Ensino integral, cursinho e horas no transporte: a rotina do estudante que passou em 1º em medicina na USP pelo Provão Paulista


Aluno de escola estadual de 17 anos relata dificuldade em conciliar ritmo intenso de estudos com vida pessoal e importância do apoio de professores na preparação para vestibulares. Ele também dá dicas para quem vai prestar as provas. Estudante de escola pública de SP comemora aprovação em medicina na USP
Após passar dois anos em uma rotina cansativa de estudos, Luiz Filippe Campos, de 17 anos, foi aprovado em primeiro lugar no curso de medicina na Universidade de São Paulo (USP), na modalidade de ingresso pelo Provão Paulista, destinada a alunos de escolas públicas.
O morador de Taboão da Serra, na região metropolitana, acordava às 5h para vir de transporte público à capital paulista, onde estudava em um cursinho, com bolsa de estudos parcial, das 7h às 12h30. Depois, tomava duas linhas de metrô e um ônibus para voltar ao município vizinho e assistir às aulas do ensino médio integral, numa escola estadual, das 14h às 21h15.
No tempo que passava se deslocando, ele aproveitava para fazer as leituras obrigatórias cobradas nos principais vestibulares do estado.
“Era muito difícil. Eu precisava arranjar tempo de fazer as coisas de um ser humano qualquer, como almoçar, tomar banho. Fazia o máximo para almoçar o mais rápido possível para conseguir chegar a tempo na escola, porque era longe. Quando eu voltava para casa, tinha que dormir logo depois de tomar banho, para conseguir acordar às 5h no dia seguinte, me recompor e conseguir manter essa rotina”, relatou Luiz ao g1.
O estudante contou que, até começar o ensino médio, não se dedicava tanto aos estudos. Uma “chave virou” em sua cabeça quando conversou com os pais sobre o desejo de se tornar médico. Juntos, eles chegaram à conclusão de que o rapaz teria que melhorar o desempenho nas disciplinas obrigatórias para conseguir uma vaga numa universidade pública — já que não teriam condições de bancar uma instituição privada.
No primeiro ano, Luiz se dedicou quase que exclusivamente à matemática, conquistando uma medalha de prata na Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP). Porém, sentiu que ainda estava defasado nas demais disciplinas e decidiu tentar uma bolsa num cursinho pré-vestibular para intensificar os estudos desde o 2º ano do ensino médio.
Em meio à rotina puxada, ainda tentava conciliar o tempo com a família, os amigos e a namorada. Nesse processo, contou com o apoio e incentivo de seus professores.
Muitos professores da minha escola me apoiaram. Eles falavam: ‘Luiz, eu sei que deve está difícil, essa rotina é muito árdua, mas você vai conseguir’. Esse apoio foi essencial… tem uma professora que gosto muito. A Andreia, ela é professora de geografia. Eu nem gostava tanto de geografia, mas pelo fato de ser ela que ensina, comecei a gostar. Foi essa professora que me apoiou emocionalmente nesse período de vestibular
O estudante acertou 82 das 90 questões do exame, gabaritando seis disciplinas. Ciente da pontuação, ele se inscreveu para as vagas de medicina disponíveis nas principais universidades do estado, como USP, Unesp e Unicamp.
A tão esperada aprovação veio em 20 de janeiro, quando foram divulgados os resultados da primeira chamada do Provão Paulista. Luiz estava no carro com o pai, quando viu o nome na lista de convocados para matrícula (veja vídeo).
“Eu sabia que eu tinha uma nota muito forte, mas fiquei muito tenso porque eram poucas vagas e toda São Paulo estava competindo comigo. Quando vi meu nome na lista, eu não acreditei, falei: ‘Meu Deus!’ Soltei um berro na hora, chorei, meu pai também chorou. Foi um momento muito legal.”
📚 Dicas de estudo
Luiz Filippe Campos Soares, estudante que passou em 1º lugar no curso de Medicina na USP via provão paulista
Divulgação/Objetivo
Luiz Filippe citou ao g1 algumas dicas que daria para quem ainda vai prestar vestibular:
Ter momentos de lazer: “Para quem quer medicina, principalmente, eu aconselharia a estudar de segunda a sábado, e domingo você deixar para fazer alguma coisa de que você gosta. Então, se você gosta de fazer algum esporte, faz no domingo; se gosta de jogar videogame, faz no domingo”;
Ir além da teoria: “Para matérias de Exatas e Ciências da Natureza, o que eu aconselho é fazer o máximo de questões possível. Você tem que fazer sério, fazer ‘pensando’, não no automático. Por exemplo, tem 15 questões e você conseguiu resolver 13. Você vai separar as duas que não conseguiu resolver e falar: ‘Então, professor, não estou conseguindo fazer essas questões, pode me explicar, por favor?'”;
Se manter informado: “Eu via jornal, às vezes, quando dava, e também, no Instagram, eu seguia algumas contas de notícias, de geopolítica”.
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