“Magia negra”: entenda o mistério em mortes e crimes relacionados

As Polícias Civil de Vinhedo e Americana, cidades de São Paulo, investigam os dois casosDivulgação

O desaparecimento de um funcionário público da Secretaria de Saúde de Vinhedo (SP), de 55 anos, em novembro de 2024, deu início a uma série de investigações que revelaram um enredo de crimes interligados, incluindo morte suspeita por “rituais de magia negra” e uma esquema de fraudes financeiras.

Tudo começou quando o servidor, que não compareceu ao trabalho por dois dias consecutivos, foi dado como desaparecido. Os colegas tentaram entrar em contato com ele, sem sucesso. Após quatro dias sem respostas, decidiram ir até sua casa, onde encontraram o corpo do homem sobre a cama e com as mesmas roupas que vestia no último dia em que foi visto. 

A ausência de sinais de agressão e o desaparecimento do celular da vítima geraram dúvidas; a Polícia Civil de Vinhedo foi acionada. O caso foi registrado como “morte suspeita”. Os investigadores do Setor de Investigações Gerais (SIG) de Vinhedo estiveram no local, e não constataram marcas de agressão aparente.

Investigação

Os agentes localizaram as últimas pessoas que tiveram contato com o servidor. Durante as investigações, a namorada da vítima afirmou que mantinha um relacionamento com ele há 3 meses e que ficariam noivos em dezembro. Os agentes suspeitaram dela ter declarado que ficou uma semana na casa de um amigo e não tentou fazer um único contato telefônico nesse período em que o homem ficou desaparecido.

As investigações ainda revelaram que, no dia da morte, transferências bancárias no valor de R$ 180 mil foram feitas a partir da conta da vítima, através de seu celular. Conforme laudo pericial, o corpo já estava em processo de decomposição. Os beneficiários dessas transferências eram justamente a namorada da vítima e o amigo, que afirmam não saber o paradeiro do celular.

Casos conectados

A Polícia Civil de Vinhedo foi acionada no começo de janeiro pela corporação da cidade de Americana (SP), que investigava o desaparecimento de um morador local. As duas cidades ficam cerca de 55 km de distância uma da outra. O empresário Davi Aires Costa, de 63 anos, foi visto pela última vez no dia 11 de janeiro ao sair para um encontro religioso. 

A Polícia Civil de Americana descobriu que o último local em que o homem foi visto é um centro religioso comandado por uma travesti conhecida como “Pai Tuta”, moradora na cidade de Campinas, identificada como a mesma pessoa apontada como álibi do caso de Vinhedo. 

No dia 18 de janeiro, um corpo de um idoso mutilado e com “sinais de magia negra” foi encontrado em um cemitério em Hortolândia (SP). O cadáver foi identificado como Davi Aires.

Ambos os casos – o de Vinhedo e o de Americana – têm uma ligação com o terreiro religioso liderado por “Pai Tuta”, e nos dois casos, valores foram transferidos das contas das vítimas para os suspeitos, depois que estavam mortas. A polícia também descobriu que outro “pai de santo”, conhecido como “Pai Fuji”, da cidade de Sumaré (SP), também estava envolvido.

“Ritual” em cemitério

De acordo com as investigações, um ex-funcionário e amigo pessoal de Davi, conhecido como Funcho, o convidou para um ritual religioso. Após realizarem oferendas, Funcho e Davi e uma recepcionista do terreiro seguiram para um cemitério para um segundo ritual.

No local, a vítima foi rendida e forçada a fornecer senhas bancárias, além de transferir dinheiro para a conta de Funcho e entregar seus pertences. Em seguida, o ex-funcionário estrangulou Davi com um “mata leão” e, com ajuda da outra suspeita, empalou a vítima ainda viva com um cabo de vassoura. Por fim, deu dois tiros na cabeça do empresário, abandonando o corpo no local.

Suspeitos presos

A líder espiritual Tuta, apontada como mentora do crime, está foragidaDivulgação

Mandados de prisão foram expedidos para a busca dos suspeitos nas cidades de Campinas, Sumaré, Hortolândia e Vinhedo. “Pai Fuji” foi preso em Sumaré, enquanto Funcho foi preso em Sumaré. Em Vinhedo, foram presas a recepcionista e a namorada do servidor. Ela também é suspeita de envolvimento no caso de Americana. “Pai Tuta” é apontada como foragida; ela é apontada pela DIG como mentora intelectual do crime.

Até o momento, os dois presos confessaram a participação nos crimes, mas a Polícia Civil segue com diligências para esclarecer todos os detalhes e capturar os envolvidos restantes. A investigação continua a evoluir, e novas informações sobre os casos podem surgir a qualquer momento.

Em resposta ao Portal iG, a Delegacia de Investigações Gerais (DIG) de Americana afirmou que, durante as investigações, a equipe descobriu que um dos suspeitos usava sua religião para coagir seguidores.

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