Vitória espiritual de Israel e vitória política do Hamas

Pessoas saem nas ruas de Israel pedindo liberação dos refénsAFP

Por Jacob Goldberg e Daniel Leite Andrade

Jacob Goldberg é doutor em psicologia, advogado, assistente social e escritor. Em sua rede social, inclui por último – mas nada menos importante – a origem: mineiro. Um juizforano com visão de mundo.

Neste relato ao iG, feito na manhã deste domingo (19), Goldberg pontua questões cruciais a respeito dos acontecimentos de hoje, do cessar-fogo.

De início, remete ao fim. Define como “triste e doloroso” o desenrolar até aqui dos fatos.

“O cessar-fogo, na minha opinião, é o resultado triste, doloroso, pois se trata de se curvar à exigência de sequestradores e assassinos. Gostaria de fazer uma correlação com a situação brasileira, para que o leitor possa compreender a gravidade do que está ocorrendo no Oriente Médio”.

A explanação inicial faz uma correlação com momentos de negociações entre forças de segurança e criminosos, no Brasil. Goldberg reforça que a discussão sobre como proceder em casos de exigências de sequestradores, por exemplo, não é nova.

Sobre isso, destaca o entendimento de muitos da necessidade de o Estado se submeter a qualquer exigência de criminosos para salvar vítimas inocentes, evitando, assim, atos bárbaros.

“Guardadas as proporções, é isso que vem acontecendo desde o fatídico dia 07.10.2023”, reforça.

“Assassinos com a mesma disposição dos nazistas, na Segunda Guerra Mundial, se apoderaram dos corpos de jovens, crianças e idosos que participavam de um festival de música, levaram os reféns para Gaza, estupraram, mataram e exibiram o crime através de vídeos para todo o mundo, inclusive crianças, chegando ao extremo de assar o corpo de uma criança de 2 anos e informar para a mãe que iriam exibir, como o fizeram, este ato demoníaco”. – Jacob Goldberg.

“Como eu já declarei várias vezes, isto não é o resultado de uma demência sem limites. Não. Isso é o resultado frio e calculista de uma decisão política”. – Jacob Goldberg

Não trata-se de uma certeza ideológica, religiosa, política. Em sua avaliação, a tática – cruel – é pressionar a população até as autoridades não suportarem – e cedem.

“A estratégia obedece a um propósito satânico: levar as famílias das vítimas e a opinião pública de Israel a um grau de desespero que obrigasse o governo a fazer todas as ordens de concessão. Ou seja, a tática, além de tudo, tem a covardia moral. Você se apodera de uma criança para exigir que os pais paguem qualquer preço sem limite. Foi esta a realidade imposta para Netanyahu durante esses meses”.

E como poderia ter sido o combate a isso? Com uma força política – a única – advinda da maior potência das últimas décadas. Porém, os Estados Unidos, sob a administração de Joe Biden, falhou, ele diz.

“O governo de Joe Biden, o único país com força política capaz de ajudar Israel nessa trágica condição, sempre foi um governo titubeante, frágil, mesmo porque o próprio Biden, fisicamente, neurologicamente, escandalosamente, era um homem impotente, sob o ponto de vista psicológico e emocional, para enfrentar os grupos antissemitas da esquerda norte-americana”.

E prossegue.

“Ora, bastou uma frase – uma única frase – publicada no twitter pelo presidente eleito Donald Trump, dizendo que transformaria a vida dos terroristas num inferno se os reféns nao fossem devolvidos até a posse. Uma frase foi suficiente com um ultimato para que o cessar-fogo acabasse sendo imposto nesse momento”.

Na visão de Goldberg, foi uma óbvia “derrota política para Israel, que é obrigado a devolver, numa troca infame, os corpos de reféns assassinados, torturados, mutilados, estuprados de uma maneira sem precedentes na história do crime em todo o mundo, por mais de mil assassinos, numa desproporção absurda. Essa é a derrota política”.

Os resultados estatísticos das guerras – número de mortos, reféns, entre outros – não são o mais relevante, pontua. “A guerra de espírito é mais importante do que a guerra no território físico. E eu já disse e repito: essa guerra no Oriente Médio não é por terra, é uma guerra por céu”.

São dois modos de enxergar o mundo muito bem definidos.

De um lado, a concepção ocidental de democracia e de filosofia espiritual judeu-cristã. De outro, a barbárie sem limite, fanatizada, “que escravizam as mulheres, assassinam homossexuais, transformam crianças em soldados, absolutamente dispostos a morrer ‘por uma causa sagrada'”.

“Nesse aspecto, Israel faz prevalecer um princípio fundamental do judaísmo: a obrigação e o conceito de que se você salva uma vida, você salva o Universo”. – Jacob Goldberg

Ainda nessa ótica, ele recorda a devolução de Kfir Bibas e Ariel, como demonstração de que o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu está tomando “a única atitude cabível nesse momento”.

“Mas não existe dúvida nenhuma, na minha opinião, de que é só uma batalha e só uma concessão. Sem dúvida nenhuma, creio eu, a guerra vai continuar, porque foram soltos milhares de assassinos terroristas, e o Hamas tem a sensação de ter tido uma vitória política, e vai faturar para continuar recebendo os bilhões de dólares que, através da ONU, países com regimes antissemitas, principalmente europeus, sempre drenaram para aquela região. Bilhões de dólares que não vão para o povo miserável de Gaza, povo esse que é tão vítima do Hamas quanto Israel”. – Jacob Goldberg.

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