Muito além de super-heróis e gibis infantis: Campinas celebra variedade de HQs no Dia do Quadrinho Nacional


Biblioteca Municipal comemora há 12 anos a data com feira de quadrinhos, exposições, bate-papos e oficinas. Região se tornou centro de formação de quadrinistas no fim da década de 1990, com abertura de uma escola de arte que ensinava a nona arte. Campinas celebra variedade de HQs no Dia do Quadrinho Nacional
É comum pensar em super-heróis ou na Turma da Mônica quando ouvimos sobre histórias em quadrinhos (HQs), mas a produção da chamada nona arte vai muito além. Nesta quinta-feira (30) é celebrado o Dia do Quadrinho Nacional, e Campinas (SP) tem um papel importante na crescente produção nacional, contribuindo com a variedade de temas. 📖
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Na metrópole do interior paulista a data é celebrada pela Biblioteca Municipal Professor Ernesto Manoel Zink desde 2013 com exposições, bate-papos, oficinas e feira de quadrinistas independentes e que se estende ao longo das semanas seguintes.
🔍 A data passou a ser celebrada pela Associação dos Quadrinistas do Estado de São Paulo (AQC-ESP) em referência a Ângelo Agostini que, em 30 de janeiro de 1869, publicou a primeira história em quadrinhos brasileira chamada “As Aventuras de Nhô Quim”.
Organizado pela bibliotecária Suze Elias, o evento deste ano vai homenagear os 15 anos de carreira do quadrinista campineiro Digo Freitas. Segundo Suze, o público de HQs na região “sempre existiu e vem crescendo nos últimos anos”.
“E tem um outro lado quando falamos do Dia do Quadrinho Nacional, porque com ele a gente se aproxima mais da população, para a população perceber que realmente tem gente que faz quadrinhos e que não é só Turma da Mônica”, afirma o quadrinista Bira Dantas.
“O importante é você apresentar para as pessoas diversidade e possibilidade de escolha, é isso que a gente faz aqui com a gibiteca”, diz a bibliotecária
Estevão Mamédio/g1
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Diversidade do quadrinho brasileiro
As histórias em quadrinhos existem em todo o mundo e cada país apresenta características próprias, menos no Brasil. Para Suze e o quadrinista Bira Dantas, as HQs brasileiras se constroem sem um padrão, demonstrando “diversidade de estilos e temáticas dos artistas nacionais”.
Bira, como é mais conhecido, faz HQs há 40 anos e entre as várias obras que produziu, é conhecido por desenhar a primeira fase da revista em quadrinhos dos Trapalhões no início da década de 1980. Ele lembra que, como toda profissão e arte, os quadrinhos se modificaram ao longo do tempo.
“Antigamente eram necessárias muitas pessoas para produzir em massa uma história em quadrinhos, hoje isso mudou. Hoje em dia a maioria dos artistas que desenham quadrinhos trabalham de forma independente, porque a tecnologia e as redes sociais possibilitaram isso. E com isso, muito mais quadrinistas foram aparecendo”, explica.
HQ produzida por Bira Dantas e João Antônio Buhrer que retrata como seria o cenário caso Ângelo Agostini visitasse Campinas
Arquivo pessoal
Ricardo Quintana, quadrinista e sócio de uma escola de arte e quadrinhos em Campinas há 27 anos, explica que o Dia Nacional do Quadrinho Nacional ajuda as pessoas a conhecerem o mercado de HQs brasileiras, que, segundo ele, “nunca esteve tão bem como hoje”.
“Acho que o mercado de quadrinho nacional mudou para melhor e as pessoas estão percebendo cada vez mais que as histórias em quadrinhos são uma linguagem, uma forma de contar história de maneira única, o que é genial”, declara Ricardo.
Campinas como inspiração
Bira que morou em Campinas por 33 anos conta que a metrópole o inspirou e influenciou em diversos aspectos, porque após um tempo sem trabalhar com HQs o quadrinista voltou a desenhar quadrinhos por conta da cidade. Em 1998 ele conheceu uma escola de arte recém-aberta na metrópole que ensinava a nona arte, onde foi professor por um tempo.
A metrópole foi palco de muitas de suas obras como “Cartoons de Campinas”, que mostram a conhecida Avenida Francisco Glicério, prédios da Rua Bernardino de Campos, além de uma HQ feita com o roteirista João Antônio Buhrer sobre uma possível visita de Ângelo Agostini à metrópole.
“Eu ia para os lugares e ficava desenhando para retratar Campinas. E era uma forma de mostrar que realmente a cidade é uma coisa viva, e a gente faz parte dela. E aí, o diferencial que achei que aconteceu em Campinas para o cenário dos quadrinhos crescer e atrair mais artistas foi exatamente a abertura da escola de arte”, conta Bira, professor de desenho por cerca de 20 anos.
Segundo ele, traçando uma espécie de ‘linha do tempo’ do cenário dos quadrinhos em Campinas, é possível perceber uma concentração de quadrinistas na região a partir da década de 1990. Bira explica que antes desse momento havia poucos artistas do ramo na cidade, que “sustentavam” a nona arte da maior região do interior de São Paulo.
Bira começou a desenhar quando criança e um de seus primeiros trabalhos foram para a revista em quadrinhos “Os Trapalhões”
Claudia Carezzato
Efervescência da nona arte regional
Quintana conta que nos 27 anos que atua na escola de desenho participou ativamente do que ele chamou de “efervescência do universo das histórias em quadrinhos na região de Campinas”
Ele trabalha diariamente com a formação de novos artistas e explica que a cena dos quadrinhos na região viveu várias fases, mas atualmente conquistou um público mais amplo por causa do cinema que popularizou a mídia e ajudou a despertar interesse nas pessoas. E aqueles que se aprofundaram um pouco mais, também conheceram o quadrinho nacional.
“Deixamos de ter aquele público específico, o público nerd, para ter um público mais amplo. Então, a gente está formando uma nova geração de pessoas que estão se preocupando com a linguagem das histórias em quadrinhos e destas pessoas acabam saindo mais pessoas interessadas na linguagem, que começam a ver o quadrinho nacional, começam a entender que existe muito mais do que o que eles veem no cinema e se apaixonar e procurar mais coisas”, relata Quintana.
Gibiteca e Dia do Quadrinho Nacional na Biblioteca 📚
Primeira história em quadrinhos brasileira, publicada em 1869 por Ângelo Agostini, que inspirou a criação do Dia Nacional do Quadrinho e o troféu que premia quadrinistas pelo Brasil
Estevão Mamédio/g1
A gibiteca da Biblioteca Municipal foi um projeto que surgiu a partir de um acervo adquirido com a escola de desenho e que possibilitou o primeiro passo para os eventos anuais.
“Na primeira vez chamamos só uns 10 quadrinistas, mas deu um monte de gente, […] então a gente viu que tinha público aqui em Campinas que poderia consumir isso”, lembra a bibliotecária.
Serviço
O que: 12ª edição do Dia do Quadrinho Nacional com homenagens a quadrinistas de Campinas e região, feiras de quadrinhos, bate-papos e oficinas.
Data: de 30 de janeiro a 28 de fevereiro
Local: Biblioteca Municipal Professor Ernesto Manoel Zink
Endereço: Avenida Benjamin Constant, 1633 – Centro, Campinas
Quanto: gratuito
*Estagiária sob supervisão de Marcelo Gaudio e Fernando Evans
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