‘Saí pior do que eu entrei’, diz paciente com perda parcial da visão após operar catarata no AME de Taquaritinga, SP


Doze idosos perderam ou ficaram com a visão comprometida após procedimento oftalmológico. Sala de esterilização de equipamentos tinha inadequações, diz prefeitura. Secretaria de Saúde de SP apura o caso. Pacientes relatam terem ficado cegos após mutirão de cirurgias em Taquaritinga
O aposentado Benedito Donizete Lavezzo, que teve perda parcial da visão após ser operado em um mutirão de catarata no Ambulatório de Especialidades Médicas (AME) em Taquaritinga (SP), espera por respostas para o que aconteceu quatro meses após o procedimento. Ele e mais 11 pacientes foram afetados, sendo que alguns ficaram cegos.
“É uma reposta que todos nós esperamos, foram 12 pessoas naquele dia. É simples a cirurgia, muita gente faz e fala que sai de lá enxergando, mas eu saí de lá pior do que eu entrei. Até hoje não entraram em contato com a gente pra explicar o que aconteceu”, diz.
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A secretária executiva da Saúde do Estado de São Paulo, Priscilla Perdicaris, classificou o caso como “fato isolado gravíssimo” e disse que uma investigação apura as causas para a adoção de providências. Segundo Priscilla, toda a equipe médica envolvida no mutirão foi afastada das funções.
Os laudos feitos por equipes do governo do estado e da Prefeitura de Taquaritinga devem ficar prontos em 15 dias.
Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde disse que foram identificadas inadequações na Sala de Materiais para Esterilização (SME) do AME.
Benedito Donizete Lavezzo perdeu parte da visão do olho direito após cirurgia de catarata no AME de Taquaritinga, SP
Valdinei Malaguti/EPTV
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Complicações
O mutirão aconteceu no dia 21 de outubro e atendeu 24 pacientes de cidades de Taquaritinga, Monte Alto, Santa Ernestina, Matão e Itápolis.
Benedito lembra que deixou o centro cirúrgico com dor e que o desconforto permaneceu até a consulta pós-operatória no dia seguinte.
“Eu estava enxergando bem, mas depois que acabou tudo, já senti dor, o olho tudo embaçado. No outro dia cedo, eu voltei lá, já passei com outra médica. Ela disse que estava tudo bem, que a cirurgia tinha sido ótima, mas eu falei pra ela: ‘eu não estou enxergando nada’. Ela disse que em três meses eu voltaria a enxergar de novo. Vai fazer quatro meses e estou com um olho só. Eu vejo um vulto, mas bem longe”, diz.
Benedito Donizete Lavezzo perdeu parte da visão do olho direito após cirurgia de catarata no AME de Taquaritinga, SP
Valdinei Malaguti/EPTV
Providências
Cerca de um mês do mutirão, após o agravamento dos quadros de saúde, uma reunião foi realizada entre 12 pacientes afetados e o AME.
De acordo com os idosos, eles foram encaminhados para serviços de referência em oftalmologia na Santa Casa de Araraquara e no Hospital das Clínicas (HC) de Ribeirão Preto (SP), onde parte recebeu a notícia de que a situação é irreversível.
Em nota, a Prefeitura de Taquaritinga informou que todos foram inseridos na fila de transplante de córnea. O procedimento, no entanto, não é garantia de restabelecimento da visão.
“Segunda-feira passada eu fui na consulta com eles [AME] e eles me transferiram para Araraquara. Agora estou sendo atendido lá e vamos ver o que vai dar. Em Araraquara, disseram que eu vou ter chance de enxergar de novo, mas não 100% . Uns 60%, 70% mais ou menos. Voltar do jeito que era não vai voltar mais”, diz Benedito.
A salgadeira Maria de Fátima Garcia Chiari ficou cega do olho direito após passar por cirurgia de catarata no AME de Taquaritinga, SP
Valdinei Malaguti/EPTV
O que diz a Saúde?
Nesta sexta-feira, a secretária executiva de Saúde do Estado de São Paulo, Priscilla Perdicaris, disse que o governo do estado só tomou conhecimento dos casos em janeiro por meio da Santa Casa de Franca, que é a Organização Social (OS) responsável pela administração do AME de Taquaritinga.
“O fato está sendo apurado. Tão logo nós soubemos pela OS que gerencia essa unidade, nós enviamos a nossa equipe de Vigilância Sanitária e enviamos a equipe da Controladoria de Gestão de Serviços em Saúde, que faz a coordenação dos AMEs no estado, para um levantamento detalhado de tudo o que pode ter acontecido na cirurgia.”
Ainda à espera dos laudos para avaliar as medidas necessárias e sem dar detalhes, Priscilla Perdicaris disse que a sala onde é feita a esterilização dos equipamentos passou por adequações. Todas as cirurgias feitas no AME de Taquaritinga estão suspensas.
A secretária disse que os pacientes estão recebendo medicação, atendimento médico e multidisciplinar para que possam restabelecer a qualidade de vida.
A Prefeitura de Taquaritinga informou que o município recebe a prestação do serviço de saúde por meio do AME, mas que não é responsável pela gestão do ambulatório.
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