Medo de deportação faz imigrantes evitarem idas ao médico nos EUA

Clínica de Chicago recebe, em sua maioria, falantes de espanhol e polonêsrawpixel.com / Freepik

Uma clínica médica gratuita, em Chicago, tem percebido uma mudança drástica no comportamento de seus pacientes desde que o presidente Donald Trump assumiu o cargo. As pessoas tem comprido com rigor as ordem médicas. No entanto, com o aumento das operações do Departamento de Imigração e Alfândega dos EUA (ICE), muitos imigrantes têm evitado buscar atendimento médico, temendo serem presos e deportados.

Segundo o site de notícias NPR, a maioria dos pacientes atendidos na clínica gratuita é composta por imigrantes que falam espanhol ou polonês e não possuem seguro de saúde. Durante um surto de doenças semelhantes à gripe, muitos pacientes deixaram de comparecer às consultas.

Em entrevista a NPR, a enfermeira Margaret Bavis relatou um caso marcante: uma paciente faltou a um exame laboratorial e, ao retornar uma semana depois, estava chorando de medo de ser capturada pelo ICE e separada de sua família.

“No momento, estou com tanto medo. Não posso ir a lugar nenhum”, disse a paciente.

Impacto na saúde dos imigrantes

Donald Trump, recém empossado presidente dos EUA, colocou em marcha seu plano de deportação em massaJIM WATSON

A medida de atrasar o atendimento médicos por conta das medidas de deportação pode trazer consequências graves.

“Para muitos imigrantes que priorizam um futuro no país acima da própria saúde, é um risco que acreditam valer a pena correr”, afirmou o Dr. Jose Figueroa, professor associado de política de saúde na Harvard T.H. Chan School of Public Health, em entrevista à NPR.

O médico também destacou o perigo da disseminação de infecções virais no inverno, especialmente em famílias latinas onde várias gerações costumam viver juntas, aumentando a vulnerabilidade dos idosos.

A clínica também recebe muitos pacientes que precisam de cuidados para doenças crônicas como hipertensão e diabetes tipo 2. A não adesão ao tratamento pode desencadear complicações graves, como ocorreu durante a pandemia de COVID-19, quando pacientes evitaram hospitais e clínicas e, ao retornarem, estavam em condições mais críticas.

Brasileiros sendo deportados pelos EUACasa Branca/Divulgação

A CEO da CommunityHealth, Steph Willding, revelou que a clínica registrou uma queda significativa de comparecimento após a posse de Trump: quase 30% dos pacientes faltaram ou cancelaram consultas sem reagendamento, resultando em mais de 300 consultas perdidas em duas semanas. “Foi surreal. A clínica estava silenciosa, e algumas vezes a sala de espera estava completamente vazia”, disse Willding.

O impacto vai além das consultas médicas. Na farmácia da clínica, centenas de medicamentos, incluindo insulina e remédios para hipertensão, colesterol e artrite reumatoide, não foram retirados pelos pacientes. “Eles definitivamente precisam desses medicamentos”, afirmou Elsa Bishop, diretora assistente de farmácia.

Entre 11 e 15 milhões de imigrantes vivem nos Estados Unidos sem a documentação necessária, de acordo com estimativasChristian MONTERROSA

Em Chicago, agências de apoio a imigrantes relatam que muitos evitam renovar benefícios como assistência alimentar e seguro-saúde. No Mano a Mano Family Resource Center, uma organização sem fins lucrativos, a procura por inscrição em programas de assistência caiu drasticamente de 50-60 ligações diárias para apenas três a cinco. “O medo é tão grande que está impedindo as pessoas de buscar tratamento preventivo”, disse Irma Barrientos, gerente do programa.

Programas de seguro de saúde estaduais que cobrem imigrantes indocumentados estão sendo subutilizados, pois as pessoas temem que suas informações sejam usadas contra elas. “Se não renovarem anualmente, perdem a cobertura”, explicou Barrientos. Isso pode resultar em um aumento nas idas ao pronto-socorro, gerando contas médicas elevadas.

Alternativas e medidas de segurança

Durante o primeiro mandato de Trump, o Migration Policy Institute documentou uma queda na inscrição de imigrantes de baixa renda em programas de assistência alimentar e saúde. O governo alegava focar em migrantes que representassem ameaça à segurança pública, mas várias famílias e defensores relataram que imigrantes sem antecedentes criminais também estavam sendo presos.

Imigrantes brasileiros deportados pelos Estados Unidos chegam ao aeroporto internacional Pinto Martins de Fortaleza, em 7 de fevereiro de 2025Orlando SIERRA

Com medo de sair de casa, muitos imigrantes recorrem às redes sociais para obter informações. O Mano a Mano realiza transmissões ao vivo para educar a população sobre direitos e benefícios.

Para garantir a segurança dos pacientes, aclínica reforçou medidas para evitar a presença de agentes do ICE sem um mandado assinado por um juiz. “Não permitimos que oficiais de imigração ou qualquer pessoa que não seja paciente permaneça na sala de espera ou no saguão”, afirmou Willding.

Diante desse cenário, Bavis tenta manter a esperança. “Quero ser forte para meus pacientes e minha comunidade, mas hoje, neste momento, parece muito difícil”, desabafou.

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