Crianças indígenas são as maiores vítimas de câncer no país; Em MS, apenas um hospital está habilitado para tratamento


Dados fazem parte do Panorama da Oncologia Pediátrica, que apresenta o cenário da doença entre crianças e adolescentes no país. Taxa de mortalidade por câncer em crianças indígenas é maior do que em brancas.
Reprodução/Marcello Casal Jr.
O câncer infantil é a primeira causa de morte entre crianças e adolescentes no Brasil, segundo aponta o Panorama da Oncologia Pediátrica, do Instituto Desiderata. Nesse contexto, as crianças indígenas são as maiores vítimas da doença, conforme revelam os dados da organização, divulgados nesta sexta-feira (7).
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Os resultados apontam que 76 crianças e adolescentes entre 1 milhão de indígenas estão morrendo de câncer a cada ano, enquanto a taxa de mortalidade na raça branca é de 43 em 1 milhão, na negra é de 39 em 1 milhão e, na amarela é 15 em 1 milhão.
O Mato Grosso do Sul é o terceiro do país com maior número de indígenas, perdendo apenas para Amazonas e Bahia. O último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostrou que existem 116,3 mil indígenas vivendo no Estado.
Com uma população de 4,8 milhões de crianças e adolescentes, a região Centro-Oeste tem estimativa de 660 novos casos de câncer infantojuvenil, entre 2023 e 2025. Em Mato Grosso do Sul, essa população chega a 853 mil, e a estimativa é de 120 novos casos no mesmo período, segundo o levantamento.
Desigualdade
O Panorama da Oncologia Pediátrica também mostra a desigualdade na saúde. Enquanto a região Sudeste tem 36 hospitais habilitados para o tratamento do câncer infantojuvenil, a região Centro-Oeste conta apenas com cinco. Em Mato Grosso do Sul, só um hospital está habilitado para atender esse tipo de demanda.
Conforme o estudo, essa carência faz com que famílias sejam deslocadas para centros de atendimentos especializados em outras cidades, estados ou até mesmo regiões, para que seja feito o tratamento. Com isso, cerca de 13,5% de crianças e adolescentes com câncer na região Centro-Oeste não iniciaram o atendimento e, destes, 25% foi por precisarem fazer o tratamento fora de sua cidade.
No período de 2017 a 2021, 40% das crianças menores de 1 ano de idade em Mato Grosso do Sul foram atendidas em hospitais não habilitados em oncologia pediátrica. Na faixa etária de 1 a 14 anos, foram 18,3% atendidos, e de 15 a 19 anos, 51,4% foram atendidos em outros hospitais.
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Outro ponto de destaque é o alto percentual de crianças e adolescentes atendidas em hospitais não habilitados, na faixa etária dos maiores de 14 anos na região Centro-oeste. Em todo sistema nacional de atenção à criança, a partir de 2014, a faixa pediátrica foi expandida para 15 anos, mas, na maioria das unidades no Distrito Federal, por exemplo, o limite persiste em 12 anos.
O Panorama sugere, ainda, que na porta de entrada do sistema de saúde, já se observa o direcionamento para serviços direcionados ao câncer do adulto, com consequências negativas no tratamento dos adolescentes.
Segundo a gerente de Oncologia do Desiderata, Carolina Motta, o câncer infantojuvenil é, atualmente, a principal causa de morte por doenças no Brasil entre crianças e adolescentes. Nos últimos 20 anos, a taxa de mortalidade por câncer em crianças e adolescentes permaneceu estagnada em nosso país, enquanto, em muitos países do eixo norte global, houve avanços significativos, com redução das taxas de mortalidade e aumento das chances de cura, que já ultrapassam 80%.
“Precisamos priorizar o câncer infantojuvenil nas políticas públicas para mudarmos essa realidade”, afirma.
O Panorama da Oncologia Pediátrica reúne dados do Registro Hospitalar de Câncer, do Registro de Câncer de Base Populacional, do Sistema de Mortalidade do Datasus/Ministério da Saúde e do Instituto Nacional de Câncer (INCa).
Sobre o Instituto Desiderata
O Instituto Desiderata é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público, criada há 21 anos, e dedicada a ações e políticas públicas para a melhoria da saúde infantojuvenil, focada no acesso rápido ao tratamento do câncer de crianças e adolescentes no Sistema Único de Saúde e em políticas contra a obesidade infantojuvenil.
Para ter acesso a mais dados do Panorama de Oncologia Pediatrica, acesse aqui.
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