Peixes-espada podem ter confundido banhistas com alimento em ataque em Rio das Ostras, diz biólogo


Turistas foram surpreendidos com ataque simultâneo e sofreram cortes nas pernas e tornozelos ao entrar na praia no começo da noite de segunda-feira (20). Peixe-espada capturado pelo pescador Pedro após ataque a banhistas em Rio das Ostras
Jhones Poubel/Arquivo pessoal
O ataque simultâneo de um cardume de peixes-espada que deixou sete feridos em uma praia de Rio das Ostras (RJ) pode ter ocorrido porque os peixes confundiram os banhistas com alimento. A explicação é do biólogo Jhones Poubel.
Ao g1, ele disse que, apesar desse tipo de ocorrência ser rara, sem nenhum registro anterior na região, a incidência do peixe-espada é comum no litoral do estado do Rio de Janeiro durante o verão e ele pode ter se aproximado da orla para caçar peixes menores, como a sardinha, por exemplo.
“Ele vai na tentativa de caçar, de se alimentar de outro peixe, então, ele pode confundir. Os banhistas estavam na água, nadando, boiando, mexendo, e, nesse movimento com os pés e com as mãos, o peixe pode ter achado que seria a sua caça, um peixe menor”, explicou o biólogo.
Banhistas foram atacados por cardume de peixe-espada em Rio das Ostras
Imagens cedidas Rio das Ostras em Foco
Os banhistas estavam na parte rasa da praia da Baleia, no começo da noite de segunda-feira (20), quando foram surpreendidos com mordidas nos pés e tornozelos. O ataque assustou quem presenciou a cena e intrigou quem acompanhou as imagens pelas redes sociais. Veja no vídeo abaixo.
“Cardumes desses peixes menores encostaram na praia e os espadas foram atrás. E no mesmo momento, os banhistas estavam na água. Foi um encontro inesperado”, afirmou.
Entender como a espécie se comporta é importante para que os banhistas se mantenham alerta e saibam como agir. Os ferimentos podem ser profundos.
“A boca do peixe-espada pode provocar feridas graves se não for manuseada com cuidado. Os dentes afiados e a mandíbula inferior móvel podem causar cortes profundos e lesões nos tecidos”, disse Poubel.
Gustavo Barcelos, de 21 anos, é uma das vítimas do ataque. O jovem é de Campos dos Goytacazes, no Norte Fluminense, e estava na praia de Rio das Ostras com a mãe. Ela viu quando o filho e outras pessoas saíram às pressas do mar. Todos os feridos receberam alta do hospital.
Gustavo precisou levar quatro pontos e se recupera na casa que foi alugada na cidade, onde ficará com a família até o final do mês.
“Não foi muito fundo. Local tranquilo. Só que o horário era meio tarde, devia ser umas seis e meia, sete da noite, quando fomos atacados por esse peixe. Saiu machucando a todos”, lembrou Gustavo.
Quanto ao comportamento do peixe-espada, o biólogo Jhones Poubel explicou que é um peixe de hábito noturno. Ele deixa as seguintes recomendações aos banhistas:
Seguir as orientações dos bombeiros sobre a presença de cardumes no local
Evitar, por curiosidade, se aproximar e nadar próximo desses cardumes
Sair da água nesse período da tarde para a noite
Banhistas são atacados por peixes em Rio das Ostras
Comportamento e características do peixe-espada
O Trichiurus lepturus, nome científico do peixe-espada, é um predador que se alimenta à noite de peixes, crustáceos e cefalópodes, podendo se aproximar da orla durante a caça. Durante o dia, se esconde em áreas de vegetação ou estruturas submersas.
Possui corpo prateado, alongado e achatado, em forma de lâmina, que pode chegar a um metro de comprimento. A espécie também pode pesar até 5 kg.
A boca, grande e pontuda, tem dentes com algumas presas grandes na região frontal. Ainda possui olhos grandes e longa nadadeira dorsal. É uma espécie sem nadadeiras pélvica e caudal.
Quanto à boca do peixe-espada, o biólogo Jhones Poubel destacou algumas características interessantes e importantes para entender o comportamento e ecologia da espécie.
A boca do peixe-espada:
Focinho alongado: A boca do peixe-espada é localizada no focinho alongado, que é uma extensão do crânio.
Dentes afiados: A boca do peixe-espada é equipada com dentes afiados e pontiagudos, que são ideais para capturar e comer presas.
Mandíbula inferior móvel: A mandíbula inferior do peixe-espada é móvel, o que permite que ele abra a boca de forma muito larga para capturar presas maiores.
Captura e consumo do peixe-espada
A incidência do peixe-espada ocorre em águas tropicais e subtropicais, incluindo a região do Rio de Janeiro, e em profundidades de zero a 200 metros. Ele gosta de águas quentes e temperadas e pode ser facilmente pescado por adeptos da pesca esportiva e comercial.
Na primavera e verão, os peixes-espadas formam grandes cardumes e entram nos mangues e estuários para reprodução.
O biólogo reforçou a importância da espécie nas pesquisas de bioacumulação (absorção de substâncias químicas por alguns indivíduos). O peixe-espada é monitorado com a finalidade de gerar levantamento de contaminação por metal pesado em ambientes aquáticos marinhos.
Poubel citou que estudos realizados pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) detectaram a presença do metal mercúrio (HG) em peixes, como o peixe-espada, capturados na região do Rio de Janeiro.
O biólogo Jhones Poubel segurando um peixe-espada ao lado do pescador Pedro (que pescou o peixe que aparece na foto), da esposa de Pedro, Marcele; e do filho de Pedro, Pietro
Jhones Poubel/Arquivo pessoal
Porém, os níveis de mercúrio encontrados nos estudos variaram e, em muitos casos, estavam dentro dos limites considerados seguros para o consumo humano.
Pelo fato do peixe-espada ser um carnívoro localizado no topo da cadeia alimentar, ele pode indicar o grau de contaminação do metal mercúrio (Hg) nas águas.
O biólogo alerta que, para evitar os efeitos do mercúrio na saúde humana – que envolvem danos ao sistema nervoso e prejuízos ao desenvolvimento fetal com impactos no crescimento, desenvolvimento cognitivo e comportamental – é importante consumir peixes de fontes confiáveis e variar a dieta para minimizar o risco de exposição a substâncias químicas nocivas.
Outros riscos associados ao consumo de peixes contaminados com mercúrio são o desenvolvimento de doenças renais e cardíacas. Jhones Poubel lembrou ainda que estudos sugerem o aumento do risco de câncer.
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Biólogo explica que peixe-espada ataca ao se sentir ameaçado
Reprodução Inter TV RJ
Cardume de peixe-espada ataca e fere 7 banhistas em praia de Rio das Ostras; VÍDEO
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