Jovens sem comorbidades estão entre pessoas que perderam a vida devido à dengue no interior de SP: ‘Ela é silenciosa’


O surto de dengue na região já causou mais de 30 vítimas fatais apenas em 2025; o número representa quase metade das mortes registradas em todo o estado de São Paulo. Gravidade da dengue avança em jovens e pessoas sem comorbidades e preocupa especialistas da região
Divulgação/Fiocruz
Neste ano, já foram registradas 33 mortes por dengue na região de São José do Rio Preto (SP), índice que representa cerca de 42% dos óbitos em todo estado de São Paulo. O noroeste paulista, que inclui outras cidades como Araçatuba (SP), enfrenta a maior epidemia da doença. Além do um aumento expressivo de casos positivos, mortes que incluem pessoas jovens e sem comorbidades preocupam as autoridades.
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O empresário Fernando Galvão Scrochio, de 58 anos, é uma das vítimas fatais da doença. Após uma piora no quadro de saúde, ele morreu no mês passado em Araçatuba. Sua esposa, Renata Maia, descreveu a dor e o choque ao ver a dengue se agravar tão rapidamente. “Essa queda brusca de plaquetas faz o sangue correr fora da veia. Ele sofreu arritmia cardíaca, dificuldade para respirar e, no fim, afetou órgãos vitais, como fígado e rins”, conta.
Gravidade da dengue avança em jovens e pessoas sem comorbidades e preocupa especialistas da região
Reprodução / TV Tem
O quadro, segundo ela, evoluiu de maneira tão rápida que Fernando faleceu cinco dias após os primeiros sintomas. Renata afirma que a doença é silenciosa e muitas vezes não é diagnosticada a tempo, o que a torna ainda mais perigosa.
“Foi tudo muito rápido. Então a gente pensa que está melhorando porque fica um pouco melhor, passa a febre mas não. Ela é silenciosa”, relata.
Gravidade da dengue avança em jovens e pessoas sem comorbidades e preocupa especialistas da região
Reprodução / TV Tem
Enquanto a maioria das vítimas de dengue continua sendo composta por idosos, os dados mostram uma mudança no perfil das mortes. Cerca de 40% dos óbitos no noroeste paulista são de jovens e adultos, entre 20 e 64 anos, que, em sua maioria, não tinham comorbidades. Os dados foram divulgados pela Secretaria Estadual de Saúde nesta quarta-feira (12). No estado de São Paulo, são 78 óbitos pela doença somente neste ano.
Para os médicos, essa mudança está relacionada à circulação do vírus tipo 3, que se mostra mais agressivo. Em entrevista à TV TEM, a infectologista Cássia Estofolente, do Hospital de Base (HB) de Rio Preto, explica que a doença tem se comportado de maneira exacerbada em indivíduos mais jovens justamente pela resposta inflamatória do corpo.
“Isso acontece predominantemente porque a dengue é uma doença inflamatória e a gente sabe que indivíduos mais jovens, sem comorbidades, têm uma tendência maior de ter formas exacerbadas da doença, justamente pela capacidade de ter resposta inflamatória”, conta.
Gravidade da dengue avança em jovens e pessoas sem comorbidades e preocupa especialistas da região
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A interação com outros sorotipos do vírus da dengue, que já circularam nos últimos anos, não garante um quadro mais favorável diante da infecção pelo sorotipo 3, alerta a infectologista.
“Esses indivíduos não tiveram contato com a dengue tipo 3, que está circulando atualmente. Eles já foram expostos aos sorotipos 1 e 2, e essa exposição pode intensificar a infecção pelo tipo 3”, explica.
Gravidade da dengue em jovens e pessoas sem comorbidades preocupa médicos
Medidas emergenciais
Com o avanço do surto, diversas cidades decretaram estado de emergência, e outras estão tomando medidas extremas para tentar conter a epidemia. Em Tanabi (SP), por exemplo, o secretário de Saúde, Lucas Tadeu, explica que foi necessário reforçar o atendimento com abertura de unidades de saúde aos finais de semana, além do cancelamento de férias de funcionários. “Estamos monitorando os casos e realizando ações de pulverização para combater os focos do mosquito”, afirma.
Gravidade da dengue avança em jovens e pessoas sem comorbidades e preocupa especialistas da região
Reprodução / TV Tem
Em Mirassol, a situação foi considerada ainda mais grave, levando a prefeitura a decretar estado de calamidade pública. A falta de estrutura foi um dos principais fatores que motivaram essa decisão.
O secretário de Saúde, Frank Hulder, ressalta que serão contratados mais agentes de saúde para auxiliar na eliminação dos criadouros do mosquito Aedes aegypti, além da aquisição de novos testes rápidos para diagnóstico da dengue.
“Nós elaboramos orçamentos para a contratação de 40 agentes de saúde que vão de casa em casa eliminar os criadores. A compra de testes de NS1 chegaram, e agora nós estamos comprando de IGM e IGG”, esclarece.
Gravidade da dengue avança em jovens e pessoas sem comorbidades e preocupa especialistas da região
Reprodução / TV Tem
A gravidade da situação também pode ser observada nas instituições de saúde, como no Hospital de Base de Rio Preto, onde 124 pessoas estão internadas, sendo que 12 são crianças e adolescentes.
Em Birigui (SP), por exemplo, a prefeitura iniciou uma operação para identificar carros abandonados que possam servir como criadouros do mosquito da dengue. Do total de 26 veículos que estavam nas ruas, 12 já foram removidos após os proprietários serem notificados.
Vagner Freire, secretário municipal de Segurança Pública, explica que depois de receberem o aviso, os donos dos automóveis têm o prazo de 15 dias para fazer a remoção. Em caso de descumprimento, o veículo é apreendido e o responsável é multado, além de arcar com os custos do serviço de guincho e a diária do pátio.
Atualmente Birigui tem 1.756 casos positivos da doença e, segundo o poder público, os veículos são um problema de saúde pública.

Carros abandonados nas ruas de Birigui se tornam foco do mosquito da dengue
Cuidados e orientações
Com a epidemia ganhando força, é imprescindível que a população se conscientize sobre a importância de eliminar focos de mosquitos e de procurar atendimento médico ao primeiro sinal de sintomas.
Além disso, a orientação médica é simples: qualquer pessoa com sintomas deve procurar ajuda imediatamente. A infectologista Cássia Estofolente alerta que monitorar é fundamental para prevenir possíveis complicações. “Caso o paciente apresente uma queda acentuada de plaquetas ou dificuldade para ingerir líquidos, o acompanhamento deve ser intensificado”, destaca a especialista.
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