheres compõem 80% dos pacientes dessas doenças, como lúpus, artrite reumatoide e esclerose múltipla, e há pesquisas indicando a associação da tireoidite de Hashimoto com o aparecimento do líquen escleroso.
É importante enfatizar que, apesar da aparência desagradável, não é uma doença contagiosa, nem é transmitida sexualmente. Foi batizada com esse nome devido ao aspecto semelhante ao líquen que cobre troncos de árvores – de 70% a 90% das pacientes sofrem uma perda da coloração da pele. O tratamento é realizado com corticoide de alta potência e o uso de substâncias emolientes para diminuir o ressecamento. De acordo com estudos da Universidade Federal de São Paulo, laser e radiofrequência apresentam uma boa resposta no controle de sintomas. “As sequelas podem comprometer a vida sexual e demandar até uma cirurgia corretiva do canal vaginal ou liberação do clitóris”, alerta a professora.
O grande problema é subestimar a situação. A incidência é maior na população mais velha – embora possa se manifestar em jovens – e a pessoa idosa pode não dar atenção aos sintomas, achando que a coceira e as alterações na pele são comuns na velhice. As estatísticas mostram que 4% das mulheres com líquen escleroso desenvolvem câncer de vulva.
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