‘Fotos que me pagaram para editar’: como fotógrafos e designers faturam até R$ 30 mil por mês no TikTok


Profissionais aproveitam o potencial de viralização nas redes sociais para divulgar serviços e ganhar com a monetização. Alguns contratam funcionários para dar conta da demanda. Especialistas destacam a importância da regularização. Como profissionais estão faturando com edições de fotos no TikTok
Todo dia uma trend diferente. E quem acessou o TikTok ou Instagram nos últimos meses deve ter esbarrado no bordão “fotos que me pagaram para editar”.
São vídeos de editores de imagem contando dos pedidos enviados pelos seguidores para melhorar fotos de um dia especial ou de uma viagem antes de postarem nas redes sociais.
As solicitações são as mais diversas, e vão desde tirar pessoas do fundo de uma foto, melhorar a paisagem de um dia nublado, restaurar imagens antigas, juntar pessoas já falecidas, até alterar medidas corporais.
O que talvez não esteja no radar dos seguidores é que esses designers e fotógrafos estão faturando alto com esse novo trabalho. Alguns dizem ganhar mais de R$ 30 mil por mês atendendo aos pedidos dos internautas.
“As pessoas acham que sou mágica”, brinca Laura Cunha Postal, de 21 anos, que trabalha só com edições de imagens há dois anos.
LEIA MAIS
Como declarar renda obtida por ‘freelas’, trabalho autônomo ou informal?
Nanoempreendedores: novos negócios ficam isentos na reforma tributária
Profissionais de edições faturam até R$ 30 mil por mês faturam até R$30 mil por mês
Laura Postal/Julia Guinami
Natural de Chapecó (SC), ela conta que sempre sonhou em trabalhar com fotografia. “Eu sou tímida pessoalmente, então quando eu ia tirar foto não gostava de pedir para as pessoas posarem e toda essa parte do contato frente a frente com alguém.”
O segredo foi direcionar o trabalho para a edição de imagens. Foram cinco anos aprendendo sozinha, por meio de vídeos no YouTube. “Eu continuava tirando fotos, mas era para editar quando eu chegasse em casa”, conta.
Laura se mudou para Florianópolis e começou a trabalhar como social media, gerenciando as redes sociais de empresas. Quando o desemprego bateu na porta, Laura resolveu compartilhar vídeos de edições no TikTok.
“Meu objetivo, quando comecei a postar, era ver se as pessoas queriam fazer ensaios comigo. Eu não sabia que dava para trabalhar só com edições”, explica.
Não demorou muito para o quadro “coisas que me pagaram para editar” viralizar. Um dos vídeos chegou a bater 15 milhões de visualizações no TikTok e, consequentemente, a clientela começou a chegar.
Antes e depois de uma foto editada por Laura Postal, que fatura mais de R$ 30 mil por mês editando imagens dos seguidores.
Arquivo Pessoal
“Tem pedidos engraçados, e outros até criminosos, como a falsificações de documentos. As pessoas acham que eu vou fazer qualquer coisa que pedirem. Não é assim que funciona”, afirma Laura.
Hoje, ela tem uma empresa de edições de imagens e chega a faturar até R$ 30 mil por mês. Laura também conta com duas funcionárias: uma para atender aos pedidos via WhatsApp e outra para ajudar nas edições.
São mais de 40 fotos editadas por dia, com preços que variam de R$ 18 a R$ 200. O preço muda conforme a dificuldade dos pedidos. A média dos serviços fica na faixa dos R$ 40.
Além disso, a fila de espera é grande: são duas semanas de prazo para ser atendido no WhatsApp, além de 6 a 11 dias úteis para entregar.
Se bater a urgência, é preciso desembolsar uma taxa de R$ 25 para furar a fila. Há também a possibilidade de o cliente pagar R$ 60 para a entrega da imagem editada no mesmo dia.
“Eu achei o meu emprego dos sonhos. Eu sempre amei edição e sempre quis trabalhar só com isso. Estou realizada”, completa.
Laura Postal mora em Florianópolis e tem uma empresa de edições de imagens
fotografiababi/Arquivo Pessoal
🗣️ A mágica das redes
Assim como Laura, outros profissionais da aérea também estão investindo em edições de fotos para o TikTok. É o caso de Jean Lucas, de 23 anos, natural de Cascavel (PR). Ele chegou a largar a faculdade de engenharia civil para viver da fotografia.
Com mais de 340 mil seguidores na plataforma, o paranaense aprendeu a editar sozinho aos 13 anos. De lá para cá, ingressou no mundo da fotografia e nunca mais parou.
“Durante uma fase muito apertada de dinheiro, postei um vídeo no TikTok editando fotos de uma amiga para ver no que ia dar e viralizou. Então, comecei a receber muitos pedidos, e isso virou uma nova fonte de renda”, explica.
Antes e depois de uma foto editada por Jean Lucas, que chega a receber mais de 2 mil mensagens por dia com pedidos de edições.
Arquivo Pessoal
O fotografo chega a receber mais de 2 mil mensagens por dia. Para dar conta de tanta demanda, ele contratou uma funcionária que trabalha no atendimento aos clientes. Hoje, ele fatura cerca de R$ 19 mil por mês, e parte da renda vem da monetização dos vídeos no TikTok.
“O TikTok veio como uma salvação na minha vida, porque me ajuda muito, muito, mas muito mesmo. Claro que tudo depende de qual vídeo vou postar, se vai viralizar, mas o mínimo que tirei nos últimos seis meses foi R$ 4 mil”, conta.
Além da grana, muitos clientes chegam até Jean graças aos vídeos da rede social, já que boa parte dos fregueses conhecem as edições do fotografo por meio dos clipes curtos viralizados.
“Toda vez que eu posto é quando chove de pessoas. Se um vídeo bater 1 milhões de visualizações, por exemplo, pode esperar que vai passar de duas mil mensagens no dia”, afirma.
Além do WhatsApp comercial, Jean também recebe pedidos no Instagram, TikTok, e até ligações. Hoje, a fila passa de três mil pessoas e a espera é de uma semana para ser atendido.
Além de edtor, Jean Lucas também trabalha com fotografia de imagens artisticas
Jean Lucas
👋🏽 Adeus CLT?
Segundo Vanilson Coimbra, professor de fotografia publicitária no Centro Universitário Belas Artes e mestre em Design, é normal os profissionais dessa aérea divulgarem o trabalho por meio das redes sociais.
Plataformas como o TikTok oferecem ferramentas que permitem uma apresentação mais autêntica e criativa, o que cativa mais clientes. São diferentes do que se habitua a ver no LinkedIn, que é mais formal e menos adaptado ao tipo de linguagem visual que caracteriza o trabalho desses profissionais.
“A estrutura do TikTok favorece vídeos curtos e conteúdos imersivos, perfeitos para demonstrar habilidades práticas, compartilhar processos criativos e humanizar a marca pessoal do profissional”, afirma Coimbra.
“O alcance orgânico, combinado com um algoritmo que prioriza conteúdo relevante e interessante, possibilita alcançar audiências maiores e mais diversificadas”, completa o professor.
Julia Guinami, de 22 anos, tem como principal fonte de renda as edições de fotos há um ano, e também aposta no TikTok para mostrar a rotina de trabalho, em casa e por conta própria.
Julia Guinami deixou o emprego CLT para atuar somente com edições de fotografia
Arquivo Pessoal
A jovem de Birigui, no interior de São Paulo, largou o emprego de carteira assinada por não gostar da a rotina excessiva de trabalho e ver mais flexibilidade no trabalho autônomo.
“Não aguentava mais o tanto que o emprego me sugava. Eu trabalhava de segunda a segunda, não tinha descanso nenhum. Então, resolvei arrumar um trabalho por conta para fazer”, lembra.
Ex-estudante de publicidade e propaganda, Julia também começou compartilhando nas redes sociais os seus trabalhos de freelancer, que fazia como fotógrafa e editora de imagens. Não demorou para os clientes começassem a aparecer.
“Eu sempre tento manter um horário fixo. É claro que, de vez em quando, acaba não dando certo. Na maior parte das vezes eu começo às 8h da manhã, paro ao meio-dia para almoçar, volto às 13h da tarde, e depois vou até as 18h”, explica.
Hoje, ela acumula mais de 84 mil seguidores no TikTok, e tem um faturamento mensal de R$ 7 mil. Essa é única fonte de renda da Julia, de edições e da monetização da rede social.
Antes e depois de uma foto editada por Julia Guinami, que tem como principal fonte de renda as edições de fotos.
Arquivo Pessoal
❌ Sem romantização
Segundo Issaaf Karhawi, professora e pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP), essa tendência de edições de imagens não é de hoje e nasceu por meio de grupos no Facebook e threads no X (antigo Twitter), e depois migrou para o Tiktok.
“Esses designers em específicos se apropriaram muito bem da dinâmica do TikTok para falar do próprio trabalho. Nesse caso tem um casamento perfeito: impulsar o trabalho a partir da própria linguagem da rede, com humor e vídeos curtos”, ressalta.
Apesar desse “par perfeito”, a professora e pesquisadora alerta para não romantizar ou almejar um empreendedorismo que precarize a mão de obra. Por isso, Issaaf chama atenção para o trabalho “gratuito” que vem sendo feito para as plataformas.
“Quando os designers, por exemplo, dizem eles têm que fazer vídeos do TikTok caso contrário eles não vendem edição de fotos, tem um trabalho gratuito sendo feito para plataforma, ainda que o empreendedor veja isso como um benefício”, afirma Issaaf Karhawi.
Além disso, a especialista ainda destaca para os contratos “implícitos” das redes sociais. Isso porque, as plataformas se atualizam diariamente e esses trabalhadores ficam à mercê das plataformas e do funcionamento delas para sobreviver.
“Uma coisa é você divulgar o seu trabalho por meio das redes sociais, outra coisa é o que esses profissionais têm feito: eles atuam como design e tiktokers ao mesmo tempo. Então é um alargamento da prática profissional”, explica Issaaf.
“É como se eles tivessem um terceiro turno de trabalho todos os dias. A gente pode entender esse fenômeno como uma ideia de penetração das plataformas em todas as instâncias da vida, inclusive no trabalho”, completa Karhawi.
Profissionais de edições faturam até R$ 30 mil por mês faturam até R$30 mil por mês
Laura Postal/Jean Lucas/Julia Guinami
📝 Importância da regularização
Apesar de deixarem a CLT, um ponto importante levantado por especialistas ouvidos pelo g1 é a importância da regularização desses profissionais.
“Criadores de conteúdo, freelancers e influenciadores digitais, por exemplo, podem se beneficiar de diversas vantagens. Ao se formalizar, o profissional passa a ter acesso a benefícios previdenciários e cumpre todas as obrigações tributárias”, afirma Gabriel Santana Vieira, advogado especialista em direito tributário.
Além disso, o profissional pode ter um CNPJ, o que facilita a emissão de notas fiscais e abre portas para contratos com empresas que exigem formalidade. Isso agrega credibilidade e profissionalismo, além de contribuir para o crescimento do negócio.
“Um dos caminhos mais práticos e estratégicos é se registrar como Microempreendedor Individual (MEI). Além de simplificar obrigações fiscais, essa regularização garante direitos e evita complicações com a Receita Federal”, completa.
É preciso checar, claro, se os ganhos estão dentro do permitido por lei. Caso contrário, é necessário partir para a abertura de uma Microempresa (ME), que cumpre o papel de formalidade, mas exige o trabalho de um contador.
✍🏽 Dicas para quem está começando
Para quem pensa em seguir na aérea de edição de imagens, o professor Vanilson Coimbra traz algumas dicas, como:
👩🏽‍💻 Investir no aprendizado: Faça cursos e sempre esteja atualizado. O mercado criativo está em constante evolução com novas ferramentas técnicas que exige um portfólio em constante atualização.
📲 Crie uma presença online que seja capaz de ser uma extensão do seu portfólio e habilidades. Tenha um portfólio de “Instagram”, performe como um TikToker e planeje a sua carreira como profissional do Linkedin.
🤑 Aprenda a precificar seus serviços: entenda os custos do seu trabalho, o valor do seu tempo e o quanto o mercado está disposto a pagar e ajuste os preços conforme sua experiência e a complexidade do projeto.
🤔 Invista em networking: busque conexões com outros profissionais on e offline.
✅ Seja disciplinado e organizado: estabeleça rotinas e prazos mesmo trabalhando de forma autônoma, e crie um sistema eficiente para lidar com clientes, propostas, contratos e principalmente sobre as entregas.
Empreendedorismo Penitenciário: roupas de visita e “jumbo” viraram modelo de negócio
Adicionar aos favoritos o Link permanente.

Os comentários estão desativados.