Chacina em Miracema completa três anos sem nenhum suspeito preso e famílias pedem justiça: ‘Não durmo’


Assassinatos aconteceram após morte de um sargento da Polícia Militar do Tocantins, em Miracema do Tocantins. Os crimes aconteceram nos dias 4 e 5 de fevereiro de 2022 e três anos depois as investigações ainda não foram concluídas. Chacina deixou sete mortos em Miracema do Tocantins
Motagem/g1
A chacina que deixou seis pessoas mortas em Miracema do Tocantins completa três anos nesta semana. Tudo começou após a morte de um policial militar durante confronto com criminosos, em 2022. Dois homens foram assassinados dentro de uma delegacia, após prestarem depoimento, eles eram pai e filho. A Polícia Civil continua investigando os crimes e nenhum suspeito foi preso. Para as famílias das vítimas, apesar dos anos, a busca por justiça permanece.
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Os casos foram registrados nos dias 4 e 5 de fevereiro de 2022. Após a morte do sargento da PM, Anamon Rodrigues, outras seis pessoas foram assassinadas na cidade. São elas: Valbiano Marinho da Silva, Manoel Soares da Silva, Edson Marinho da Silva, Aprigio Feitosa da Luz, Pedro Henrique de Sousa Rodrigues e Gabriel Alves Coelho. (veja mais detalhes sobre as vítimas abaixo)
Em entrevista ao g1, Celene Alves, mãe de Gabriel Alves, contou que ainda não recebeu notícias sobre o andamento das investigações, mas espera que o inquérito seja finalizado logo para esclarecer que seu filho não tinha relação com facções e a morte do policial.
“Em primeiro lugar, a gente busca a justiça, né? Porque até agora a gente não sabe de nada. Não tem nenhuma solução ainda. Porque até hoje esses meninos foram enterrados, foram sepultados como os bandidos que mataram o policial. Para muitos aqui da cidade, eles são vistos assim. Não foram eles. Eles não tinha nada a ver com isso. Meu filho não era do meio de facção, desse tipo de coisa. Ele não não era esse tipo de pessoa”, contou.
Gabriel Alves Coelho foi encontrado morto no dia 5 de fevereiro em Miracema
Reprodução/Arquivo Pessoal
Desde a morte do jovem, que na época tinha 18 anos, a família de Gabriel lida com a dor. As boas lembranças são o que restaram para a mãe, pai e irmã do jovem.
“Gabriel era um menino assim muito alegre, sabe? Era uma pessoa de um coração muito bom. Gostava de ajudar os outros. Era um jovem muito cheio de vida. Gostava muito de interagir. Ele estava fazendo o segundo ano, ia começar o ano letivo. Todo mundo [família] triste. É, levando a vida. A gente não pode parar, né? Mas sentindo muito”, contou Celene.
A Secretaria de Segurança Pública informou que a Polícia Civil continua investigando os crimes, mas que as informações sobre o inquérito não serão passadas no momento para não prejudicar o andamento do processo, que corre em segredo de justiça (veja nota completa abaixo). O Ministério Público informou que “o caso está em investigação”.
O delegado Afonso Lyra, da Diretoria de Repressão à Corrupção e ao Crime Organizado, é o responsável pelo inquérito. Ele disse que as investigações estão avançado e espera terminar o inquérito o mais breve possível.
“A gente pode dizer para todos e em específico para as famílias que o caso não está parado, as investigações estão concluindo ainda. A gente está avançando as investigações e a gente espera o mais breve possível terminar esse caso dando a resposta”, contou.
Dona Maria do Carmo Paula foi até o Ministério Público nesta quarta-feira (5) em busca de justiça pelas mortes dos filhos Valbiano Marinho da Silva e Edson Marinho da Silva e do marido Manoel Soares da Silva. Em entrevista à TV Anhanguera, ela contou que ainda lembra os dias dos assassinatos.
“Tomo remédio para ansiedade que eu não tinha. Tem uns três anos que começou. Tenho que tomar toda a noite. A noite que não tomo, passo mal. Não durmo. No dia que eu não tomo o medicamento eu vejo tudo. Vejo o meu marido na delegacia, vejo o outro no hospital, vejo o outro morto no chão que foi eu que peguei. É muito difícil, porque não tem como eu tirar da mente, né?”, disse.
O Movimento Estadual dos Direitos Humanos levou o caso para a Anistia Internacional, uma ONG que luta pela justiça social no mundo. Segundo a assessora jurídica do Movimento, Fatima Dourado, a chacina é uma afronta ao próprio estado.
“Eles também fazem acompanhamento de casos graves de violação de direitos humanos. Essa chacina que ocorreu em Miracema é uma grave violação de direitos humanos, porque afronta os direitos fundamentais das pessoas que foram vítimas, afronta o próprio estado”, explicou.
Morte do sargento
O sargento da Polícia Militar Anamon Rodrigues de Sousa, de 38 anos, morreu durante confronto na noite do dia 4 de fevereiro de 2022. Ele atuava na Agência de Inteligência da corporação e tinha ido até o setor Novo Horizonte II fazer um levantamento de crimes na região para subsidiar operação da Polícia Militar que seria realizada no dia seguinte.
Sargento da PM morreu durante troca de tiros com criminosos, em Miracema do Tocantins
Divulgação
Durante o confronto, houve uma troca de tiros e o sargento foi atingido por uma bala de calibre 22. O tiro entrou no tórax e subiu rumo ao pescoço, rompendo várias artérias. Ele chegou a ser socorrido e levado a um hospital, mas não resistiu.
Anamon era divorciado e deixou duas filhas. Em junho de 2021, ele havia concluído o IV Curso Operacional de ROTAM, em Palmas.
Suspeito de matar sargento é assassinado
Horas depois do confronto Valbiano Marinho da Silva foi assassinado em casa. Ele é considerado pela polícia o suspeito de matar o sargento. O assassinato aconteceu após o pai e irmão serem levados para a delegacia. Na época a mãe de Valbiano, Maria do Carmo, contou que tinha acabado de chegar em casa e estava tomando banho quando escutou os tiros. Segundo ela, a filha deficiente e as netas pequenas viram o homem sendo morto.
A Polícia Militar chegou a informar que quando os militares estavam na delegacia, receberam a informação de que Valbiano tinha sido morto a tiros dentro da casa da família. Ainda não há informações sobre quem seriam os autores desse crime.
Segundo Maria, no dia, a casa foi invadida pelos policiais e que o filho foi morto na porta de casa e estava algemado quando foi assassinado:
“O Valbiano a polícia matou ele na porta. Não entrou. Aí eles atiraram no Valbiano algemado. Mataram ele algemado! Aí minha menina deficiente falou, mataram meu irmão, e disseram entra para dentro, entra para dentro. E depressa tiram a algema”, disse Maria do Carmo.
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Vídeos mostram depoimentos de pai e filho momentos antes de serem mortos durante invasão de delegacia por homens encapuzados
Pai e filho mortos na delegacia
Depoimentos de pai e filho foram gravados antes das mortes na delegacia de Miracema
Reprodução
Ainda no dia 4 de fevereiro, militares foram até o endereço onde o crime aconteceu e realizaram buscas em uma casa. No local foi encontrada uma arma de fogo, que teria sido usada no tiroteio. Em seguida, Manoel Soares e Edson Marinho foram levados à delegacia para prestar depoimento.
Manoel e Edson são pai e irmão de Valbiano, respectivamente. Quando os dois estavam na delegacia, o local foi invadido por 15 pessoas encapuzadas que atiraram contra os dois. Segundo o laudo da morte, pai e filho receberam ”incontáveis’ tiros de vários calibres.
Vídeos gravados na delegacia mostram parte dos depoimentos de pai e filho momentos antes deles serem mortos. Eles haviam passado a madrugada na delegacia e tinham sido liberados, mas estavam aguardando o dia amanhecer para voltarem para casa com segurança, segundo consta no B.O.
Três jovens encontrados mortos
No dia 5 de fevereiro, três corpos foram encontrados no loteamento Jardim Buriti. as vítimas apresentavam perfurações, provavelmente ocasionadas por arma de fogo, segundo boletim de ocorrência.
As investigações ainda não concluíram se as mortes dos três jovens, tem ligação com os assassinatos anteriores. As vítimas foram identificadas como Aprigio Feitosa da Luz de 24 anos, Gabriel Alves Coelho, de 21 anos e Pedro Henrique de Sousa Rodrigues de 18 anos.
Um jovem, que na época tinha 18 anos, foi sobreviveu à chacina. Ele chegou a ser baleado nas costas, mas conseguiu fugir e passou por cirurgia.
Investigação da Gaeco e Polícia Civil
Em junho de 2022, foram cumpridos 25 mandados de busca e apreensão em Palmas, Lajeado e Miracema. Os alvos foram casas de policiais militares e também as sedes de batalhões da PM em Miracema e em Palmas. Agentes estiveram também no Quartel do Comando Geral da PM, na capital. Na época ninguém foi preso.
Íntegra da nota da Secretaria de Segurança Pública
A Secretaria de Segurança Pública do Tocantins (SSP-TO) reitera que a Polícia Civil, por meio da Diretoria de Repressão ao Crime Organizado (Dracco), continua empreendendo todos os esforços na investigação que envolve a morte de seis pessoas, ocorridas na cidade de Miracema do Tocantins, em fevereiro de 2022.
Mais informações serão repassadas em tempo oportuno com intuito de não prejudicar o andamento das investigações que correm em segredo de justiça.
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